Publicado 26/02/2019 03:00 | Atualizado 17/05/2019 09:19
Rio - Entre o céu e o inferno. Católicos do Vale Paraibano (entre São José dos Campos, do lado paulista, e Barra do Piraí, em solo fluminense) e do Noroeste do interior de São Paulo, estão vivendo uma situação inusitada e controversa. Enquanto a primeira região — marco da fé católica, que ostenta a suntuosa Basílica de Nossa Senhora Aparecida e berço do primeiro santo nascido no Brasil, Frei Galvão — cultua pelo menos outros seis candidatos à santidade, a outra tem vários líderes, inclusive bispos, mergulhados em escândalos sexuais e financeiros.
O clima em São José do Rio Preto, onde o atual arcebispo do Rio, o cardeal Dom Orani Tempesta já atuou, é de guerra. E nada santa. O caso mais rumoroso envolve o bispo Dom Tomé Ferreira da Silva. Recentemente, o jornal Bom Dia publicou troca de mensagens de WhatsApp atribuída a ele e a um jovem, com teor sexual. Dom Tomé, acusado de omissão em casos de pedofilia envolvendo padres, responde a processo aberto em agosto por Dom José Negri, enviado pelo Papa Francisco.
Nas mensagens, o bispo pede que o rapaz mostre suas "pernas, bumbum". A conversa induz que os dois já haviam trocado fotos. Dom Tomé escreveu: "Quero mais". O rapaz respondeu: "Mostre e retribuo", e o bispo disse: "Já mandei".
Negri ouviu cerca de 80 dos 120 padres do bispado de 30 cidades. "Até agora nenhuma providência. Já são seis anos de escândalos. Pedimos até Dom Orani que intercedesse por nós junto ao Papa. Os fiéis estão estarrecidos, indignados. Muitos já se afastaram das missas", afirma o comerciante Antônio Amâncio, que chegou a enviar a Roma, em 2013, abaixo-assinado com mais de 2 mil assinaturas pedindo a saída de Tomé.
Diante da situação, que "obriga o bispo a andar escondido e ter pouco contato com sacerdotes e fiéis", segundo um padre, Dom Tomé renunciou a dois cargos: um na Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outro no Tribunal Eclesiástico. Ele tentou ser transferido para Montenegro (RS), mas foi rejeitado.
Na semana passada, Papa Francisco excomungou o padre goiano Jean Rogers Rodrigo de Sousa, 45, por abusar sexualmente de ex-freiras. Com isso, ele não pode mais usar o hábito e celebrar missas.
Dom Tomé não quis dar entrevista. A CNBB informou que a Nunciatura (espécie de Embaixada de Roma) deveria se manifestar, mas não se pronunciou, assim como Dom Orani.
Vítimas denunciam assédio
X, de 19 anos, denunciou à polícia o bispo de Jaboticabal (SP), Dom Eduardo Pinheiro da Silva. Ele relada que, em 2015, Dom Eduardo “o abraçou por trás e agarrou seu órgão” com a conivência do padre Ermínio Ignácio dos Reis. Ambos negam.
Em Limeira, o bispo Dom Vilson Dias de Oliveira é acusado de acobertar crimes de pedofilia. O MP investiga.
Já o reitor da Basília de Santo Antônio, padre Pedro Leandro Ricardo, 50, é acusado por quatro ex-coroinhas de suposto assédio sexual na época em que atuava em Americana (SP). Ele nega.
Viva voz
X., 19 anos
Registrou abuso contra bispo
“Acabaram comigo. São lobos e não cordeiros”
Dom Eduardo e o padre Ermínio acabaram com minha vida, sobretudo de servidor religioso. Depois que os denunciei à polícia, minha rotina virou um inferno. Até ameaças de morte já recebi para retirar a queixa na delegacia (de Vista Alegre do Alto). Eles e um outro padre me ameaçam, assim como a meus parentes. São lobos em peles de cordeiros. Nos perseguem psicologicamente. Tomo medicamentos contra depressão. Quero justiça.
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