Fabiana Cozza foi criticada por ser branca demais para o papel. Cantora, que se considera negra, decidiu sair da peça para dar espaço a uma cantora de pele mais negra que a sua Reprodução facebook
Por O Dia
Publicado 03/06/2018 16:02 | Atualizado 03/06/2018 21:31

Rio - Após ser escolhida para viver a grande dama do samba no musical “Dona Ivone Lara - um sorriso negro”, a cantora paulista Fabiana Cozza decidiu renunciar ao papel por conta de críticas por ser “branca demais” para compor a personagem.

No post compartilhado pela artista no dia 30 de maio, onde anunciava o seu mais novo trabalho, os comentários críticos à sua decisão não demoraram a aparecer.

"Parem de embranquecer nossa negritude", "Essa alegria e honra deveriam ser demonstradas respeitando a memória de Dona Ivone, que tinha a pele RETINTA" e "Vc não é branca, fato. Mas não é honesto da sua parte interpretar uma mulher preta retinta como Dona Ivone! Vergonhoso. Espero que não haja aquela make escurecedora de pele…", foram alguns dos comentários compartilhados.

Dona Ivone Lara Reprodução facebook

O post de renúncia, publicado neste domingo, também sofreu fortes críticas: "Não fez mais do que a sua obrigação em renunciar. Poderia ter tido bom senso, auto reflexão e apenas pedido desculpas e não ter feito um textão reproduzindo ainda mais o racismo e se colocando como vitima de outras pessoas pretas... Qual é a sua parte Preta afinal? Nesse texto eu só vi a parte branca", disse uma internauta. "‘Fui dormir preta e acordei branca...isso eh impossivel! Vc foi dormir branca e acordou branca", "Fez muito bem em renunciar, pois é fato que Dona Ivone merece ser representada por uma negra retinta, como ela, tão orgulhosa de sua raça", criticaram internautas. 

Na opinião de Frei David Santos, diretor da ONG Educafro, o debate é oportuno porque "discute-se o privilégio de ser pardo no cenário onde o povo negro começa a ter espaço". "A soma de preto e pardo é o que convencionamos com o IBGE de chamarmos de negros. Nós pardos somos negros, mas não somos pretos. Se não abrirmos nossa mente crítica, seremos usados para escamotear a opressão aos pretos", avaliou Frei David, que elogiou a atitude da cantora de renunciar ao papel. Tanto o post de renúncia como o de 30 de maio tiveram, além das críticas, mensagens de apoio à cantora também.

O musical está previsto para entrar em cena a partir de 14 de setembro, no Teatro Carlos Gomes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Veja a íntegra da publicação onde Fabiana Cozza renuncia ao papel. 

 

 

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