Fernanda Assis morreu nove dias após ser submetida ao procedimento estético nos glúteos e lábios - REPRODUÇÃO FACEBOOK
Fernanda Assis morreu nove dias após ser submetida ao procedimento estético nos glúteos e lábiosREPRODUÇÃO FACEBOOK
Por GUSTAVO RIBEIRO E RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A Polícia Civil indiciou por homicídio e exercício ilegal da profissão a mulher que fez preenchimento nos glúteos e nos lábios da microempresária Fernanda Assis, de 29 anos. Fernanda morreu no sábado, nove dias após ser submetida ao procedimento em sua própria casa, em Anchieta. A suspeita teve ainda a prisão solicitada nesta segunda-feira pela 31ª DP (Ricardo de Albuquerque). O nome dela é mantido em sigilo para não prejudicar a investigação.

Segundo o delegado Roberto Ramos, da 31ª DP, Fernanda, que tinha uma clínica de bronzeamento em casa, pagou R$ 1 mil pelo preenchimento, feito em 4 de outubro. O delegado ouviu ontem o companheiro da vítima, Alex Fernando Rosa, que morava com ela há 7 anos, e uma cliente que indicou a falsa profissional. As investigações apontam o uso de Aqualift, hidrogel modelador de venda restrita para médicos.

"Tudo aconteceu de maneira irregular, porque a pessoa que fez aplicação não é habilitada e o local não era apropriado. Por todo o tempo, a vítima ocultou a informação e os familiares não souberam o que aconteceu até que ela começasse a passar mal", afirmou o delegado.

Um vídeo transmitido pelo Facebook no domingo mostra Alex Fernando dizendo a um pastor e a outras pessoas que Fernanda fez o procedimento escondida. "Pedi para ela não fazer. Na semana passada, ela esperou eu sair de casa e fez pela segunda vez. Eu sempre fui contra", desabafou. Na ocasião, ele afirmou que a mulher que fez a aplicação estava "oferecendo tudo" para ele não entregá-la.

"A mulher liga chorando pedindo para não falar que foi ela que fez. Pastor, [...] ela vai me dar R$ 1 milhão hoje, mas se eu devolver esse R$ 1 milhão eu fico pobre de novo sem a Fernanda. Ela está oferecendo tudo para eu não falar", revelou ele no vídeo. Ontem, a jornalistas, Alex negou que tenha recebido oferta de R$ 1 milhão. "Eu disse que nem se ela me desse R$ 1 milhão eu aceitaria. A única coisa que ela disse foi que prestaria ajuda".

Uma amiga da vítima, que não quis se identificar, contou ao DIA que o objetivo de Fernanda era corrigir falhas decorrentes de outro preenchimento feito por outra pessoa há menos de um ano. "Ela já tinha colocado metacril nos glúteos e, como achava que estava ruim, quis fazer um preenchimento para tirar estrias", revelou.

Na última segunda-feira, segundo a amiga, Fernanda passou muito mal, se automedicou e teve uma melhora aparente. Já na quinta-feira, secreções começaram a sair dos glúteos. Na manhã de sexta-feira, ela, então, pediu ao companheiro que fosse levada ao hospital. A paciente deu entrada no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, às 8h50 de sexta com edemas e reclamando de dificuldade para respirar. No sábado, sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu pouco após as 14h40.

Médicos alertam para o uso de aqualift no corpo

Médicos alertam os riscos do hidrogel e de outras substâncias sintéticas como o metacril (PMMA). Segundo José Carlos Pereira Pinto, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Aqualift é um composto de poliamida (usado na produção de plásticos) e soro indicado para rugas ou assimetria facial e aumento de coxas e glúteos, mas deve ser usado com cautela. "Pode ser realizado em pequenas quantidades em ambiente cirúrgico com equipamento de primeiros socorros. É restrito para dermatologistas e cirurgiões plásticos", explicou. Ele prefere o uso de próteses, preenchimentos absorvíveis e estimuladores de colágeno.

A dermatologista Marlene Sessim reforçou que o hidrogel e o PMMA merecem cuidados. "Como o procedimento prevê depósito de uma grande quantidade sob a pele, há risco de o produto ser injetado em um vaso e comprimi-lo, causando necrose, embolia pulmonar e AVC".

Fernanda Assis é a quinta mulher que morre no Rio este ano após procedimentos estéticos. O primeiro caso que veio à tona, em julho, foi o da bancária Lilian Calixto, 46, atendida na casa do médico Denis Furtado, Dr. Bumbum, preso. A modelo Mayara Silva dos Santos, 24, morreu após fazer preenchimentos em um hotel no Recreio, no mesmo mês. As outras vítimas foram a professora Adriana Ferreira, 41, também em julho, atendida em uma clínica em Niterói, e Fátima Santos de Oliveira, 44, falecida em abril, que aplicou PMMA com a falsa médica Mariana Batista em casa.

 

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