Fórum de debates do Observatório Militar da Praia Vermelha, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca, apresentou um balanço da Intervenção Federal na Segurança do Rio - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Fórum de debates do Observatório Militar da Praia Vermelha, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca, apresentou um balanço da Intervenção Federal na Segurança do RioEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por Adriano Araujo e Rafael Nascimento

Rio - O general Braga Netto, interventor federal da Segurança Pública, e general Richard Nunes, secretário de Segurança do Rio, criticaram o fim da Secretaria de Segurança, que será adotada pelo governador eleito Wilson Witzel. Eles falaram na manhã desta terça-feira em um fórum de debates do Observatório Militar da Praia Vermelha, na Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca, que apresentou resultados da intervenção, iniciada no estado em 16 de fevereiro.

"Primeira surpresa que eu tive é que na nossa instituição quem planeja a intervenção é quem sai. Esse foi o meu primeiro choque. Mas todo o planejamento que apresentei foi montado em cima dessa estrutura. Uma secretaria de segurança, Defesa Civil e Bombeiros, e de assuntos penitenciários. Todo o legado foi planejado para está estrutura. Essa é a minha preocupação com a transição. A nova estrutura teria Polícia Militar, Civil. Como é que vai se adaptar o legado que vamos deixar com a nova estrutura?", questionou Braga Netto. 

O general Richard Nunes, atual secretário da pasta que será extinta, defendeu a mesma tese do general interventor, e disse que a intervenção foi planejada com o atual organograma da área de Segurança Pública do estado. Entre as dificuldades que poderão surgir com o fim da pasta, ele destacou a inteligência das operações. 

"Se estruturamos a intervenção com base nesse organograma, no momento que se divide essa secretaria, isso vai causar dificuldades administrativas, de inteligência para operações, que são coordenadas por um órgão capaz de dialogar inclusive com o nível federal. Imagino que o Rio de Janeiro será o único estado do país com essa estrutura, o que causa uma preocupação muito grande", defendeu.

As criticas do interventor e do secretário foram feitas na presença do vice-governador eleito Cláudio Castro (PSC), que estava na primeira fileira do anfiteatro onde acontecia o fórum. Castro não comentou as falas, mas, em nota, o governador eleito Wilson Witzel (PSC) disse que "as recomendações e sugestões do Gabinete de Intervenção Federal são sempre bem-vindas, agradece todo o esforço feito pela intervenção e reitera que o futuro governo aproveitará o seu legado".

Intervenção reestruturou órgãos de Segurança Pública, diz generais

O fórum de debates do Observatório Militar da Praia Vermelha apresentou um balanço positivo da Intervenção Federal na Segurança do Rio. Segundo os generais Braga Netto e Richard Nunes, interventor e secretário de Segurança, o legado precisa ser aproveitado pela próxima gestão e que os maiores benefícios foram a reestruturação e a recuperação da confiança nos órgãos. No começo da tarde, foi anunciada a entrega de mil viaturas paras as polícias Civil e Militar.

"Não tenho dúvida que a intervenção vem atingindo e atingirá todos os benefícios propostos. Restauramos valores, crenças e tradições das instituições, além do aperfeiçoamento das instituições financeiras e a recuperação da imagem da Segurança Pública do Rio", disse o interventor Braga Netto. "Qual era a situação antes: crise ética, moral e financeira. Tínhamos problemas com a PM, com viaturas sucateadas, áreas com problemas, mortes de policiais. Toda essa situação incomodava o carioca e o fluminense", completou. 

Nunes defendeu que o principal objetivo da intervenção era a reestruturação dos órgãos da Segurança Pública. "O foco era mais em termos de reestruturação, de motivação e recuperação da confiança, da auto-estima, de modo que os resultados viessem em consequência disso. A nossa grande preocupação agora é com a transição. Se temos um legado é necessário que haja continuidade. E para que tenha essa continuidade, a transição tem que ser bem conduzida para que essa experiência seja transmitida e tenha efeito no futuro", explicou o secretário.

Intervenção impactou indicadores criminais, diz ISP

A diretora-presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP), Joana Costa Monteiro, falou que o trabalho realizado pelo órgão apresentou o impacto da intervenção nos indicadores criminais. Segundo o ISP, os roubos de veículos apresentaram uma redução de 8% quando comparamos março e junho com julho a outubro. Já os roubos de carga, também, tiveram queda no estado.

"Vemos que a partir de março que houve reduções expressivas, principalmente no roubo de cargas, e roubo de veículos nos últimos quatro meses. O número de letalidade violenta estão em patamares simulares ao do ano passado. Houve uma queda do homicídio doloso. Entretanto, houve um aumento no homicídio em decorrência de intervenção policial.

Esses números não foram apresentados. Então não dá para afirmar ou não se houve mudança de patamar nos últimos meses. O homicídio doloso apresentou uma queda de 5% na comparação dos últimos dois quadrimestres (março a junho e julho a outubro). A mesma coisa aconteceu com o latrocínio (roubo seguido de morte). Também foi registrado queda no mesmo período.

"Houve uma redução de crimes. Digo que, saímos de uma febre alta e agora temos que manter esse controle. Tivemos avanços nesses meses. O que temos que ter em mente é que foram nove meses de trabalho e que ele precisa ser continuado. O processo de segurança pública precisa saber que não se melhora de uma hora para outra. Áreas de destaque de redução de crime são em Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Duque de Caxias. O estado está tendo algumas diminuições”, falou Joana.

Segundo José Eduardo Gussem, procurador-geral de Justiça do estado, antes da intervenção "o estado estava desgovernado, sem controle, sem método de trabalho." O chefe do Ministério Público do Rio disse que com a intervenção vem melhorando gradualmente na segurança pública, mas que há "divergências" entre a procuradoria e o interventor em relação a algumas estratégias adotadas pelos militares. "Nem sempre vamos concordar com a intervenção”. Ele também criticou a corrupção e os corruptores "que afundaram o Rio", sem citar nomes.

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