Farmacêutico foi morto por PM após acidente de trânsito - FOTOS DE Reprodução
Farmacêutico foi morto por PM após acidente de trânsitoFOTOS DE Reprodução
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A família do farmacêutico José Eduardo Elian, de 46 anos, luta a dias para sepultar o corpo do ente querido. Ele foi assassinado na manhã da última quinta-feira, na Avenida Brasil, pelo soldado da PM Cleiton de Oliveira Guimarães durante uma briga de trânsito. 

Só neste domingo parentes conseguiram vaga no Cemitério de Santa Cruz, na Zona Oeste, para enterrar José Eduardo, às 11h. Durante três dias, o corpo ficou no Instituto Médico Legal (IML) da Leopoldina, no Centro. Durante esse  tempo, os familiares tiveram que esperar por vagas nos cemitérios do município para que ele fosse sepultado.

No de Santa Cruz, José Eduardo era o segundo da fila para o enterro. Já no Cemitério de Campo Grande, onde os parantes queriam que o farmacêutico fosse velado e enterrado, ele estava em oitavo da lista.

Na manhã da última quinta-feira, Guimarães, lotado em uma na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Fazendinha, no Complexo do Alemão, matou José Eduardo com pelo menos seis tiros. O PM foi preso em flagrante na UPP Nova Brasília, onde chegou para trabalhar como se nada tivesse acontecido. Ele recebeu voz de prisão e foi levado pelo próprio comandante para a Delegacia de Homicídios (DH-Capital).

Soldado Cleiton de Oliveira Guimarães, preso por morte de farmacêutico - Divulgação

O Astra de Guimarães bateu na moto Yamaha XTZ 205 de José Eduardo durante um engarrafamento. Houve um bate-boca e a vítima chegou a propor que o PM pagasse apenas R$ 50. O soldado concordou e deu o dinheiro. Em seguida, ele foi até o carro, pegou a sua pistola calibre 380 e atirou no motociclista. A vítima morreu no local. O homem que estava na garupa da moto não ficou ferido.

A Delegacia de Homicídios (DH-Capital) realizou perícia na cena do crime e recolheu três cartuchos de pistola calibre 380. O PM foi autuado pelo crime de homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e uso de meio que impossibilitou a defesa da vítima). A 2ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) também vai apurar o caso. O homem prestou depoimento da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital e foi encaminhado para a Unidade Prisional da Polícia Militar, no Fonseca, em Niterói.

Farmacêutico trabalhava em Clínica da Família

José Eduardo Elian morava em Campo Grande e trabalhava há cinco anos na Clínica da Família Sylvio Frederico Brauner, em Costa Barros, sendo muito querido pelos moradores da região. O garupa da moto era o técnico de farmácia Marcos Vinícius Pereira de Oliveira, de 29 anos, que sempre pagava carona para o serviço com a vítima. Ao DIA, ele contou como foram os instantes que antecederam a morte.

"Estávamos no corredor, quando o carro do policial saiu e fechou a gente. Caímos, levantamos e fomos conversar com o motorista do carro. Do nada começou uma discussão. A única coisa que o meu amigo pediu foi que ele desse o dinheiro (R$ 50,00) para consertar o retrovisor e a manete que tinha quebrado, que ficaria tudo certo e não teria problema. Nisso, ele deu o dinheiro, foi no carro, pegou a arma e disparou. Não houve discussão. Ele não falou nada antes de disparar. Na hora dos disparos eu me escondi no canteiro central. Depois disso ele fugiu”, relata o sobrevivente, dizendo que ainda não acredita no que aconteceu.

"Minha cabeça está a mil. O Eduardo ajudava todo mundo. No trabalho, em casa. Era uma ótima pessoa”, conta. "O fato de ele estar preso não me conforta, pois a vida do meu amigo se foi. Mas, com ele aqui (preso na DH), não vai fazer isso com outro inocente. A polícia deveria ajudar e não matar”, lamentou o homem.

PM tentou matar outra pessoa após briga no trânsito este ano

No dia 28 de junho, o PM Cleiton Guimarães já tinha tentando matar uma outra pessoa, também em uma briga de trânsito. O caso aconteceu em Santa Cruz, na Zona Oeste. Segundo informações, ele atirou duas vezes contra a vítima, que foi atingida no ombro e no antebraço, mas sobreviveu. Ele vinha sendo investigado pela Polícia Civil desde então. Entretanto, a Polícia Militar não o puniu e ele continuou trabalhando normalmente. A PM não comentou porque não puniu o soldado. O DIA apurou que na ficha do soldado há quatro registros em que ele é o autor: dois são por lesão corporal, um por ameaça e o quarto pela tentativa de homicídio na briga de trânsito em Santa Cruz.

O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse que quando Guimarães atirou e matou José Eduardo "o soldado destruiu sua família e a família da vítima". Blaz classificou a discussão como 'boba' e 'desnecessária' e afirmou que essa não é a conduta que se espera de agentes militares. "Muito provavelmente, ele sera condenado pela justiça comum e expulso da Polícia Militar", afirmou o porta-voz.

Corpo só foi recolhido quase seis horas depois

A Defesa Civil só retirou o corpo de José Eduardo Elian por volta de 12h50, quase seis horas deopis do crime. Os dois filhos do farmacêutico e a mulher estiveram no local do crime. A esposa de José Eduardo ficou sabendo da morte do companheiro pelas redes sociais. A mulher passou mal e precisou ser amparada por parentes. "Por vezes o meu pai trabalhou com o salário atrasado só para ajudar as pessoas. Ele sempre foi o meu exemplo de vida. A ficha ainda não caiu", disse Eduardo Elian, um dos filhos do homem.

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