Maicon foi agredido em jogo de futebol contra alunos da PUC e registrou o caso na DPMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por ADRIANA CRUZ
Publicado 22/07/2018 03:00 | Atualizado 22/07/2018 09:38

Rio - Ofendidos por causa da cor, raça, etnia e religião cada vez mais transformam a dor em força motriz em busca por justiça. Quem luta contra esse tipo de violência alerta, no entanto, que o crime de injúria por preconceito, criado em 2003, coloca na penumbra o racismo que tem como ferramenta de combate a Lei Caó, de 1989. Levantamento do Tribunal de Justiça, a pedido do DIA revela que se, em 2013, havia 327 ações, com 29 condenações, por injúria de preconceito, no ano passado foram levados ao Judiciário 1.108 casos (alta de 238%), com 257 punições. Por outro lado, processos relacionados ao crime de racismo alcançaram 25 registros, em 2013, e caíram para 22, em 2017, com apenas seis condenações nos últimos quatro anos.

De início, o delegado é o responsável por enquadrar como injúria ou crime racial, mas o promotor pode mudar isso. A pena para o primeiro varia de um a três anos. Já no segundo, pode chegar até a cinco anos.

"Quando alguém chama o outro de macaco coloca todo mundo naquela categoria, no mesmo barco. O crime de injúria descaracterizou a Lei Caó. Mas tem um projeto em tramitação na Câmara dos Deputados que leva tudo de volta para a Lei Caó", avalia o advogado Rodrigo Mondego. Que vai ainda mais longe: "Imagina quando a Titi, filha do Bruno Gagliasso, foi atacada, todas as crianças com aquelas características também foram. Em tempos de redes sociais, tudo é potencializado."

O presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogado do Brasil do Rio, Breno Melaragno, explica que a abrangência das leis são diferentes. Ele esclarece que a injúria racial ofende a honra de alguém com relação à raça, cor, etnia, religião ou origem. O crime de racismo atinge a coletividade e é inafiançável e imprescritível (sem prazo para o estado punir). "A Lei Caó quis abranger os detalhes", explicou.

A última terça-feira não sai da cabeça da atriz e ativista Dani Ornellas, de 40 anos, vítima de injúria racial e intolerância religiosa. Ela foi interrompida pela proprietária da casa onde mora, em Santa Teresa, quando ouvia cântico de candomblé durante oração para Xangô, com o filho, de sete anos. "Ela disse que era música de preto da macumba", relembrou. Dani registrou na 7ª DP (Santa Teresa), mas desabafou: "Se você não se colocar bem na hora de denunciar, é minado no olhar. Conheço muita gente que não registrou queixa".

'Tem que haver conscientização'
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Governo quer padronizar atendimento
União de esforços para auxiliar servidores públicos a atender as vítimas de injúria de preconceito ou racismo. É o que defende a subsecretária de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania, Aline Inglez. "Há tendência a se registrar casos de racismo como injúria racial", analisou. No ano passado, a pasta e a Secretaria de Segurança desenvolveram o aplicativo ValoraSeg para padronizar atendimento de policiais às vítimas de crimes associados a criança e adolescente; mulheres; LGBT; idosos, intolerância religiosa e discriminação racial.
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Para Fabiano Monteiro, antropólogo e professor da UFF, que acompanha os dados do Instituto de Segurança Pública, o aumento dos casos demonstra maior acesso à justiça. "Mostra que as pessoas estão mais motivadas. Daqui a 50 anos a dinâmica poderá ser outra, como ocorreu na década de 70 com o aumento dos casos de divórcio", explicou. Segundo ele, de 2006 a 2016, foram 14.087 registros em delegacia, dos quais 13.617, por injúria de preconceito e 469 da Lei Caó.
"O aumento decorre da conscientização quanto à gravidade das condutas. Nos crimes praticados pela internet, há produção de provas", diz o promotor Luís Otávio Figueira, que atua contra as infrações na rede.
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