Última foto de José com a família, na primeira comunhão do filho - Reprodução
Última foto de José com a família, na primeira comunhão do filhoReprodução
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A família do ambulante José Carlos de Jesus de Almeida, de 45 anos, morto após ser atingido por uma bala perdida durante um tiroteio entre policiais e bandidos em Manguinhos, na Zona Norte do Rio, na noite de sexta-feira, acusa a Polícia Militar pela morte do homem. Na manhã deste sábado, parentes e amigos estiveram no Instituto Médico Legal (IML), na Região Central do Rio, para liberar o corpo, que será levado ainda hoje para Jequié, a 365 km de Salvador, na Bahia, onde deverá ser enterrado no domingo. José Carlos vivia no Rio há 17 anos.  

O fogo cruzado aconteceu em uma rua sem saída, próximo à Avenida dos Democráticos, onde há uma vila de moradores, muitos da mesma família, por volta das 19h. A cunhada da vítima, Maria Joaquina Duarte, viu tudo e contou como foi o incidente. De acordo com ela, quando começaram os tiros, ela estava em casa e correu para retirar as crianças — as filhas de 4 e 5 anos e a sobrinha de 6 anos, filha de José Carlos — do carro. Já o ambulante não conseguiu se esconder e foi baleado quando tentava sair do veículo e morreu na hora.

"Ele chegou do trabalho e foi abastecer o carro. Horas antes já havia tido um tiroteio. Parou e logo em seguida ele, e as crianças, que são muito apegadas saíram. Da nossa casa até o posto de gasolina é a metros. Após isso, ele voltou. Do nada começou o tiroteio recomeçou e corri para tirar as crianças do carro. Quando ele ia saindo, ele tomou um tiro nas costas", disse ela.

Segundo amigos e parentes da vítima, a PM foi a culpada pela morte do homem. "Moramos em uma rua sem saída. Nunca teve esse tipo de confronto. Ele estava tirando as crianças de dentro do carro. As minhas filhas estavam lá. Uma criança daquelas poderia ter sido vítima do despreparo daquele PM. O tiro pegou ele de um ângulo que o militar estava. Tem que ter um protocolo para a Polícia Militar e eles tem que seguir", diz o concunhado Wilton Barbosa, 48.

Muito abalada, Ana Beatriz Almeida, a mulher do ambulante esteve no IML e não conseguiu falar com a imprensa. Maria Joaquina Duarte disse que antes do cunhado morrer "foram cinco minutos de horror" "Foi uma covardia contra nós. Eles atiraram covardemente. O meu cunhado não teve tempo nem de ser socorrido. Não é porque moramos em uma comunidade que somos bandidos", diz a mulher. "A PM do Rio de Janeiro é preparada para matar", completa.

Durante a troca de tiros, uma outra pessoa, Sandro Alberto Ferraz Pereira, 43, acabou sendo baleado e foi levado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Manguinhos. No local, o homem passou por atendimento e foi liberado. Um PM também foi atingido por estilhaços, foi levado para o Hospital Federal de Bonsucesso e liberado após receber atendimento. Quatro parantes de José prestaram depoimento, ainda ontem, na Delegacia de Homicídios (DH) da Barra. Procurada, a Polícia Civil não comentou sobre o caso.

Homem trabalhador e que tinha o sonho de tirar uma carteira de habilitação

Em 2001, José Carlos de Jesus de Almeida deixou a pacata cidade de Jequié, no interior da Bahia, para tentar a vida no Rio. Desembarcou na Rodoviária Novo Rio e seguiu direto para a comunidade de Manguinhos. Lá teve os dois filhos e construiu família. Trabalhando em comércio, há três anos o homem ficou sem emprego. Para não deixar faltar nada para a família ele foi trabalhar de auxiliar de barraqueiro, na Barraca da Leda", no Posto 6, em Copacabana. "Ele era muito trabalhador. Nunca deixou faltar nada para a família", diz Wilton. De acordo com os parantes, os dois filhos de José só choram desde a morte do pai. Segundo a cunhada de José Carlos, o sonho era tirar carteira de habilitação. "Ele perdeu o emprego e por isso não conseguiu realizar o sonho", lembra.

Última foto ao lado da mulher e dos filhos

A última fotografia de José ao lado da família foi na manhã do último sábado durante a primeira comunhão do filho, de 9 anos. A fotografia foi tirada na Paróquia Santa Bernadete, em Higienópolis. Segundo parantes, ele estava muito feliz pelo filho. Após a missa, houve uma confraternização da casa dos parantes.

Você pode gostar