Deisson Rodrigues Silva, de 25 anos, é músico e mora no Santa Marta. Ele participa do projeto social que ensina instrumentos de orquestra a crianças carentes da comunidade, que teve a aula interrompida pelos tiros - Cassio Bruno / Agência O Dia
Deisson Rodrigues Silva, de 25 anos, é músico e mora no Santa Marta. Ele participa do projeto social que ensina instrumentos de orquestra a crianças carentes da comunidade, que teve a aula interrompida pelos tirosCassio Bruno / Agência O Dia
Por CÁSSIO BRUNO

Rio - O tiroteio desta quarta-feira no Morro Santa Marta, em Botafogo, mudou a rotina de moradores do local e redondezas. E alguns ficaram na linha de tiro. Um disparo atingiu a janela da casa que abriga um projeto social que ensina jovens da comunidade a tocar instrumentos musicais de orquestra. Os alunos esperavam o início das aulas quando começou o confronto. Ninguém ficou ferido.  

O aluno Deisson Rodrigues Silva, de 25 anos, toca violino desde os 12 e nesta manhã se preparava para mais uma aula quando começaram os tiros. "Eu já estou acostumado (com o tiroteio). Quando isso acontece, eu fico quieto em casa, mas hoje a aula foi interrompida", contou o jovem.

Deisson largou há quatro meses o emprego de entregador em um supermercado de Ipanema, também na Zona Sul, para viver da música. Ele, que mora com a mulher e o filho de 5 anos no Santa Marta, faz apresentações em festas de casamento e de 15 anos. 

Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local realizam uma operação desde o início da manhã e, às 9h10, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, também iniciou uma ação na comunidade. Moradores relataram a rotina em meio ao tiroteio, que interrompeu vários serviços na comunidade.

O tiroteio começou por volta de 6h30 e durou cerca de meia hora, causando pânico em quem passava pela Rua São Clemente e nas ruas de acesso à comunidade. A rotina de quem chega ou precisava sair da comunidade também foi completamente alterada. Uma pessoa foi detida na entrada do Santa Marta e levada para a 10ª DP (Botafogo) para averiguação. No alto do morro funcionam duas creches filantrópicas e uma Faetec. Pelo menos uma das unidades, que atende 60 crianças de seis meses a 3 anos, não funcionou.

"A sensação é de medo e incapacidade", reclamou a professora da creche Santa Marta Juliane Colino, de 26 anos, que não conseguiu entrar no morro por conta do tiroteio. A balconista Cristiele Ferreira Gonçalves, de 38 anos, que mora no Cosme Velho, ficou impedida de deixar a filha de 2 anos na escola ou com os avós no local e teve que levá-la para o seu trabalho. Ela conta que é a segunda vez que passa por essa situação.

"A primeira vez foi há um mês, minha filha e outras crianças tiveram que ficar escondidas em uma sala para escapar dos tiros. A gente não sabe o que fazer nessas horas por causa da violência. Espero que tudo se acalme", disse.

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