Parentes se desesperam ao saber da morte de Maria da Luz, baleada na cabeça dentro de casa, no Jardim AméricaMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por BRUNA FANTTI e RAFAEL NASCIMENTO
Publicado 04/08/2018 03:00

Rio - Enquanto o Gabinete de Intervenção Federal (GIF) no Rio formula planos de ações e tenta destravar licitações, a violência se mostra cada vez mais presente, principalmente na periferia. Em menos de 24 horas, uma dona de casa foi baleada e morreu; um homem feito refém e perdeu um braço durante tiroteio entre os criminosos e policiais; e um PM ficou ferido no Borel.

Somente nas últimas 48 horas, a cidade do Rio registrou pelo menos 37 tiroteios, de acordo com o aplicativo Onde Tem Tiroteio. O levantamento aponta que só na quinta-feira foram 20 trocas de tiros na cidade - cinco deles só em Santa Cruz, que enfrenta diariamente uma guerra entre o tráfico e milicianos em diferentes comunidades.

Com tanta violência, praticamente todos os dias há lágrimas de parentes de feridos ou mortos no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Ontem, a unidade amanheceu com os prantos de amigos e familiares de Maria Guia, 59 anos. Ela foi baleada por volta das 7h por um tiro de fuzil na cabeça, no interior de sua casa na Favela Furquim Mendes. Socorrida, não resistiu. "Eu estou com ódio. Sinto ódio desse país e ódio do Rio", desabafou o filho, Fábio Silva, 34 anos. A PM fazia uma operação na comunidade. A Delegacia de Homicídios apura quem fez o disparo. Um homem ficou ferido e quatro foram presos.

No mesmo horário, um soldado da PM foi ferido por estilhaços de bala durante um ataque de traficantes no Morro do Borel. Ele foi socorrido para o Hospital Central da PM e seu estado de saúde é estável. O tiroteio permaneceu durante a manhã na comunidade e levou pânico aos moradores. "Bom dia no Borel é tiro", escreveu um internauta.

Um disparo também alterou a vida de Alessandro da Silva Ribeiro, 42. Na madrugada de ontem, ele foi levado por criminosos em seu carro, em Vicente de Carvalho. A ação chamou a atenção da polícia, que iniciou uma perseguição. Houve confronto e Alessandro foi ferido em um dos braços. Levado à emergência do Getúlio Vargas, teve o membro amputado.

A coordenadora do Observatório da Intervenção, Silvia Ramos, critica as ações adotadas pelo interventor. "É lamentável que a intervenção esteja sendo um fracasso não só em resultados mas também em liberação dos recursos federais. Temer decretou a intervenção de forma irresponsável e está colocando as forças armadas em situação difícil", analisou a especialista.

Compra de 1 milhão de cartuchos

O Gabinete de Intervenção Federal anunciou ontem a liberação da primeira compra com o dinheiro enviado pelo governo federal em março. Foram comprados cerca de 1 milhão de cartuchos da Companhia Brasileira de Cartuchos, sem necessidade de licitação por conta da urgência e pela empresa ser a única fornecedora nacional dos produtos.

Foram gastos R$ 7.748.590 milhões na compra. O material será utilizado em treinamentos e operações contra o crime. O prazo de entrega dos itens é de 60 dias.

Atualmente, o Gabinete tem cerca de 70 processos administrativos, com total aproximado de R$ 550 milhões. Entre os itens previstos para compra estão: 24.235 coletes balísticos; 10.955 armamentos, como fuzis e pistolas; 1.350 veículos; 46 itens de materiais para Polícia Técnica (entre eles analisador técnico de DNA, scanner tridimensional de local de crime e sistema automatizado de identificação de impressão digital); 7 mil unidades de equipamento de proteção individual e 190 itens de materiais para manutenção preventiva de veículos; 65 itens de materiais de salvamento (pranchas de resgate e conjunto de salvamento veicular, entre outros) e 268.847 peças de fardamento.

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