O ex-procurador Cláudio Lopes - Agência O Dia
O ex-procurador Cláudio LopesAgência O Dia
Por ESTADÃO CONTEÚDO

Rio - Em denúncia, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) afirma que o ex-procurador-geral de Justiça do Estado Cláudio Lopes recebeu R$ 7,2 milhões - valores atualizados - em propina entre 2009 e 2012, período em que comandou a instituição. Cláudio Lopes foi preso no dia 8 por ordem do Tribunal de Justiça (TJRJ).

No início de outubro, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), Cláudio Lopes, o ex-secretário do Executivo fluminense Wilson Carlos e o operador "Serjão" foram denunciados pelo procurador-geral de Justiça em exercício Ricardo Ribeiro Martins

Cabral - preso desde novembro de 2016 e condenado a 183 anos de reclusão -, Wilson Carlos e "Serjão" são acusados neste processo por corrupção ativa. Cláudio Lopes foi denunciado por associação criminosa, corrupção passiva e quebra de sigilo funcional.

"O denunciado Cláudio Lopes, recém-ingresso na quadrilha, foi nomeado procurador-geral de Justiça pelo denunciado e líder da súcia, Sérgio Cabral, no início de janeiro de 2009 e, a partir de março do mesmo ano, passou a receber a indevida quantia mensal de R$ 150 mil, o que perdurou até o término de seu segundo mandato à frente do Parquet estadual, em dezembro de 2012", afirmou o Ministério Público.

"A quantia ilícita era cuidadosamente separada por Carlos Miranda em maços de R$ 10 mil, com notas de R$ 100 ou R$ 50, acondicionados em envelopes azuis e pardos. Os envelopes eram entregues ao denunciado Sérgio de Castro, vulgo Serjão, o qual tinha a incumbência de transportar a propina ao denunciado Wilson Carlos, operador administrativo da quadrilha e responsável pela entrega da propina ao denunciado Cláudio Lopes, que a recebia inicialmente no Palácio Guanabara e, em um segundo momento, para não chamar atenção, no Palácio Laranjeiras".

Reuniões no Palácio Laranjeiras

Ex-governador Sérgio Cabral foi preso novembro de 2016 - Rodrigo Felix Leal / Gazeta do Povo

Em depoimento aos investigadores, o operador Sérgio de Castro Oliveira relatou que Wilson Carlos "reclamava de ter que acordar cedo só para ir ao Palácio Laranjeiras entregar o dinheiro ao Cláudio Lopes". Laranjeiras é a residência oficial do chefe do Executivo fluminense. De acordo com "Serjão", os encontros entre Wilson Carlos e Cláudio Lopes "duravam, no máximo, 20 minutos".

Segundo o MP-RJ, um motorista que trabalhou para Cláudio Lopes "durante uma década" confirmou, também em depoimento, que os encontros no Palácio Laranjeiras duravam "não mais do que 15 minutos". Para o procurador-geral de Justiça, Ricardo Ribeiro Martins, o "período é absolutamente compatível com quem apenas se encontra para entregar e receber propina e não para tratar de assuntos institucionais".

"Ia no mínimo uma vez por mês, tanto no Palácio Guanabara, com no Laranjeiras; que normalmente o Dr. Cláudio Lopes andava com uma maleta de couro; que ele tem o costume de andar com essa maleta; (…) que as visitas no Palácio Laranjeiras eram rápidas e duravam no máximo de 15 minutos; que também era assim no Palácio Guanabara", informa o depoimento do motorista.

De joelhos

Ex-secretário de Governo do RJ Wilson Carlos - Divulgação / Justiça Federal PR

Ribeiro Martins afirmou no pedido de prisão de Cláudio Lopes que o ex-procurador-geral submeteu o Ministério Público "ao maior revés de sua história" e expôs a instituição a um "vexame". Como procurador-geral, Cláudio Lopes chefiou a instituição entre 2009 e 2012.

"Ao se associar à quadrilha comandada por Sérgio Cabral, o denunciado Cláudio Lopes submeteu o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ao maior revés de sua rica história, expondo a instituição ao vexame, traindo a confiança dos membros que o colocaram no topo da lista tríplice encaminhada ao governador e submetendo o interesse institucional e da sociedade à troca de nefastas vantagens econômicas pessoais", afirmou Ribeiro Martins

O atual chefe da Procuradoria afirmou que as investigações "revelaram a evidente promiscuidade que entrelaçava as relações institucionais entre o chefe do MP-RJ e o governo estadual durante os dois períodos em que o denunciado exerceu a função de Procurador-Geral de Justiça".

"Muito, mas muito mais impactante aos olhos da sociedade é ver o chefe da instituição vocacionada ao combate à corrupção cooptado pela súcia e sua nefasta prática criminosa", registrou Ribeiro Martins.

"Nos momentos em que deveria se postar ao lado de combatentes promotores de Justiça, como verdadeiro líder, o denunciado Cláudio Lopes se utilizou de artifícios e ardis para defender os interesses da organização criminosa que o remunerava mensalmente, retardando investigações importantes e se prestando ao humilhante papel de escoteiro do denunciado Sérgio Cabral e sua malta".

Casa em Búzios

Cláudio Lopes declarou, em depoimento, que pagou uma parcela de uma casa em Búzios, na Região dos Lagos, com R$ 200 mil em dinheiro vivo. O depoimento foi prestado em 28 de setembro. O ex-procurador-geral de Justiça contou que os R$ 200 mil eram fruto de uma "atividade que exercia, desde 1991, no magistério, mais especificamente na área de cursos preparatórios para concursos".

A casa, segundo o Ministério Público, custou R$ 500 mil em janeiro 2011. A vendedora do imóvel em Búzios também prestou depoimento. Ela contou que "estranhou o fato de o comprador desejar pagar parte da casa em dinheiro".

"A depoente se dirigiu ao banco e teve contato com o comprador da casa; que se recorda que Cláudio comprou o imóvel de Búzios, pagando parte em dinheiro e parte em cheque; que o dinheiro foi depositado imediatamente na conta corrente da declarante, assim como a parte que foi paga em cheque", narrou.

Apurações

Uma promotora do MP-RJ afirmou em depoimento que Cláudio Lopes "fazia diversas intervenções" junto à equipe da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal (Coesf). O relato da promotora consta do pedido de prisão de Cláudio Lopes, levado à Justiça por Ricardo Ribeiro Martins.

Os autos contêm depoimentos de membros do Ministério Público que denunciam "as constantes interferências" do ex-procurador-geral de Justiça em investigações ligadas ao grupo de Sérgio Cabral.

"Em diversas ocasiões, a partir de 2009, a depoente pôde perceber que o então PGJ, Cláudio Lopes, fazia diversas intervenções junto à equipe da Coesf sempre procurando saber informações acerca do andamento das investigações que envolviam secretarias estaduais, muitas vezes solicitando que o andamento das investigações aguardasse eventos políticos importantes acontecerem, tais como, votação de orçamento, eleição para governador etc., notadamente nas investigações da Saúde e naquelas referentes à refinaria de Manguinhos", relatou a promotora de Justiça.

Defesa

A reportagem está tentando localizar a defesa de Claudio Lopes desde a semana passada e ainda não obteve retorno.

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