Ryan sonhava em ser jogador de futebolReprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO
Publicado 19/07/2018 03:00 | Atualizado 19/07/2018 06:56

Rio - O cabo PM Pedro Henrique Machado de Sá, 35 anos, suspeito de matar com um tiro o adolescente Ryan Teixeira do Nascimento, 16, é considerado violento e 'brigão' onde morava, em Magalhães Bastos. Diversos vizinhos disseram que não foi a primeira vez que ele disparou sua arma na rua. Agentes da Polícia Civil disseram ainda que vão investigar uma denúncia de moradores de que o militar já teria atirado em um homem da região.

A avó de Ryan, Luciléia Silva, lembra o caso e acrescenta que o morador atingido pelo PM acabou perdendo a perna. Procurada, a PM não confirmou as acusações dos moradores e familiares nem se o cabo Pedro Henrique já respondeu a inquérito ou foi acusado desses crimes.

Quadra atrás do Centro Municipal de Saúde, onde Ryan (no detalhe) jogava futebol com os amigosArmando Paiva

Uma dona de casa do bairro, que pediu para não ser identificada, afirma que o PM agrediu, há alguns anos, com tapas e socos um cadeirante que estava na rua onde Ryan foi morto. "Ele bateu muito no rapaz. Deu tapa na cara e foi muito covarde. Depois, entrou para casa como se não tivesse acontecido nada."

O policial é casado e tem três filhos, dois deles com necessidades especiais. Nesta quarta-feira, enquanto o pai de Ryan esperava a liberação do corpo do filho, o cabo entrou pelos fundos do IML para fazer o exame de corpo de delito e não encontrar a família da vítima. O PM foi levado para o Batalhão Especial Prisional (BEP), em Niterói.

Ao DIA, a Corregedoria da PM disse que acompanha o caso e instaurou um Inquérito Militar (IPM) para investigar o fato. Hoje haverá uma audiência de custódia e a defesa vai pedir o relaxamento da prisão do PM.

Bom aluno, menino queria ser jogador de futebol

Cursando o 1º ano do Ensino Médio no Ciep Aspirante Francisco Mega, Ryan era bom aluno, tirava boas notas e tinha o sonho de ser jogador de futebol. No dia que foi morto, o adolescente estava com o uniforme da Escolinha de Futebol do Professor Biju, projeto social do bairro, da qual ele treinava como atacante às terças e quintas-feiras e aos sábados.

Ryan sonhava em ser jogador de futebolReprodução Facebook

Sentado, cabisbaixo e sem acreditar na tragédia que aconteceu, Alberto lembra os últimos momentos que falou com o filho, que há cinco meses mora com mãe a duas quadras da clínica, em Magalhães Bastos. "A última vez que vi meu filho foi na quinta-feira passada. Tínhamos costume de nos falar todos os dias por telefone."

Apaixonado pelo Flamengo, a vontade do jovem era se tornar profissional. "Ele queria aparecer nas páginas dos jornais como atleta. Como jogador de futebol. Agora, ele vai aparecer não nas páginas de futebol mas nas páginas policiais", disse uma amiga de Ryan.

Nesta quarta, Alberto da Silva do Nascimento não teve coragem de enfrentar a dor de perder o filho e fazer o reconhecimento do corpo. A missão ficou para um tio de Ryan. Cursando o 1º ano do Ensino Médio no Ciep Aspirante Francisco Mega, Ryan era bom aluno, tirava boas notas e tinha o sonho de ser jogador de futebol. No dia que foi morto, o adolescente estava com o uniforme da Escolinha de Futebol do Professor Biju, projeto social do bairro, da qual ele treinava como atacante às terças e quintas-feiras e aos sábados.

Sentado, cabisbaixo e sem acreditar na tragédia que aconteceu, Alberto lembra os últimos momentos que falou com o filho, que há cinco meses mora com mãe a duas quadras da clínica, em Magalhães Bastos. "A última vez que vi meu filho foi na quinta-feira passada. Tínhamos costume de nos falar todos os dias por telefone."

Apaixonado pelo Flamengo, a vontade do jovem era se tornar profissional. "Ele queria aparecer nas páginas dos jornais como atleta. Como jogador de futebol. Agora, ele vai aparecer não nas páginas de futebol mas nas páginas policiais", disse uma amiga de Ryan.

Ontem, Alberto da Silva do Nascimento não teve coragem de enfrentar a dor de perder o filho e fazer o reconhecimento do corpo. A missão ficou para um tio de Ryan. A arma do policial, uma pistola foi apreendida e uma perícia será feita. Durante o depoimento formal, o PM ficou calado e não confessou o homicídio do jovem de 16 anos.

Tiro 'para parar algazarra'

Segundo agentes da Civil, o PM, teria dito informalmente aos policiais na delegacia que atirou contra Ryan e seus amigos "para acabar com a algazarra" dos jovens no telhado da Casa Municipal de Saúde Boanerges Borges da Fonseca. Ele foi preso em flagrante em sua casa, que fica na Rua Laranjeiras do Sul. Segundo depoimentos de três testemunhas, o PM disparou seis vezes em direção aos jovens.

De acordo com a Delegacia de Homicídios (DH), Pedro Henrique trabalha no 22º Batalhão da PM (Maré) e estava de folga. Ele teria afirmado ainda aos policiais que deu apenas um tiro e entregou a arma do crime. Um disparo atingiu as costas de Ryan, que morreu no local. Na parede da clínica, era possível ontem ver pelo menos uma marca de tiro.

O enterro de Ryan, será no final da tarde desta quinta-feira no Cemitério de Ricardo de Albuquerque. A polícia indiciou o cabo por duas tentativas de homicídio e por homicídio doloso, já que Ryan estava com mais dois amigos no telhado. O militar já tinha anotação criminal por ameaça, ocorrida em 2009.

Familiares Ryan e a vizinhança estão chocados com tanta brutalidade. O pai do menino, o oficial de rede de telefonia Alberto da Silva do Nascimento, de 38 anos, contou que, por volta das 22h30 da terça, a mãe do menino ligou para ele para avisar que o filho ainda não tinha voltado pra casa, que fica a duas quadras da clínica. "Quando cheguei lá, um menino estava tentando tirá-lo do telhado", diz. "Eu não tive forças para vê-lo dentro de um saco preto e nem saindo do rabecão. Ele era melhor coisa que eu tinha", desabafou Alberto.

Suellen Cristine Nascimento, 19, irmã de Ryan, disse que a mãe está a base de remédios. "Minha mãe passou gritando aqui na rua na hora: 'meu filho, meu filho!'. Eu gritava pelo nome dele. Durante todo o tempo ele estava no telhado e, de repente, ele até estava tentando dizer alguma coisa, mas não conseguia", lamentou Suellen.

Um adolescente de 17 anos, colega da escolinha de futebol e que estava com Ryan na hora do crime, contou que eles tinha saído do treino e estavam brincando. "No dia tivemos apenas treino físico. Quando acabou, por volta de 20h30, o professor falou que era para irmos embora. Mas fomos beber água na clínica e decidimos brincar de pique esconde lá. Ele (o Ryan) e outros dois amigos subiram no telhado e ficaram zoando. Então, ele saiu de casa atirando. Disparou umas seis vezes", afirmou o adolescente, lembrando que os tiros foram por volta das 22h30.

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