Rio - O deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) falou nesta sexta-feira, em entrevista coletiva, sobre os nove meses sem solução dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes. Ele comentou sobre a ameaça que o fez cancelar uma agenda em Campo Grande, na Zona Oeste, amanhã, mas o principal assunto foi a falta de responsabilização das mortes. Ele criticou as "declarações de efeito para ganhar tempo", inclusive a mais recente do secretário de Segurança, general Richard Nunes, de que a morte da parlamentar envolve disputa por terras.
"Essa frase tem que ser acompanhada de provas, para que não fique no campo da especulação. Não temos mais tempo a ganhar. (...) Mais que dizer o que acha, o secretário tem que dizer o porquê. Os elementos precisam aparecer", disse Freixo. Em vários momentos, o deputado criticou as investigações, que não chegam aos responsáveis dos crimes e que as hipóteses de envolvimento nas mortes nunca é acompanhada da motivação.
"É lógico que ela provocou descontentamento em alguém, ela foi brutalmente assassinada, mas não vejo conexão (com grilagem), mas isso quem tem que dizer são as investigações. Tudo pode ter acontecido, mas enquanto não soubermos o que aconteceu ficaremos só na especulação", falou reforçando a tese que não basta dizer quem, mas por que.
"Qual é a motivação? Qual a razão? Quem matou Marielle queremos saber, mas por que? É um dos crimes mais sofisticados da história do Rio de Janeiro, que grupo político no século 21 mataria uma vereadora, por qual razão política?", questionou.
Freixo também falou sobre a trama para matá-lo, descoberta pela pela polícia. Segundo o plano, ele seria assassinado neste sábado, durante uma agenda em Campo Grande, na Zona Oeste. O parlamentar reforçou a importância de sua escolta e disse que isso "não é privilégio" e conversa com o Psol, seu partido, de como será sua rotina a partir de agora, inclusive com a ida a Brasília, onde assume em 2019 mandado de deputado federal.
"Não tem a menor condição de eu ficar sem segurança. Se tinham dúvidas, esse episódio retira qualquer uma. A escolta não é privilegio, é resultado do meu trabalho. Cabe ao estado mantê-la, assim como garantir segurança para a sociedade", defendeu, reforçando a importância do trabalho no campo dos direitos humanos.
"Não trabalhamos denunciando uma milícia em específico, nosso trabalho sempre foi pela defesa da lei. Defensor de direitos humanos não são defensores de bandidos, eles defendem a lei. Bandidos na verdade querem matar os defensores dos direitos humanos."
A ameaça, uma das várias que sofreu desde o trabalho na CPI das Milícias, em 2008, que completou 10 anos este mês. Ele voltou a dizer que o trabalho de Marielle na investigação contra grupos paramilitares não teria relação com o assassinato dela, mas disse que quem tem que provar é a polícia. "Marielle trabalhou comigo por 10 anos, inclusive na CPI, mas não determinante, era muito jovem, trabalhava nos bastidores", lembrou. Ele destacou que poucas ações propostas pela CPI foram colocadas em prática.
"Eles têm domínio territorial e eleitoral, por isso as autoridades talvez não apresentam propostas de solução. Tem que tirar o poder econômico e o poder territorial. Não é somente uma ameaça sobre mim, a morte da Marielle é a morte da democracia. Ela não é mais importante que ninguém, nem eu. Eu posso falar de dentro da Alerj, mas há um número enorme de moradores de uma região imensa do Rio que não que pode falar como eu. Essas pessoas estão silenciadas. Providências tem que ser tomadas", falou.
Freixo, inclusive, reforçou que conversou com a amiga um dia antes do crime, e que ela não relatou e nem demonstrou que estivesse sofrendo ameaça. "Conversei com ela um dia antes da morte, programamos uma série de atividades no fim de semana. Não havia sentimento de ameaça, fato que a polícia detectou, confirmou. Não havia qualquer sinal por parte dela que estava sendo ameaçada. Marielle tinha 10 anos de trabalho no meu gabinete, tinha experiência com direitos humanos."