Elizângela reclamou da demora - Severino Silva / Agência O Dia
Elizângela reclamou da demoraSeverino Silva / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Corredores lotados, falta de leitos, escassez de materiais básicos e pacientes nos corredores, em cadeiras de rodas e macas. É o cenário do Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte, um mês depois da Defensoria Pública da União (DPU) enviar à Secretaria Estadual de Saúde do Rio pedido para que o local fosse fechado por falta de estrutura. Na manhã desta quinta-feira, O DIA esteve na unidade de saúde e flagrou situações dramáticas, como o da idosa Heloísa Helena Aguiar de Souza, de 71 anos, que aguardava há quase três dias para fazer uma ultrassonografia e ser colocada em um leito. No fim da tarde, ela finalmente foi atendida como deveria.

Moradora de Barra de São João, distrito de Casimiro de Abreu, Helena precisava retirar líquido da barriga ela tem ascite, uma doença do fígado e popularmente conhecida como barriga d'água. De acordo com a filha, a cabeleireira Elizângela Sabadine de Souza, 42, a mãe ficou os desde a noite de segunda-feira em uma cadeira de rodas no corredor da unidade. "Os profissionais têm boa vontade, mas não há muito o que fazer", disse.

A cabeleireira conta que a mãe até fez alguns exames e foi levada para a enfermaria. Mesmo assim, ficou sentada em uma cadeira de rodas e passou a reclamar das fortes dores e das pernas inchadas. Ainda segundo Elizângela, ela tinha a companhia de uma outra uma senhora, de 90 anos, que também reclamava da falta de atendimento e estava deitada em três cadeiras. "Não tem maca, não tem espaço, não tem lugar para colocar mais pacientes. Pediram uns exames e eu tive que sair para comprar os potes de urina. Eu acabei doando um frasco para um senhor com câncer que estava ao lado da mim mãe, pois no hospital não tinha", reclamou.

A estrutura básica para o funcionamento do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), por sinal, foi um dos motivos do pedido da Defensoria Pública da União (DPU) para o fechamento da unidade, que sustentava que a atual gestão "não tem tido capacidade para gerir a emergência, a oncologia e a farmácia". A unidade sofre com a falta de potes para exames de fezes e urina, agulhas e medicamentos.

Sem macas

Na enfermaria, a situação ainda é pior. Como O DIA constatou, pelo menos dez pacientes estão internados em cadeiras, pois faltam macas. Em nota, o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) informou "desconhecer qualquer situação de precariedade na unidade. Os atendimentos seguem dentro da normalidade e a expectativa é de que o número de vagas ofertadas, principalmente na Oncologia, se amplie até o final do ano. Com relação ao pedido da DPU, o mesmo se encontra nulo, uma vez que ficou esclarecido que o relatório final, ainda não está completo".

Paciente luta por tratamento

Pacientes e seus acompanhantes têm lutado para receber atendimento adequado. José Paulo da Silva, 70 anos, tenta retomar o tratamento de câncer no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Após 35 sessões de radioterapia no Hospital Mário Kröeff, na Penha, ele está há quase 20 dias esperando que algum médico assine o documento para que ele possa retornar à unidade. "Já vim aqui três vezes para pegar a autorização com o urologista", disse a esposa Marilene Alves da Silva, 62. No entanto, ontem, ao chegar ao HFB, ela bateu com a cara na porta. É que a unidade informou que apenas um médico poderia assinar o retorno. O especialista, por sua vez, está de férias e não há previsão para a sua volta.

Em nota, o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) disse que "não foi possível localizar seu prontuário tendo por base apenas seu nome e funcionários do setor de Oncologia não se recordam de nenhuma procura recente em seu nome".

DPU pediu fechamento em agosto

Em agosto, a Defensoria Pública da União (DPU) pediu o fechamento do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) porque, segundo o órgão, "o local não estava preparado para receber novos doentes". A DPU ofereceu a denúncia com base em ofício feito pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj), produzido em julho. Nele, é apontado "cenário de terror" no HFB e que a unidade "caminha em sentido contrário à vida".

O DIA apurou que na última semana houve uma reunião entre a direção do HFB e a DPU. No encontro ficou acertado que a unidade de saúde terá três meses para restabelecer a enfermaria e a farmácia, e resolver a situação da infraestrutura do local, mas observando a legislação.

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