Abel Gomes: 60 anos de atividade ininterrupta e filho desembargador como modelo de ternosFOTOS Marcio Mercante
Por FRANCISCO EDSON ALVES
Publicado 18/11/2018 03:00 | Atualizado 18/11/2018 07:49

Rio - Ele é um dos poucos representantes no Rio de Janeiro de uma profissão que resiste diante das novas tecnologias voltadas para atender frenéticas escaladas industriais para moda de departamentos. Aos 86 anos, o alfaiate Abel Gomes é o orgulhoso dono da Gomes Alfaiataria, que está completando 60 anos de funcionamento ininterruptos, em Copacabana (na Rua Barata Ribeiro 559 - Loja C). O simpático português, discreto em relação a propaganda, entrevistas e fotos, é hoje o mais antigo em atividade na cidade. E curiosamente o mais requisitado por ministros, juízes, governadores, prefeitos e artistas famosos, para a confecção de camisas, calças e paletós, feitos sob medidas e à mão.

Modesto, ele rejeita o título de 'costureiro do poder', como os amigos o chamam, mas não esconde o orgulho de manter, sozinho, a tradição do empreendimento. Há três anos, o irmão, Alberto, de 72 anos, que veio com ele de Portugal ainda na juventude, em busca de emprego, deixou a sociedade, justamente por não encontrar mais mão de obra especializada.

"Comecei confeccionando, logo de cara, ternos para o presidente Getúlio Vargas, em 1954, ainda como empregado da alfaiataria, que ainda não nos pertencia", lembra Abel, pai de um dos ministros mais destacados do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES), que leva o seu nome. "Na verdade, o Abel foi uma espécie de cobaia, mas um excelente manequim, atraindo os amigos do Poder Judiciário", diz o sorridente alfaiate.

Clientes políticos, Abel evita citar nomes, segundo ele, a pedido dos fregueses. Mas não esconde os astros famosos que já vestiu: "Emilinha Borba, Sargentelli, Tito Madi, Carlos Gallhardo, Ronivon, Renato Aragão, Antônio Carlos e Jocafi, entre outros ícones", enumera.

Abel conta que hoje, a produção é bem menor. "Mas a qualidade é a mesma. Isso é o meu maior trunfo, além de garantir elegância, exclusividade e conforto", garante, comentando que às vezes leva dias para montar um terno ou smoking.

"Costurar com medidas encomendadas, de forma personalizada, além de assegurar estilo e status individuais, faz com que a roupa se adapte ao dono e não o contrário, como acontece com a modelagem de fábrica", pondera.

'No mercado atual existem muitos curiosos' 

Filho de açougueiros portugueses, Abel conta que aprendeu a costurar com primos. "Mas aprendi a amar a profissão no Brasil. No mercado atual existem muitos curiosos, mas ninguém quer se profissionalizar", lamenta.

De acordo com o sindicato da categoria, por ano pelo menos 500 vagas de alfaiates são abertas nas indústrias, que têm cortes computadorizados.

Segundo pequisas, roupas prontas são baseadas em medidas globais de estaturas, pesos e posturas, atendendo apenas 40% dos consumidores. "Por isso ainda somos importantes", gaba-se Abel.

Os alfaiates surgiram no Renascimento (entre os séculos 14 e 15), nas escolas de arquitetura. Por volta de 1850, na Inglaterra, com a urbanização e industrialização, tornaram-se mais valorizados, assim como ao longo do século 20.

No Brasil, a alfaiataria veio com a corte portuguesa. Um dos maiores movimentos emancipacionistas do país, a Conjuração Baiana (1798), ficou conhecido como Revolta dos Alfaiates, por causa do grande número desses profissionais na insurreição.

 

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