Rio - Depois que uma linha de ônibus foi extinta, a assessora Mariana Totino, de 27 anos, passou a contar apenas com uma opção para voltar para casa. O trajeto fica na Zona Norte: de Vaz Lobo, onde visita os tios regularmente, para a casa onde mora, em Madureira. Mas o coletivo que restou demora até uma hora para passar. A assistente social Glaucia Marinho, de 31, não dirige mais à noite. Moradora de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ela conta que tomou a atitude após ter tido o carro roubado. A mãe, a irmã e a filha também estavam no veículo, que não tinha seguro. Seja pela carência de oferta no transporte público ou por medo da violência, as duas passaram a se locomover de Uber.
Segundo a empresa, esse tipo de história é mais comum do que parece. E justifica o aumento significativo do uso do aplicativo no país. Com a expansão de usuários em áreas afastadas das regiões centrais das grandes cidades, a média de viagens mais que quadruplicou entre junho de 2017 e fevereiro deste ano, de acordo com a empresa. Nesse intervalo de oito meses, foram de 62,5 milhões a cada 30 dias (veja no infográfico ao lado). É o equivalente a 2 milhões de deslocamentos por dia. Para se ter uma ideia, cerca de 1,5 mil usuários utilizam o aplicativo para se locomover por minuto.
No Rio, o fenômeno está ligado às opções mais restritas de transporte público em regiões afastadas do Centro e da Zona Sul. "Sempre que começamos a atuar em alguma cidade, procuramos maneiras de contribuir para o seu desenvolvimento. Em relação ao transporte público, funcionamos como um complemento. Especialmente à noite, quando diminuem as opções. Além disso, há áreas mais afastadas em que o transporte público ainda não chega. A gente consegue suprir essa lacuna", diz Henrique Weaver, gerente-geral da Uber para o Rio.
Aliás, a combinação entre a falta de opção de transporte público e o aumento da violência aparecem juntos, contribuindo para o crescimento do uso do aplicativo. Para Mariana Totino, citada no começo da reportagem, a espera pelo único ônibus que restou na volta para casa representa um risco. "Eu costumo me deslocar um pouco mais tarde. Nessas ocasiões, prefiro pegar um Uber, pois tenho o receio de ficar muito tempo esperando na parada. O ponto fica na Avenida Edgard Romero, onde há muitos casos de assalto", explica Mariana.
Opção econômica
Gláucia, que deixou de dirigir à noite justamente com medo de voltar a ser vítima da criminalidade, também justifica a opção pelo aplicativo à carência de transporte público em Nova Iguaçu, onde mora. No caso dela, o preço cobrado pela viagem é quase o mesmo em comparação ao valor pago ao pegar dois ônibus para visitar a família, no bairro Rancho Novo. "Além da rapidez e do conforto, estou acompanhada por um motorista. Isso dá mais tranquilidade. Se fosse de ônibus, ainda teria que caminhar por um túnel que é muito perigoso. Prefiro pegar um Uber e ir direto", justifica Gláucia, que mora no bairro Moquetá, a cerca de três quilômetros do bairro Rancho Novo.
Para ir até o Centro de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, o auxiliar administrativo Marcelo da Silva, de 51 anos, também pensa no custo-benefício. Morador do sub-bairro Débora 1, ele só encontra opção de ônibus na Estrada da Posse. Até lá, precisa caminhar cerca de 15 minutos. "Costumo ir com a minha esposa ao Centro até três vezes por semana. O preço de duas passagens é quase o mesmo da Uber. Ainda fico menos exposto, pois deixo de caminhar pelo trecho entre minha casa e o ponto de ônibus, que costuma ter assaltos, principalmente à noite", relata Marcelo da Silva.
Comentários