Rio - A perícia verificou, inicialmente, que pelo menos 11 dos 15 mortos durante operação policial na madrugada de sexta-feira, nas comunidades do Fallet, Fogueteiro, Prazeres e Coroa, podem ter sido atingidos por disparos de curta distância, no peito e na cabeça.
Segundo fontes, os 11 corpos foram atingidos por mais de dois tiros cada. Os exames teriam indicado 'orla de tatuagem' nas vítimas, ou seja, resquícios de pólvora provenientes do cano da arma, o que indicaria que os tiros foram disparados de perto. A maioria dos jovens, entre 15 e 22 anos, seriam negros, acrescentou a perícia.
Na operação, ocorrida depois de tiroteios entre as facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro nos bairros de Santa Teresa e Catumbi, foram presas 11 pessoas e outras três ficaram feridas. A Polícia Militar afirma que um confronto foi iniciado depois de criminosos fortemente armados atirarem de dentro de uma casa.
Já o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio, Pedro Strozenberg, acredita que esses fatos precisam ser investigados, pois familiares dos mortos e moradores da região relataram tortura e execução. "Vizinhos escutaram gritos de 'não faça isso', 'perdi' e 'tenho filhos'", disse ele.
Hoje, a Defensoria vai oficialmente representar as famílias das 15 vítimas. "Vamos pedir laudos de necropsia para verificar as circunstâncias em que eles foram mortos. E faremos contato com os órgãos de Segurança, como Ministério Público e Delegacia de Homicídios, que acompanham o caso", ponderou Strozenberg.
Outra versão
Mãe de dois mortos, de 16 e 22 anos, contou que foi à padaria, e ao retornar encontrou os filhos baleados e muito sangue em sua casa. Ela preferiu não ser identificada. "Eles estavam dormindo, e fui comprar pão. Quando voltei estavam sendo arrastados para o carro. Me desesperei", disse.
Os jovens chegaram a ser levados para o Hospital Souza Aguiar, mas não resistiram. A mãe acredita que o mais velho tinha sinais de enforcamento e três tiros, um no tórax. O caçula, que ela chama de "pequenininho", teria sido baleado no peito e esfaqueado nas pernas. "Não consegui voltar pra casa, ainda não estou acreditando. Eles gritaram 'socorro', mas os policiais jogaram spray de pimenta nos vizinhos. Fecharam a porta, executaram meus filhos, e enrolaram os corpos no meu próprio tapete", relatou.
Questionada se os filhos tinham envolvimento com o tráfico de drogas, a moradora do Fallet não soube responder. "Não posso te afirmar que sim ou não, pois o mais velho vivia conversando com eles (traficantes). Isso não quer dizer que os policiais tinham o direito de executá-lo, se viram ou pegaram algo deveriam ter levado ele preso. Mas o caçula eu tenho certeza que nunca".
Em nota, a PM manteve a versão de que houve confrontos, e não se posicionou sobre a perícia, nem a respeito do relato da mãe das vítimas. A Polícia Civil informou que aguarda o resultado dos laudos periciais e faz diligências.
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