Funcionários e estudantes da UFRJ estiveram ontem na Quinta da Boa Vista para protestar contra o descaso do governo com o Museu NacionalAlexandre Brum
Por O Dia
Publicado 03/09/2018 22:49 | Atualizado 04/09/2018 14:19

RIO - O incêndio era uma tragédia anunciada. Pelo menos é o que mostram os números cada vez menores de investimento público no prédio histórico. De acordo com o diretor do museu, Alexander Kellner, antes do incêndio era necessário que um total de R$ 300 milhões fosse investido ao longo de dez anos (R$ 30 milhões anuais) para a restauração completa do edifício. Em contrapartida, a Câmara dos Deputados previu no início de 2018 o uso de R$ 16 milhões em reformas de imóveis que servem como moradia de parlamentares.

"A verdade é que são muitos gastos que não levam a absolutamente nada e que também não produzem nada para o Brasil. O que eu vejo é um governo sem a capacidade de gerir porque está com a corda no pescoço", avaliou o economista Emir Koureiche. "Vendo a situação econômica do país, não acredito que haja uma maneira de disponibilizar, em curto prazo, o valor que será necessário para a reconstrução do Museu Nacional", completou.

O repasse da União para a manutenção do Museu Nacional, aliás, encolheu cerca de 30% nos últimos cinco anos. Segundo levantamento feito pela Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, em 2013 foram R$ 979 mil em pagamentos à instituição. Neste ano, os investimentos não alcançam os R$ 100 mil.

Ao mesmo tempo, a Câmara dos Deputados assinou contrato ao custo anual de R$ 563 mil para que 83 carros oficiais de 19 deputados com cargos de direção fossem lavados. A casa do Legislativo também prevê o gasto de aproximadamente R$ 90 mil em comunicação institucional. Já o auxílio-moradia do Judiciário custou aos cofres públicos cerca de R$ 5,4 bilhões entre setembro de 2014 e janeiro desse ano.

Em nota, o BNDES lamentou o incêndio que atingiu o Museu Nacional. O banco lembrou que havia assinado contrato de R$ 21,7 milhões para a revitalização do museu e que a primeira parcela seria paga em outubro. A instituição também se colocou à disposição para redirecionar os recursos com o objetivo de reconstruir o prédio.

REPERCUSSÃO MUNDIAL

O incêndio no Museu Nacional teve repercussão mundial. O site da inglesa BBC e a revista Forbes apontaram como uma das causas o corte de financiamento de verbas. O jornal Daily Mail chamou de inferno o incêndio que atingiu o museu. A CNN e o espanhol El País destacaram o valor inestimável do acervo, que se perdeu com o fogo.

Historiadores culpam "falta de compromisso"
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Um misto de dor e revolta. Esse foi o tom usado nos depoimentos de historiadores e sociólogos ouvidos pelo DIA sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional.
"A humanidade ficou órfã de seu maior acervo cultural. Um espaço que tinha múmias trazidas por Dom Pedro II, que nem o Egito tem mais; que tinha o crânio de Luzia; móveis de Dom João VI; coleções inigualáveis... Acabou tudo", lamentou o historiador Milton Teixeira.
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Para o sociólogo Paulo Baia, será difícil o país se recompor do baque. "Esse incêndio diz tudo sobre a atual situação do Brasil. As investigações têm que ser rigorosas".
Lauro Barreto, outro historiador, culpou autoridades. "A irresponsabilidade dos governantes, que reduziram drasticamente as verbas da Cultura, é tão incendiária como a loucura de Nero, que ateou a Roma. O Museu Imperial de Petrópolis corre riscos", advertiu.
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Já a consultora internacional de arte, Bianca Cutait, a burocracia afasta o investimento privado dos museus brasileiros e negligencia a história do país. "Em nenhum lugar do mundo os museus e as instituições culturais dependem de lei de renúncia fiscal e dos governos federais, municipais, estaduais"

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