Rio - O ex-pastor Paulo Giovanni Moraes Bezerra, da Segunda Igreja Batista de Vieira Fazenda, na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio, está sendo denunciado por pelo menos três pessoas de abuso sexual contra menores. Segundo as vítimas, os crimes teriam acontecido entre os anos de 2013 e 2016, quando elas, membros da mesma igreja, tinham entre 12 e 16 anos. O suspeito já foi absolvido em outro caso semelhante, que tramitou na 40ª Vara Criminal em 2010, também envolvendo estupro de vulnerável. Na ocasião, o processo foi arquivado.
O caso veio à tona quando a mãe de um dos menores desconfiou da mudança de comportamento do filho, que passou a demorar mais no banheiro, dormir pouco e ficar muito tempo no celular. Segundo a mulher, que não quis se identificar, um quadro de depressão fez com que ela investigasse o que estava acontecendo com o filho. Ao checar o telefone do adolescente, ela encontrou mensagens antigas e fotos de partes íntimas de Giovanni, que pedia para o menor enviar também.
“Ele se sentia ameaçado, tinha medo, porque o Giovanni falava que ninguém ia acreditar nele. Meu filho entrou em depressão duas vezes. Em novembro de 2017 ele não levantava da cama, não tomava banho, não abria o olho, tudo devido a essa situação”, desabafa.
O primeiro abuso aconteceu quando o filho tinha apenas 13 anos. Durante um passeio da igreja, os dois estavam dentro da piscina e Giovanni esfregou as partes íntimas no menino. Depois, entre os 13 e 14 anos, ele foi abusado sexualmente pelo ex-pastor.
Para a mãe, descobrir o que havia ocorrido foi frustrante.
"Foi um sentimento de decepção, por ser um local no qual você tem segurança, por você conhecer, pela pessoa estar ali para liderar, aconselhar e acontecer isso. Fiquei muito decepcionada, por tudo que eu tive a possibilidade de ver".
Ela contou ainda que procurou representantes da igreja após tomar conhecimento do caso e foi convocada uma sessão administrativa extraordinária para discutir a exoneração de Paulo Giovanni. Além de ser afastado da Segunda Igreja Batista em Vieira Fazenda, ele perdeu o título de pastor, não podendo exercer o cargo em nenhuma outra igreja batista.
Nessa época, outra vítima, um jovem de 22 anos, que não quis se identificar, aproveitou a denúncia para expor que também havia passado por uma situação semelhante. Inclusive, fez uma publicação em sua rede social relatando o caso.
Em entrevista ao DIA, a vítima afirma que aos 16 anos o ex-pastor o abusou pelo menos duas vezes. A primeira, ocorreu dentro da igreja.
“A gente estava conversando numa sala isolada da igreja e do nada ele parou atrás de mim e começou a se esfregar. Primeiro, achei que era coisa da minha cabeça, nunca pensei que faria isso”, conta.
O segundo abuso aconteceu quando o jovem estava sozinho em casa. Como a mãe era amiga do ex-pastor, ele acredita que o suspeito sabia da ausência dela.
“Mais ou menos um mês depois (do primeiro episódio), ele apareceu na porta da minha casa pedindo para subir para beber água. Eu deixei... não ia imaginar que ele faria isso de novo. Mas veio atrás de mim e se esfregou outra vez”.
O jovem e a mãe da vítima menor de idade registraram boletim de ocorrência contra Giovanni no final de 2018, na 21ª DP (Bonsucesso), e afirmam conhecer outras vítimas.
“O meu filho não foi o único. Tiveram outros meninos que conversaram comigo e disseram que aconteceu a mesma coisa com eles. Alguns, estão tão traumatizados que não conseguem falar mais sobre o assunto”, conta a mulher.
Relatos em grupos da comunidade do Jacarezinho no Facebook mostram que outras pessoas também acusam o ex-pastor por abusos.
Apesar dos relatos, de acordo com informações da Polícia Civil, existem apenas três boletins de ocorrência com acontecimentos semelhantes. O delegado Flávio Narcizo, que assumiu o caso, afirma que ainda não há provas suficientes para a prisão de Giovanni e, por isso, pede que mais denúncias sejam feitas.
“A nossa demanda é a de que outras supostas vítimas compareçam à delegacia para denunciar", ressalta.
O DIA entrou em contato com o ex-pastor Paulo Giovanni, que aceitou conversar com o jornal, mas não atendeu às ligações.
O crime de estupro de vulnerável está previsto no artigo 217-A do Código Penal e consiste na prática de relações sexuais ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos, pessoa com deficiência mental ou enferma. A pena prevista nesses casos é de 8 a 15 anos de prisão.
*Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno
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