O subtenente do Exército Marco Antonio Gomes Sacramento, conhecido como Sub, foi preso na operação contra a milícia de Ecko e sua franquia em Itaguaí. Militar é braço-direito do PM que atua na milícia de EckoDivulgação
Por Maria Inez Magalhães e Rafael Nascimento
Publicado 02/08/2018 06:49 | Atualizado 02/08/2018 16:04

Rio - A Polícia Civil realiza nesta quinta-feira, junto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), uma megaoperação, batizada de Freedom, contra o grupo de milicianos que atua na Zona Oeste da capital e em Itaguaí. Os agentes estão em Campo Grande, Cosmos, Santa Cruz e Paciência e no município da Região Metropolitana do estado. O objetivo é cumprir 42 mandados de prisão e 90 de busca e apreensão contra a Liga da Justiça, liderada por Wellington da Silva Braga, o Ecko. Até 12h, nove tinham sido cumpridos pelos agentes e quatro pessoas foram presas em flagrante. O subtenente do Exército Marco Antonio Cosme Sacramento, 47 anos, conhecido como Sub, foi um dos presos de hoje. Doze pessoas foram presas no decorrer das investigações.

O militar do Exército, preso em Campo Grande, já respondeu em 2010 por crimes de milícia e homicídio em Guaratiba.  Ele é braço-direito do PM Antônio Carlos de Lima, o Sargento Antônio, Toinho, Brow ou Mestre, que é lotado no batalhão de Santa Cruz (27º BPM) e umas da lideranças da milícia de Wellington da Silva Braga, o Ecko. Ambos estão foragidos. Também é procurado o ex-soldado da Polícia Militar Carlos Eduardo Benevides Gomes, o Cabo Bené, são alvos da operação, denominada Freedom.

Em nota, a Polícia Militar disse que o sargento Antonio está de licença médica para tratamento de saúde. "Há procedimentos investigatórios sobre a conduta do policial, inclusive na própria corporação", disse a corporação.

O subtenente do Exército era dito na Força Armada como exemplar, com ótimas avaliações e já atuou em diversas unidades do país, ganhando inclusive quatro medalhas pelos serviços prestados. Na quadrilha, segundo a polícia, Sub era responsável pelas finanças da quadrilha e por emitir ordens do Sargento Antonio para intimidar quem devia a milícia. O Comando Militar do Leste (CML) disse que o Exército Brasileiro estava ciente da investigação, que foi conduzida integralmente pela Polícia Civil do Estado do Rio.

"Foram fornecidas todas as informações requeridas. O militar encontra-se preso em organização militar carcerária, à disposição da Justiça Comum. Cabe reiterar que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de irregularidade ou conduta ilícita, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei, com valores militares ou com ética castrense", diz o posicionamento.

PM Antônio Carlos de Lima, o Sargento Antônio, Toinho, Brow ou Mestre, é lotado no batalhão de Santa Cruz (27º BPM) e apontado como umas da lideranças da milícia de EckoReprodução / Divulgação

Os agentes estiveram na casa de Bené em Paciência, na Zona Oeste, mas ele não foi encontrado. Diferente de outras residências simples da região, o local onde a Polícia Civil diz ser o endereço do "Cabo Bené" conta com um grande aparato de segurança. Câmeras de segurança foram instaladas na entrada do imóvel.

Na rua, movimentada por conta de uma escola municipal, moradores evitam falar sobre o vizinho miliciano. Um carro, uma moto e uma arma foram apreendidas na casa, além de uma espécie de porrete com pregos e uma espada, armas usadas para intimidar. A Corregedoria da Polícia Militar já abriu um procedimento em 2008 para investigar a sua ligação com a milícia. Ele foi expulso no mesmo ano.

Porrete e espada achados na casa do Cabo Bené, ex-PM envolvido na milíciaEstefan Radovicz / Agência O Dia

A investigação que deram origem à operação de hoje durou seis meses e meio. Várias delegacias especializadas participam da ação, que foi desencadeada após investigações da 50ª DP (Itaguaí). São 150 equipes da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), Delegacia de Defraudações (DDEF) e Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).

De acordo com os investigadores, todos os comerciantes das regiões onde atua essa milícia eram obrigados a pagar uma taxa semanal que variava entre R$ 50 e R$ 1 mil. Segundo eles, um comerciante, dono de uma empresa de TV a cabo, pagava de forma obrigatória R$ 1 mil por semana e até um fornecedor de água também era chantageado e forçado a pagar o "arrego".

A polícia também descobriu que os milicianos expulsavam moradores de determinadas casas, pegavam os imóveis e alugavam para outras pessoas. Segundo a Polícia Civil, após a operação feita no sítio Três Pontes, a milícia da Zona Oeste e de Itaguaí ficou enfraquecida e o tráfico de drogas se fortaleceu. Os imóveis e terrenos eram apropriados e colocados em nomes de laranjas, que eram responsáveis pela venda.

“Após aquela ação, os bandidos conseguiram se erguer. No entanto, nós estamos trabalhando para enfraquecer os traficantes e os milicianos”, disse o delegado titular da 50ª DP (Itaguaí), Moysés Santana Gomes. Segundo a Polícia Civil, hoje a milícia atua “parecidamente” com o tráfico.

Entre os capturados está Carlos Augusto da Silva, o Neno. Ele foi preso em Ilha Grande e foi trazido para a Cidade da Polícia em um barco da Marinha.

O subtenente do Exército Marco Antonio Gomes Sacramento, conhecido como Sub, ao ser preso em Campo Grande, negou o envolvimento com a milícia. "Eu sou inocente até que prove ao contrário", disse ele.

De acordo com o depoimento de André Vitor de Souza Corrêa, o Dufaz, que foi preso há alguns meses, Ecko ajudou com cerca de 80 fuzis durante a invasão de milicianos ao Morro do Carvão, em Itaguaí. Nesta comuidade, atualmente, há diversos confrontos entre os milicianos e traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP).

Atentato e ataque

Durante as investigações, a polícia recebeu denúncias de que o grupo de Itaguaí liderado pelo Sargento Antônio e Benvides planejava um atentado contra a vida do titular da 50ª DP, Moysés Santana Gomes, além de atacar a própria delegacia. Os milicianos do grupo levantaram informações pessoais dos delegados envolvidos na investigação e começaram a fazer ameaças.

De acordo com a Polícia Civil, inicialmente acreditava-se que o grupo de Itaguaí fosse um outra milícia. No decorrer das investigações, percebeu-se que os milicianos do município atuavam como uma "franquia" da Liga da Justiça, chefiada por Ecko.

A milícia em Itaguaí atua nos bairros Chaperó, Ponte Preta, Coroa Grande, Reta, Engenho, Mazomba e Brisamar. Nessas localidades, os paramilitares roubavam e adulteravam carros. Ainda de acordo com os investigadores, os criminosos roubavam cargas e desligavam os rastreadores dos veículos. A investigação também descobriu que os milicianos da região cometeram homicídios e receptaram cargas roubadas.

Milícia domina 11 municípios do Rio, afetando 2 milhões de pessoas

Cerca de 2 milhões de pessoas vivem em áreas dominadas pela milícia, contabilizando 202 territórios em 37 bairros inteiros de 11 municípios da Região Metropolitana do estado do Rio. Além da cobrança ao comércio e moradores por segurança, a milícia atua na venda de botijão de gás, água mineral e cestas básicas, transporte de vans, internet e TV a cabo pirata, construção e invasão de prédios e exploração de areais existentes na região.

Colaborou Adriano Araujo

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