Katia Silene, mãe de Jenifer de 11 anos que morreu baleada em Triagem, na Zona Norte do Rio  - Luciano Belford / Agência O Dia
Katia Silene, mãe de Jenifer de 11 anos que morreu baleada em Triagem, na Zona Norte do Rio Luciano Belford / Agência O Dia
Por O Dia

Rio - "Até quando isso vai continuar? Minha filha só tem 11 anos. É porque a gente é pobre e mora em um barraco? ", indaga chorando muito Kátia Silene, mãe de Jenifer Gomes. A menina foi morta com um tiro no peito enquanto brincava na porta do bar da família, na tarde desta quinta-feira, em Triagem, Zona Norte do Rio.  

A criança chegou a ser socorrida para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu antes de dar entrada na unidade, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde. Ainda não há informações indicando de onde teria vindo o tiro, mas a mãe acusa os policiais militares pelo disparo. 

"Os policiais já chegam atirando. Minha filha ganhou um tiro de fuzil no peito. Ela ainda me pediu socorro", declara Kátia aos prantos. "Ela foi assassinada na porta do meu bar", completa. 

Jenifer Gomes - Reprodução redes sociais

O comando da Polícia Militar do 3º BPM (Méier) informou que equipes foram acionadas para checar um roubo de carga, no condomínio Morar Carioca, em Triagem. Ao chegarem ao local, os policiais se depararam com moradores carregando uma criança ferida. Os agentes deram continuidade ao socorro e encaminharam a menina ao hospital. A corporação ainda ressalta que não havia operação na localidade e que nenhum policial da unidade efetuou disparos de arma de fogo durante o episódio.

Ainda de acordo com a PM, uma outra parte da equipe seguiu com as buscas e encontrou um homem baleado carregando uma mochila com entorpecentes e uma pistola calibre 380. O ferido foi socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo. Um segundo homem também foi atingido e socorrido por moradores locais para unidade de saúde ainda desconhecida.

"Quando socorreram minha filha realmente não tinha tiroteio. Tinha os quatro policiais que vinham do ferro velho. De onde vieram esses tiros, se não tinha bandido, se não tinha ninguém armado? De onde surgiu? Só eles que apareceram. Foi quem então? Eu não tenho arma, ninguém tem arma na minha família", afirma a mãe. 

Segundo Kátia, foram quatro disparos. "Ela me disse 'mãe, eu estou baleada'. O tiro pegou no peito da minha filha", diz. "Eu tenho que viver e enterrar minha filha", conclui. 

A Delegacia de Homicídios (DH) da Capital informou que um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de uma menor. Uma perícia foi realizada no local e familiares e testemunhas estão sendo ouvidos. 

 

Ônibus é queimado durante protesto pela morte de menina de 11 anos em Triagem - WhatsApp

Moradores fizeram protesto após morte 

Após a morte, um grupo de moradores tentou impedir o fluxo das vias da região atirando objetos e lixo nas ruas, porém foram contidos por policiais. Um ônibus também foi queimado. Por volta das 14h30, o Metrô Rio divulgou que a estação Triagem estava fechada devido ao tiroteio. A interdição durou 10 minutos e o serviço já foi regularizado. A circulação de veículos nas vias também foi normalizada.

De acordo com o Fogo Cruzado, Jenifer é a primeira criança vítima fatal de bala perdida na Região Metropolitana do Estado. Em 2018, 24 crianças foram atingidas por bala perdida no Grande Rio, 4 morreram. A vítima mais nova, um bebê de 6 meses, foi baleado no colo da mãe dentro de uma escola no Cosme Velho, Zona Sul.

Rio de Paz pede que Governo do Estado preste auxílio à família de Jenifer 

A ONG Rio de Paz solicitou ao Governo do Estado que preste auxílio à família da menina Jenifer, além ‪de empenho na investigação. O Rio de Paz também lançou a hashtag #QuemMatouJenifer com o intuito de buscar uma resposta no caso.

A Rio de Paz instalará amanhã, às 13h, na Lagoa Rodrigo de Freitas (Curva do Calombo), um cartaz com o nome da menina Jenifer. O local já possui uma instalação com o nome das outras crianças vítimas de bala perdida no Rio de Janeiro desde 2007.

 Segundo a ONG, entre 2007 e 2019, 53 crianças (0-14) foram mortas por bala perdida no Rio de Janeiro. “Em geral, crianças pobres, moradoras de favela, mortas em confronto entre policiais e bandidos. As famílias das vítimas não recebem assistência do poder público, e a autoria do crime jamais é elucidada”, afirma Antônio Carlos Costa, presidente e fundador do Rio de Paz.

 

 

 

 

 

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