Marcos Abrahão (Avante) - Divulgação
Marcos Abrahão (Avante)Divulgação
Por O Dia

Rio - A investigação da Operação Furna da Onça aponta que o deputado estadual Marcos Abrahão (Avante) nomeou sua amante para um cargo de comissão na Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), vinculada à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio. O parlamentar e outros nove deputados foram presos nesta quinta-feira, por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada em órgãos da administração estadual.

"Descobriu-se, ainda, a partir da interceptação telefônica, que Marcos Abrahão nomeou sua amante para exercer cargo em comissão na Faetec, como coordenadora de unidade", apontou o Ministério Público Federal.

Os deputados são suspeitos de usarem a Alerj a serviço de interesses da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), que em troca pagava propina mensal (“mensalinho”), que variava de R$ 20 mil a 100 mil reais, durante seu segundo mandato (2011- 2014). Os valores eram pagos em troca de votos em favor de projetos de lei de interesse da organização.

A investigação identificou que Marcos Abrahão tem influência no Detran-RJ por meio de Leonardo Mendonça de Andrade, seu assessor. Também na operação, verificou-se indícios ainda de "indicação de funcionário fantasma para a Secretaria Estadual de Educação e para a Secretaria Estadual de Saúde, ambas do Rio de Janeiro".

Além de Marcos Abrahão foram presos os deputados André Correa (DEM), Edson Albertassi (MDB, nova ordem de prisão, mas já estava custodiado em Bangu), Chiquinho da Mangueira (PSC), Coronel Jairo (MDB), Jorge Picciani (MDB, nova prisão, continuando em domiciliar), Luiz Martins (PDT), Marcelo Simão (PP), Marcus Vinícius "Neskau" (PTB) e Paulo Melo (MDB, nova prisão, mas já estava custodiado em Bangu).

O secretário de Governo, Affonso Monnerat, foi preso pela PF. O presidente do Detran/RJ, Leonardo Silva Jacob, e seu antecessor Vinícius Farah, recém-eleito deputado federal pelo MDB, ainda não foram localizados.

Também foram presos 6 assessores da Assembleia: Alcione Chaffin Andrade Fabri (ligada a Marcos Abrahão), Daniel Marcos Barbiratto de Almeida (ligado a Luiz Martins), Jorge Luis de Oliveira Fernandes (ligado ao Coronel Jairo), José Antonio Wermelinger Machado (ligado a André Correa), Leonardo Mendonça Andrade (ligado a Marcos Abrahão) e Magno Cezar Motta (ligado a Paulo Melo).

A PF capturou ainda a diretora de Registros do Detran Carla Adriana Pereira, a atual subsecretária na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Shirlei Aparecida Martins da Silva (ligada a Edson Albertassi), e Jennifer Souza da Silva (ligada a Paulo Melo).

Desdobramento da Operação Cadeia Velha

"As investigações contam uma história: a de como o ex-governador neutralizou, com propina e outras vantagens ilícitas, o controle que os deputados estaduais deveriam exercer sobre o Executivo, e, com isso, a organização criminosa se espalhou por vários órgãos e entidades do Estado, provocando o sucateamento dos serviços prestados à população", afirmam os procuradores Andréa Bayão, Carlos Aguiar e José Augusto Vagos (MPF/2ª Região) e Leandro Mitidieri e Renata Ribeiro Baptista (MPF/RJ), autores da petição e que também pediram o afastamento dos deputados de seus cargos.

Sala da propina

O nome Furna da Onça faz referência a uma sala de reuniões que fica perto do plenário da Alerj, onde os deputados, segundo as investigações, se reuniam para rápidas discussões antes das votações no plenário.

