A avó Mirian Batista de Moura Graça, 60 anos, com os netos Raphael Samuel de Moura Coelho, de 4 anos, e Kaio Vinícius Moura Coelho, de 7 anos. Os três morreram atropelados na Estrada do Catonho - Arquivo pessoal
A avó Mirian Batista de Moura Graça, 60 anos, com os netos Raphael Samuel de Moura Coelho, de 4 anos, e Kaio Vinícius Moura Coelho, de 7 anos. Os três morreram atropelados na Estrada do CatonhoArquivo pessoal
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Thamires Batista Moura da Silva, 27 anos, disse que não perdoa o motorista que atropelou e matou seus dois filhos e a sua mãe, na noite desta quinta-feira, na Estrada do Catonho, em Jardim Sulacap, na Zona Oeste do Rio. "Eu não o perdoo. Esse motorista acabou com a minha família. Não sei como vou viver daqui pra frente, eles eram a minha vida", declara a jovem, muito abalada.

De acordo com Thamires, os filhos, Raphael Coelho, de 4 anos, e Kaio Coelho, de 7, deixaram de ir para o judô para ficarem um pouco mais a avó, Mirian Batista de Moura Graça, 60 anos.

"Fui para Nilópolis, les me deram um beijo, cada um em um lado do rosto e disseram: 'Eu te amo'. Nunca vou esquecer isso, nunca vou esquecer os vídeos deles dançando", lamenta.

A jovem conta que falou pela última vez com a mãe às 18h. "Não tem dinheiro no mundo que pague os meus filhos. Ele (o motorista) tirou o meus bens maiores. Eu só tinha a minha mãe e o meus filhos. Quando os meninos não estavam na escola, eles estavam com ela. E agora, quem vai me abraçar? Eu não tenho mais ninguém", indaga. 

"Por favor, você que fez isso com a minha família, peço que se entregue. Só peço a Deus que você que se entregue", pede Thamires. "Eu espero que isso não aconteça com outra família. Foi a minha, mas pode acontecer com outras pessoas. A negligência matou a minha mãe e os meus filhos. Eu quero justiça", completou. 

No começo da manhã, Thamires publicou em seu perfil do Facebook um vídeo com uma colagem de fotos dos meninos e da mãe. A música escolhida foi "Espera eu Chegar", de MC Kevin, que diz "Que mundo é esse tão cruel que a gente vive? A covardia superando a pureza". Segundo ela, a canção era uma das preferidas dos filhos. "Eles eram crianças levadas, como qualquer menino daquela idade, mas eram muito amados. Eles amavam fotos, vídeos, cantar e eles diziam que me amavam muito", disse.

No próximo dia 28, dona Miriam completaria 61 anos. Segundo familiares, a filha estava preparando uma surpresa. Os investigadores ainda não sabem se as vítimas foram atingidas na calçada ou se estavam na rua no momento em que foram atropeladas. O caso está sendo investigado pela 33ª DP (Realengo). Nos próximos dias testemunhas deverão prestar depoimentos.

Thamires Batista Moura da Silva, 27 anos, mãe das crianças e filha da Miriam - Agência O Dia

Família tinha acabado de desembarcar do ônibus

Os três tinham acabado de desembarcar de um ônibus na Estrado Catonho, por volta das 20h, atravessaram as pistas e, quando já chegavam do outro lado, no sentido Cemitério Jardim da Saudade, foram atingidos por um carro, que os arremessou a uma distância de 400 metros. O trecho não tem sinalização e o motorista do veículo fugiu sem prestar socorro.

Um dos pés do tênis de um dos meninos ainda está no local do acidente. Miriam faria 61 anos no próximo dia 28. O enterro dos três será neste sábado no Cemitério de Ricardo de Albuquerque e, em seguida, um novo protesto está marcado na Estrada do Catonho.

Manifestação fechou Estrada do Catonho nesta manhã

Um grupo de manifestantes fechou parcialmente a Estrada do Catonho, na altura da Rua Caratuva,  na manhã desta sexta-feira, complicando o trânsito na região. Cerca de 60 pessoas protestaram em virtude da tragédia.

Eles reclamaram da falta de sinalização no trecho e reivindicam também uma passarela. Segundo os moradores, o problema é antigo e outros acidentes já aconteceram. Uma nova manifestação está prevista para o fim da tarde. A Polícia Civil esteve na região em busca de imagens de segurança que possam ajudar na identificação do autor do crime.

Em nota, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) informou que, após vistoria e análise realizada por equipe técnica no local, apesar das 31 placas de sinalização existentes de velocidade máxima de 70 km e radares nos dois sentidos da via, foi decidido que haverá um reforço na sinalização com colocação de mais placas de advertência e pintura de faixas induzindo a redução de velocidade.

"A colocação de um sinal de trânsito se torna inviável, por se tratar de uma curva, assim como a colocação de tachões na pista . A CET-Rio estuda, também, a colocação de uma Lombada Eletrônica, mais próxima ao local do acidente, para coibir o excesso de velocidade de alguns motoristas. A CET-Rio esclarece que não tem nenhum registro de solicitação de semáforo ou equipamento eletrônico para o local, como mencionado pelos moradores", diz o texto. 

 

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