Rio - O sargento Antônio Carlos de Lima, policial lotado no 27º BPM (Santa Cruz), na Zona Oeste, foi preso pela Corregedoria da Polícia Militar, na tarde desta sexta-feira. Ele estava foragido após ser identificado como um dos chefes da milícia que atua em Itaguaí, município na Região Metropolitana do Rio. Nesta quinta, uma operação da Polícia Civil prendeu 25 suspeitos de atuarem no grupo paramilitar. Antônio Carlos, conforme investigação dos agentes, era responsável por coordenar o grupo miliciano, ordenando cobranças a comerciantes da região.
Segundo a PM, o policial foi detido por agentes da 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) ao se apresentar no batalhão no 27º BPM. Ele será encaminhado à Delegacia de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca. Nesta quinta, a corporação divulgou que Antônio Carlos estava de licença médica, mas era investigado em um procedimento interno.
Grupo miliciano desarticulado em Itaguaí
A Polícia Civil realizou nesta quinta-feira, junto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), uma megaoperação, batizada de Freedom, contra o grupo de milicianos que atua na Zona Oeste da capital e em Itaguaí. Os agentes estiveram em Campo Grande, Cosmos, Santa Cruz e Paciência e no município da Região Metropolitana do estado. O objetivo é cumprir 42 mandados de prisão e 90 de busca e apreensão contra a Liga da Justiça, liderada por Wellington da Silva Braga, o Ecko. O subtenente do Exército Marco Antonio Cosme Sacramento, 47 anos, conhecido como Sub, foi um dos presos. Vinte e cinco foram presas no decorrer das investigações.
O militar do Exército, preso em Campo Grande, já respondeu em 2010 por crimes de milícia e homicídio em Guaratiba. Ele é braço-direito do PM Antônio Carlos de Lima, preso neste seta. O ex-soldado da Polícia Militar Carlos Eduardo Benevides Gomes, o Cabo Bené, é considerado foragido.
Em nota publicada nesta quinta, a Polícia Militar disse que o sargento Antonio está de licença médica para tratamento de saúde. "Há procedimentos investigatórios sobre a conduta do policial, inclusive na própria corporação", disse a corporação.
O subtenente do Exército era dito na Força Armada como exemplar, com ótimas avaliações e já atuou em diversas unidades do país, ganhando inclusive quatro medalhas pelos serviços prestados. Na quadrilha, segundo a polícia, Sub era responsável pelas finanças da quadrilha e por emitir ordens do sargento Antonio para intimidar quem devia a milícia. O Comando Militar do Leste (CML) disse que o Exército Brasileiro estava ciente da investigação, que foi conduzida integralmente pela Polícia Civil do Estado do Rio.
"Foram fornecidas todas as informações requeridas. O militar encontra-se preso em organização militar carcerária, à disposição da Justiça Comum. Cabe reiterar que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de irregularidade ou conduta ilícita, repudiando veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei, com valores militares ou com ética castrense", diz o posicionamento.
A investigação que deu origem à operação durou seis meses e meio. Várias delegacias especializadas participam da ação, que foi desencadeada após investigações da 50ª DP (Itaguaí). Foram mobilizadas 150 equipes da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), Delegacia de Defraudações (DDEF) e Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).
De acordo com os investigadores, todos os comerciantes das regiões onde atua essa milícia eram obrigados a pagar uma taxa semanal que variava entre R$ 50 e R$ 1 mil. Segundo eles, um comerciante, dono de uma empresa de TV a cabo, pagava de forma obrigatória R$ 1 mil por semana e até um fornecedor de água também era chantageado e forçado a pagar o "arrego".
A polícia também descobriu que os milicianos expulsavam moradores de determinadas casas, pegavam os imóveis e alugavam para outras pessoas. Segundo a Polícia Civil, após a operação feita no sítio Três Pontes, a milícia da Zona Oeste e de Itaguaí ficou enfraquecida e o tráfico de drogas se fortaleceu. Os imóveis e terrenos eram apropriados e colocados em nomes de laranjas, que eram responsáveis pela venda.
“Após aquela ação, os bandidos conseguiram se erguer. No entanto, nós estamos trabalhando para enfraquecer os traficantes e os milicianos”, disse o delegado titular da 50ª DP (Itaguaí), Moysés Santana Gomes. Segundo a Polícia Civil, hoje a milícia atua “parecidamente” com o tráfico.