Um morador é abordado por policiais militares durante operaçãoMarcio Mercante / arquivo O Dia
Por Antonio Puga e Luana Benedito
Publicado 08/02/2019 18:39 | Atualizado 08/02/2019 22:44

Rio - Após as 13 mortes durante uma operação da Polícia Militar, na manhã desta sexta-feira, no Morro Fallet-Fogueteiro, os policiais envolvidos no confronto estão sendo ouvidos na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, que investiga o caso. De acordo com a especializada, as armas dos PMs foram recolhidas e encaminhadas para a perícia.

A ação da PM nos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro e dos Prazeres, Catumbi contou com policiais dos batalhões de Operações Especiais (Bope) e do Choque (BPChq). De acordo com a Secretária Municipal de Saúde, treze homens deram entrada já mortos no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio. Há mais um ferido no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da mesma unidade.

De acordo com a corporação, a partir de denúncias e informações do Setor de Inteligência, foi feito vasculhamento em alguns pontos da comunidade do Fallet, nesta manhã. Policiais do BPChq foram recebidos a tiros e houve confronto. Após cessarem os disparos, dez criminosos feridos foram encontrados em vias da comunidade e foram socorridos para o Hospital Municipal Souza Aguiar (HMSA).

No entanto, a versão é contestada por moradores. Eles alegam que cerca de 10 pessoas foram rendidas pela PM em uma casa e, mesmo após se entregar, parte delas teria sido morta pelos policiais. Uma prima de Robson da Silva Pereira, um dos mortos na casa, disse que os PMs não aceitaram a rendição e entraram no imóvel já atirando. "A gente pediu para não fazerem isso, mas os policiais não atenderam. Eles entraram na casa e mataram os rapazes, inclusive meu primo, que não tinha envolvimento com o tráfico".

A mãe de outro condenou a ação dos policiais. "Eles não podem agir assim. Eles se renderam, não havia motivo para matar. A polícia serve para proteger as pessoas e não matar, como fizeram como meu filho", desabafou.

Álvaro Quintão, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem de Advogados do Brasil (OAB-RJ), diz que a comissão está ouvindo as famílias e os moradores. Ele conta que ouviu diversos relatos parecidos, que pessoas estavam encurraladas e se entregando no momento em que foram abatidas pelos policiais.

"As famílias ainda estão sendo ouvidas. Nós estamos apurando quem de fato era inocente. Mas o que prevalece nesta ação, é ausência de política públicas. É uma operação totalmente sem propósito e desastrada", declara.

Para Álvaro Quintão, segurança pública se faz com inteligência. "A Polícia chegou agindo como se apontar, atirar e matar fosse a solução, como se o tiro fosse a única solução", afirma. A comissão ouvirá ainda outros depoimentos e encaminhará as denúncias para os órgãos competentes. 

Em nota, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro disse acompanhar "desde o início desta manhã as operações policiais que resultaram na morte de 13 pessoas". "A instituição está com contato com moradores para articular visita à comunidade do Fallet nos próximos dias, com o objetivo de ouvir relatos. Informamos que nossa Ouvidoria Externa e o nosso Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos estão à disposição daqueles que tiverem algum dos seus direitos violados".

A Polícia Militar informou que foram apreendidos dois fuzis, nove pistolas e cinco granadas. Uma moto também foi recuperada pela corporação. No Morro dos Prazeres, os PMs apreenderam uma pistola calibre .40, uma pistola calibre 9 mm, dois radiostransmissores e um aparelho telefônico após confronto com criminosos. Dois foram encontrados feridos, sendo levados ao Souza Aguiar. Em outro ponto da comunidade, um fuzil calibre 5,56, uma pistola calibre .40 e uma granada foram apreendidos.

Ainda segundo a polícia, desde a madrugada desta sexta-feira, as equipes atuam nas comunidades devido aos tiroteios na região provocados por disputa entre grupos criminosos.

Durante a posse do novo secretário de Estado da Polícia Militar, Rogério Figueiredo, o governador Wilson Witzel defendeu o "abate" de criminosos armados de grosso calibre. Ele disse que quem porta fuzil é "inimigo e terrorista". Um dia antes, na sua posse, ele disse que quem pega armas, "a guerra deve ter".

"Vamos combater o crime organizado de forma muito dura. Quem usa um fuzil e não está envergando uniforme é inimigo. Quem usa um fuzil porque quer dominar um território é um terrorista e assim será tratado. Vamos retomar a tranquilidade de qualquer comunidade", defendeu Witzel na ocasião.

Procurado pelo DIA, o governador do estado Wilson Witzel não comentou a atuação da PM. Já a oposição do político usou as redes sociais para criticar ação da corporação. 

"Nas favelas a polícia entra com o pé na porta, fuzil na cara: atira antes, pergunta depois. Hoje mais de 10 mortos nos Morros da Coroa e do Fallet. Até quando?", indagou a deputada estadual Renata Souza (Psol). 

"O que acontece no Fallet Fogueteiro e no Morro da Coroa é criminoso. A operação policial matou 13 "suspeitos" e deixou os moradores em pânico. A guerra às drogas mata sem julgamento, na ilegalidade, aterroriza e ameaça famílias. Não podemos achar isso normal!", escreveu a também deputada estadual Dani Monteiro, companheira de partido de Renata. 

 

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