Enterro do estudante Guilherme Henrique Pereira de 14 anos, morto perto da Vila Vintém por um carro que passou atirando - Maíra Coelho / Agência O Dia.
Enterro do estudante Guilherme Henrique Pereira de 14 anos, morto perto da Vila Vintém por um carro que passou atirandoMaíra Coelho / Agência O Dia.
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Sob forte emoção, familiares e amigos se despediram do adolescente Guilherme Henrique Pereira, na manhã desta sexta-feira, no Cemitério de Irajá, Zona Norte da cidade. O menino de 14 anos foi morto, na noite de quarta-feira, na calçada da Rua Marechal Falcão da Frota, na Vila Vintém. Ele foi atingido por disparos feitos por bandidos que estavam em um carro cinza na via do bairro de Realengo, na Zona Oeste.   

"Eu te amo tanto, meu principezinho. Por que fizeram isso com você?", indagou a mãe do adolescente, Marly Pereira, que deu um beijo de despedida na testa do menino quando abriram o caixão para os familiares prestar as últimas homenagens. Sobre o menino havia uma carta escrita pela irmã, uma pipa e a camiseta da escola assinada pelos amigos do jovem. "Você não merecia que fizessem isso, meu anjinho. Ai, meu Deus", disse emocionada a dona de casa, de 48 anos. 

De acordo com o pai do estudante, o cozinheiro Roberto Carlos Natal, a Polícia Civil ainda não procurou a família para falar sobre o andamento da investigação. "Só o PM de plantão do hospital que fez a ocorrência que me procurou. Eles não conseguem investigar a morte dos próprios policiais, imagina a morte de um pobre", declara o pai. "Eles não se importam com nós pobres", completa. 

 

Enterro do estudante Guilherme Henrique Pereira de 14 anos, morto perto da Vila Vintém por um carro que passou atirando - Maíra Coelho / Agência O Dia.

A mãe de Guilherme pede que a Justiça seja feita. "Eu quero que descubram quem fez isso com o meu filho", cobra Marly. "O sonho dele era ser mecânico e estudar engenharia", lembra emocionado o pai do adolescente, que foi sepultado às 11h20, em meio a gritos, fogos e até mesmo tiros, na comemoração do dois gols do Brasil, na Copa do Mundo. 

Amigos do garoto soltaram pipa, enquanto era realizado um ato ecumênico no cemitério. "Ele era apaixonado por pipa. A irmã dele, que está muito arrasada, trouxe uma pipa para deixar em cima do caixão", conta Agnaldo, de 66 anos. 

Tatiana Araújo, madrinha do adolescente, diz que os irmãos de Guilherme, um rapaz de 17 e uma menina de 10 anos, estão inconsoláveis. "Minha comadre também está muito arrasada. O meu afilhado era muito prestativo", revela. De acordo com ela, a família tem dificuldades em conseguir imagens de segurança da região, que poderiam identificar os criminosos que atiraram contra o estudante. "Ele pediu para andar de bicicleta, a mãe não queria, mas ele insistiu tanto. Como ele era vaidoso, ele pegou o dinheirinho e foi até barbearia. Ele era muito vaidoso no dia anterior ele nem tinha ido a escola porque o cabelo estava grande", recorda.  

Professores e vizinhos do adolescente também estão presentes no local para se despedir de Guilherme. "Eu só tenho lembranças boas, ele era meu amigo, a gente soltava pipa junto. Eu sou ambulante e sempre deixava um doce toda vez que ia trabalhar. Vou guardar todas essas lembranças comigo", afirma Matheus Paixão, que chorou muito ao falar do amigo. 

Enterro do estudante Guilherme Henrique Pereira de 14 anos, morto perto da Vila Vintém por um carro que passou atirando - Maíra Coelho / Agência O Dia.

O fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, também esteve no enterro para prestar solidariedade à família de Guilherme. "Em 24 horas, duas crianças mortas. Isso é um completo descontrole. A sociedade desconhece as metas da atual política de segurança pública, não tem acesso a nenhum cronograma. Este ano, oito crianças tiveram este triste destino. Vítimas de bala perdida, que causa a mais profunda indignação", diz Antônio. "Por trás dessa cultura de morte, há a cultura da impunidade. O Brasil é um país que prende muito e prende mal. Prendem ladrão de galinha e deixam soltos esses facínoras", conclui. 

Segundo o pai, o filho havia saído de bicicleta para cortar o cabelo em uma barbearia. Como o local estava fechado, retornou para casa, momento em que o carro passou atirando, ferindo também seu amigo, o adolescente Matheus Atheus de Pereira de Azevedo, de 16 anos. "Um motoqueiro passou pela via reconheceu o meu filho caído e me avisou. Eu mesmo socorri, coloquei o Guilherme dentro do carro e fomos para o hospital", afirma. "Tão bom para mim, tão carinhoso. Eu nunca vou aceitar isso", disse a mãe ao se despedir do filho. 

 

 

 
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