Delegado Rodrigo Santoro durante viagem internacional, na neveReprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO
Publicado 30/08/2018 13:55 | Atualizado 31/08/2018 16:56

Rio - A quadrilha presa, na manhã desta quinta-feira, durante a megaoperação do Ministério Público, da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança (Sinte), as corregedorias das polícias Civil e Militar e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público Estadual (MPRJ), praticava extorsões que iam de R$ 10 até R$ 50 mil. "Eles não tinham público alvo, eles queriam apenas ganhar dinheiro de forma ilícita", afirma o promotor Michel Zoucas. 

Até o momento, 38 pessoas foram presas  na Operação Quarto Elemento, sendo 25 policiais civis, seis PMs, dois bombeiros e um agente da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap). A ação envolve mais de 200 policiais em vários bairros do Rio e o objetivo é cumprir 46 mandados de prisão. 

A investigação apurou que um policial cobrava entre R$ 10 e R$ 40 de feirantes para que eles pudessem vender seus produtos na feira de Santa Cruz. "Não temos como contabilizar o prejuízo que eles deram para o honorário público e para as vítimas. Também não temos ainda como contabilizar o quanto eles faturavam. Eles usavam gasolina, armas e viaturas da polícia", diz Michel Zoucas. 

De acordo com o promotor, as pessoas que não pagavam eram levadas delegacia e eram detidas para que pagassem. "A violência não era a marca deles, mas sim a intimidação", conta. A milícia também era alvo das extorsões. "Eles foram vítimas ou concorreram para práticas criminosas dessa organização criminosa. Mas não com uma aliança. Milicianos foram flagrados na prática de atividade criminosas, foram conduzidos para a unidade policial e lá houve uma negociata que culminou no pagamento de propina para os policias para que não fosse efetuada a prisão dos milicianos", completa. 

Segundo o delegado Jaime Cândido, da Sinte, a quadrilha às vezes apreendia a mercadoria da vítima mesmo após o pagamento de propina. "Essa organização criminosa se associou a informantes que indicavam possíveis crimes. Um vendedor de cigarro foi extorquido e teve a mercadoria e apreendida para revenda", conta.

Jaime Cândido diz que os informantes participavam da ação como policial  para ter certeza do valor que foi pedido e o que foi pago. O delegado Rodrigo Santoro está foragido, assim como José Ricardo Cabral dos Anjos, lotado na Divisão de Homicídios. Já o delegado Thiago Luiz Martins da Silva se apresentou na 5ª DP, no Centro do Rio, por volta de 8h30. Mais cedo, a polícia esteve na casa de ambos na Taquara e Tijuca, respectivamente, e não os encontraram. O chefe de cartório aposentado da Polícia Civil Delmo Fernando Batista Nunes foi preso na Barra da Tijuca.

De acordo com as investigações, 20% da propina ia para o delegado Rodrigo, 20% para Delmo, que são apontados como os responsáveis do esquema; 40% era dividido entre os informantes; e outros 20% eram divididos com a equipe da delegacia. 

"Essa investigação contou com o apoio de todas as corregedorias. Esse é o resultado da segunda fase. Na primeira, denunciamos seis agentes e a partir daí tiramos elementos para essa fase. Com os documentos apreendidos ano passado conseguimos indiciar 48 pessoas", afirma Daniel Braz, coordenador do Gaeco. No entanto, a Justiça entendeu que uma pessoa não tinha envolvimento e por isso, há 46 mandados de prisão na operação.

De acordo com as investigações, havia a participação do setor de inteligência da PM de Santa Cruz no esquema de jogos de azar e a distrital tinha metas de apreensão de máquinas caça-níquéis, mas não fazia repressão, o chefe de investigações pedia para os policiais deixarem uma ou duas máquinas apreendidas por eles na delegacia, pra que fossem feitos falsos registros. 

A operação conduzida pelo Gaeco, em parceria com a Sinte,  foi batizada de "Quarto Elemento". Isso porque, normalmente, as equipes que realizam diligências possuem três policiais. Durante uma diligência na investigação do caso, os agentes perceberam que havia uma quarta pessoa na equipe, que eles descobriram não ser policial - o quarto elemento ao qual o nome da operação faz referência.

Ex-chefe do Detran de Santa Cruz preso extorquia motoristas

Motoristas que precisavam resolver alguma situação no posto do Detran de Santa Cruz também eram alvos de extorsão. De acordo com as investigações, um ex-chefe do local, o bombeiro militar Eduardo Guimarães Dias, exigia propinas de condutores que tinham problemas nos veículos durante as vistorias.

Os agentes do bando de Rodrigo Santoro, Thiago Luís e Delmo Fernando descobriram e, para não prenderem Dias e transformar a prisão em investigação, passaram a extorquí-lo também. O ex-chefe do Detran era obrigado a pagar a cada 15 dias R$ 1 mil. Eduardo Guimarães foi um dos alvos da investigação desta quinta-feira e acabou sendo preso.

O Detran-RJ informou que Eduardo Guimarães Dias exerceu a função de chefe do posto de Santa Cruz até março de 2018, quando foi exonerado, após o programa Detran Conduta investigar denúncias de irregularidades de atendimento no posto. As denúncias recebidas e apuradas foram repassadas para a Polícia Civil.

 

Os PMs Rafael Bernardo da Silva, vulgo "Nhonho"; Carlos Menezes de Lima, conhecido como "De Lima"; Valsi Câmara da Costa; Leonardo Ferreira de Andrade, o Leozinho; Alan Rodrigues de Oliveira e Alex Rodrigues de Oliveira, todos lotados no 27º BPM (Santa Cruz) foram indiciados nos mesmos crimes. Eles eram os "quatro elementos" e muitas das vezes se faziam de policiais civis e participavam de operações para extorquir seus desafetos. Desse total, quatro foram presos hoje. 

Na casa do ex-policial militar Ronaldo Santana da Silva, que já estava preso, alva da primeira fase da operação "Quarto Elemento", em setembro de 2017, os agentes cumpriram mandado de busca e apreensão e encontraram R$ 20 mil. Foram apreendidos R$ 65.239,50 na casa de agentes.

Procurados pela DIA, as polícias Militar e Civil não haviam se pronunciado sobre os casos até a publicação desta reportagem.

 

O Detran-RJ informa que Eduardo Guimarães Dias exerceu a função de chefe do posto de Santa Cruz até março de 2018, quando foi exonerado, após o programa Detran Conduta investigar denúncias de irregularidades de atendimento no posto. As denúncias recebidas e apuradas foram repassadas para a Polícia Civil.

 

 

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