Quanto recebia cada deputado alvo de prisão hoje, segundo o MPF

- André Correa (DEM): R$ 100 mil/mês

- Edson Albertassi (MDB): R$ 80 mil/mês + R$ 1 milhão

- Chiquinho da Mangueira (PSC): mais de R$ 3 milhões

- Coronel Jairo (SD): R$ 50 mil/mês + prêmio

- Jorge Picciani (MDB): R$ 400 mil/mês + prêmio

- Luiz Martins (PDT): R$ 80 mil/mês + R$ 1,2 milhão

- Marcelo Simão (PP): R$ 20 mil/mês

- Marcos Abrahão (Avante): R$ 80 mil/mês + R$ 1,5 milhão

- Marcus Vinicius “Neskau” (PTB): R$ 50 mil/mês

- Paulo Melo (MDB): R$ 900 mil/mês + prêmio

Esquema no Detran

O esquema de corrupção no Detran envolvia loteamento de cargos para eleger os deputados e também serviços, como liberação irregular da CNH. Segundo o Ministério Público, André Corrêa se beneficiou na campanha de 2014. Números do TRE mostram que Corrêa teve votação expressiva em Vassouras, Valença, Nova Friburgo, Niterói e Teresópolis. O resultado seria consequência do uso eleitoreiro dos postos de trabalho do Detran nessas regiões.

O Grupo Facility/Prol, do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, o Rei Arthur, responsável pela mão de obra terceirizada do Detran, irrigava com propinas as contas de deputados e campanhas. Segundo delatores, o grupo pagava por mês de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão.

O esquema de corrupção também atingia outros órgãos. Marcos Abrahão conseguiu colocar a amante para trabalhar na Faetec. Chiquinho da Mangueira, corregedor da Casa, e também presidente da Verde e Rosa, recebeu sozinho propinas de até R$ 3,3 milhões. Chiquinho não teve pudores de mandar homens da mala de Cabral, como Sérgio Oliveira, entregar à própria mãe, Maria Celeste Ferreira de Oliveira, R$ 150 mil camuflados em meias compridas. O deputado já foi acusado até de envolvimento com o tráfico de drogas na comunidade.

O ex-presidente do Detran, Vinicius Farah, eleito deputado federal, e o atual, Leonardo Jacob, são acusados de integrarem o esquema. Jacob, que substituiu Farah, teria contratado a empresa Probid, sem licitação. O enteado do deputado Luiz Martins, o vereador Daniel Martins (PDT), foi preso acusado de receber propina para o padrasto.

Defesas

Em nota, o Detran-RJ afirmou que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento. O presidente Leonardo Jacob esclarece que se apresentará hoje à polícia, de acordo com os procedimentos legais.

Jorge Picciani afirmou, em nota: "O Ministério Público, mais uma vez, tenta criar um fato sem provas para me envolver num enredo do qual não sou personagem. Basta folhear as páginas da denúncia para ver as contradições ali constantes. O delator Carlos Miranda, por exemplo, deixou claro que durante minha presidência da Alerj no primeiro mandato do governador Sergio Cabral não houve nenhum pagamento para mim nem qualquer irregularidade. Na segunda gestão de Cabral eu não exercia mandato. A peça hoje apresentada pelo Ministério Público não prova meu envolvimento em nenhuma das supostas irregularidades apontadas, até porque não participei. A única justificativa para o MP envolver meu nome nessa tramoia é que meus advogados estão concluindo as alegações finais que irão comprovar minha inocência."

O advogado Marcio Delambert Miranda Ferreira, que defende Edson Albertassi, afirmou que "o deputado nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos e reafirma sua inocência."

O deputado Chiquinho da Mangueira, declarou "que todas as acusações imputadas a ele através da operação 'Furna da Onça', realizada pela Polícia Federal, que o levou a prisão temporária no dia de hoje (08), são infundadas e totalmente inverídicas. Segundo o advogado Pablo Andrade, da equipe jurídica de Chiquinho da Mangueira, a medida foi completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado".

A assessoria do deputado André Corrêa publicou a seguinte nota em suas redes sociais: "Deus no controle sempre. Nunca envergonhei vocês. Confio na justiça do meu Estado e do meu País. Quem não deve não teme. Lamento que no momento que 44 deputados assinam um compromisso com minha candidatura à Alerj isto aconteça. Repito que estou tranquilo. Quem me conhece sabe meu modo de agir. Continuarei de cabeça erguida. Não tenho sequer advogado. Confio em Deus."

"O sr. Vinicius Farah confia na Justiça e afirma que a situação será devidamente elucidada. Ele já se apresentou às autoridades em Brasília para os devidos esclarecimentos. Ele estava na cidade para agenda de trabalho", declarou a defesa de Farah.

Com informações do Estadão Conteúdo

Você pode gostar