Rio - A cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Observatório da Intervenção, da Universidade Cândido Mendes, classificou as mortes dos dois militares como "uma tragédia" que aumenta a tensão na segurança pública do Rio de Janeiro "a um nível inédito".
"O medo dentro das comunidades cresceu a um ponto que não víamos havia quase uma década. Os moradores se perguntam o que o Exército fará, e muitos temem que ‘operações-vingança’ ocorram, como já ocorreu no passado, quando policiais morreram em serviço", afirmou.
A pesquisadora também se mostrou preocupada com uma mudança: a entrada de militares nas favelas para operações de combate. "Pela primeira vez desde o começo da intervenção, os agentes das Forças Armadas entraram nas comunidades", disse. "Essa foi uma mudança preocupante em relação ao que vinha ocorrendo até aqui. Até então, os soldados do Exército faziam parte de operações, mas cuidavam para não haver confrontos diretos e não haver baixas."
A ação militar de ontem nas comunidades surpreendeu a cientista social. "Não esperávamos que, a quatro meses do fim da intervenção, o comando das Forças Armadas pudesse adotar as estratégias que mais deram errado no Rio: o confronto aberto, as mortes de agentes e de opositores armados dentro das áreas mais habitadas da cidade", continuou. "É com essa estratégia que o comando da intervenção pretende reduzir a violência? Essa é a pergunta que fazemos no Observatório (da Intervenção)".
Sem mudança
Para o ex-integrante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio e mestre em antropologia social Paulo Storani, os militares sabem dos riscos a que se submetem durante as operações. As mortes, opinou, não devem alterar a gestão da intervenção. "Acredito que não vai haver nenhuma mudança. As operações têm um nível de risco, que é aceito pelas tropas que participam. Lamentavelmente hoje (segunda-feira) houve mortes de militares, mas nada diferente da realidade do Rio, onde centenas de pessoas morrem por ano, policiais, criminosos e até inocentes - vítimas de balas perdidas. Então, é mais um dado estatístico para caracterizar o cenário que o Rio de Janeiro experimenta pelo menos nos últimos quatro anos".
Para Storani, a única medida que pode ser adotada são novos protocolos de cuidados. "O máximo que pode acontecer é uma avaliação de como se deu o fato e a orientação para que os militares tomem determinados cuidados. Mas isso vai depender de ter havido uma exposição desnecessária do militar ou se foi um caso fortuito, durante uma troca de tiros. Seja como for, não vai mudar o sentido da intervenção, de fazer mais ou menos operações", avalia.