Maestrina Thaís Bezerra e seus alunos da Escola Municipal João Barbalho, em Ramos.Divulgação
Por ANGÉLICA FERNANDES
Publicado 24/02/2019 04:00 | Atualizado 24/02/2019 14:21

Rio - Lá do alto do trio ela reina. Com seu inseparável apito e sua pasta de arranjos musicais, a maestrina Thaís Bezerra repete há dez anos a responsabilidade de comandar a bateria de 160 integrantes do Multibloco, um dos mais famosos da Lapa. O sorriso largo que se mistura muitas vezes ao semblante sério quando uma nota sai do compasso dá jus a sua fama de linha dura, e na regência, ela incorpora uma concentração invejável e exige de seus parceiros de bloco sempre a excelência. Mas quem vê Thaís nem imagina o tanto que batalhou para, hoje, colecionar conquistas, que vão do mestrado em música pela Unirio, passando pela criação de oficinas e lançamento de um livro, até sua experiência internacional, com shows inclusive na Grécia.

No auge dos seus 36 anos, Thaís carrega o lema de encarar desafios a sério. Foi com essa determinação que ela abandonou a profissão de fisioterapeuta e o curso de Medicina, em 2008, para mergulhar fundo na música e no Carnaval. De cara, recebeu logo uma missão irrecusável, a de fundar o bloco. Era para ser apenas para funcionários da editora Multifoco, na Lapa, mas a coisa tomou uma proporção tão grande que se tornou o Multibloco.

"Começamos com 30 pessoas. Nosso primeiro desfile, na Rua do Rezende, em 2009, foi com uma caixinha de som em um sábado de Carnaval, ao meio-dia, para aproveitar as pessoas que passassem pela Lapa", disse Thaís. Naquele ano nem ela e nem seu parceiro nessa aventura, o cofundador Lino Amorim, imaginavam que, hoje, o Multibloco se tornaria uma escola de percussão, com desfiles temáticos e projetos extras, como os de festejos juninos. No sábado, a bateria vai tomar a Lapa, às 9h, com o tema Amor e promete um Carnaval democrático, livre de preconceito.

MULTIPROFISSIONAL

Além do Multibloco, Thaís é maestrina do Terreirada Cearense, fundou o Orquestra Rítmica, que estreia neste Carnaval, compõe um grupo só de mulheres na banda Damas de Ferro — de fanfarra e que toca em festivais fora do Brasil —, e dá aulas de música na Escola Municipal João Barbalho, em Ramos, regendo a banda marcial. Assim como seus alunos das oficinas de blocos, a maestrina foi adotada como uma mãe também na escola.

Maestrina Thaís Bezerra e seus alunos da Escola Municipal João Barbalho, em Ramos.Divulgação

"As pessoas me procuram porque querem mudar alguma coisa na vida. Eu sinto essa responsabilidade, mas também tenho orgulho quando vejo meus alunos crescendo, fundando blocos e se profissionalizando", destacou.

 'Preconceito? Se vivi, nem senti'

Em posição de liderança durante toda sua carreira, Thaís conta que foi bem aceita e não se lembra de ter sofrido preconceito. "Sempre fui muito focada e correta nas coisas que eu faço. As pessoas me respeitam e eu vejo que encorajo muitas mulheres". Mas já teve episódios em que ela precisou falar mais alto. "Foi com um homem, em um projeto fora do Brasil. Ele desconsiderou o que eu tinha dito, então eu joguei a baqueta no chão e disse pra ele fazer o que quisesse porque eu estava certa. Depois que disso, ele me ouviu", contou Thaís.

No Multibloco, na Lapa, ela coordena 160 ritmistas: "É a minha maior paixão" Marcelle Gebara/ DIVULGAÇÃO

Em sua trajetória internacional, a maestrina lembra com carinho quando tocou na cerimônia da tocha olímpica na Grécia. "Só a música poderia me levar para tão longe". Na Califórnia, ela já comandou por dois anos a bateria do Carnaval local, e na Finlândia, ministrou cursos. Também já tocou no México, Cuba, Nova York, Texas, Colômbia e Uruguai.

No ano passado, como parte do trabalho de mestrado, lançou o livro 'Tá no Batuque', que ensina um pouco dos instrumentos de percussão, do Carnaval de rua.

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