Montanha de escória chega a 20 metros de altura no municípioFernanda Dias
Por FRANCISCO EDSON ALVES
Publicado 20/06/2018 03:00 | Atualizado 20/06/2018 07:49

Rio - A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) admitiu que está tentando passar para órgãos públicos parte da escória que ela acumulou em depósito no bairro Brasilândia, em Volta Redonda, Sul Fluminense. De acordo com denúncia da ONG Associação Homens do Mar (Ahomar), aceita pelo Ministério Público Federal (MPF-VR), e objeto de inquérito, que corre em segredo de Justiça, a montanha de rejeitos está fora de controle, e causa sérios transtornos a cerca de 15 mil moradores, em pelo menos outros seis bairros também, conforme o DIA vem mostrando.

Em nota, a siderúrgica informou que o subproduto do aço, fabricado em seus Altos-Fornos e Aciaria, pode ser usado na recuperação de estradas vicinais. A escória está estocada numa Área Permanente de Proteção Ambiental (APP). A medida seria uma forma de tentar minimizar transtornos provocados pela montanha de rejeitos.

A Ahomar acusa a CSN e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ), que há oito anos analisa pedido de Licença de Operações da Harsco multinacional que explora o estoque por "suposta conivência" com a situação. O acúmulo do material, usado na indústria cimenteira, que já alcança mais de 20 metros de altura, mudou a paisagem do Brasilândia e dos bairros Volta Grande 2 e 4, São Luiz, Caeira, Nova Primavera e Complexo do Santo Agostinho. Problemas respiratórios e alérgicos são comuns entre os moradores.

Por estar a menos de 50 metros de distância do Rio Paraíba do Sul, conforme a denúncia, o depósito tornou-se ameaça iminente ao manancial, que abastece pelo menos 12 milhões de consumidores na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Na nota, CSN admite que "está em tratativas com órgãos públicos para a doação de parte do material, para recuperação de estradas vicinais no Rio de Janeiro".

Para a bióloga Adriana Vasconcellos, presidente da Comissão Ambiental Sul, formada por líderes comunitários, a nota da CSN é uma espécie de "confissão de culpa". "Demonstra que a empresa admite, indiretamente, que a situação está completamente fora de domínio. As fotos publicadas pelo jornal O DIA comprovam claramente. Esperamos que a Justiça se atente a isso", afirmou.

Na mesma nota, a CSN garante que a escória que segundo especialistas contém substâncias nocivas, como manganês, zinco, cádmio, cromo, níquel, chumbo e cal virgem , não é tóxica. "O material não é perigoso, conforme classificação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Ténicas). A Hasrco possui licença ambiental válida para operar no local (situação conhecida como 'limbo legal', que faz a movimentação diária de estimados 100 caminhões de escória ser tolerada judicialmente).

Pó preto acabou com horta
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Na mesma nota, a CSN garante que a escória "não é perigosa", conforme classificação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). "No processo de beneficiamento, a parte metálica do material é separada e volta ao processo siderúrgico. O que sobra é estéril, incapaz de contaminar o meio ambiente ou saúde", ressalta o texto, dizendo estranhar que a ONG Ahomar, "até então com histórico de atuação na Baía de Guanabara, tenha passado a se preocupar com supostas situações ambientais em Volta Redonda".
Mas basta dar uma volta no entorno da pilha de rejeitos para constatar problemas com o pó preto. Desolado, o metalúrgico aposentado Sebastião Alves Perina, de 64 anos, mostra as folhagens do pé de laranjeira que tem no quintal, tomadas pelo pó. "Tive que acabar com minha horta, pois não tem como comer produtos impregnados desse material esquisito", lamenta.
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No bairro Volta Grande 4, na casa do bombeiro Dione Passos, de 29 anos, e Keila, 36, o uso de nebulizador pela filha caçula, Milena, de apenas cinco meses, virou rotina. "Os médicos acreditam que seja da poeira, que infesta nossa residência, a 50 metros do monte de escória", lamenta Dione.
Amanhã, deputados das comissões de Saneamento Ambiental, de Saúde e de Meio Ambiente vão ao INEA pedir a interdição do depósito.
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