Umas das sobreviventes, Thayane Tavares, de 21 anos, está no terceiro período da faculdade de Direito  - Armando Paiva/ Agencia O Dia
Umas das sobreviventes, Thayane Tavares, de 21 anos, está no terceiro período da faculdade de Direito Armando Paiva/ Agencia O Dia
Por RENAN SCHUINDT

Rio - Adriana Silveira foi despertada por um telefonema. Do outro lado da linha, uma amiga a orientou a ligar a televisão. Ao ver a tragédia em Suzano (SP), relembrou do dia do massacre de Realengo. Ela é mãe de Luiza Paula, uma das vítimas da tragédia que deixou 12 mortos na Escola Municipal Tasso da Silveira. Lembrou da manhã de 7 de abril de 2011, quando viu a filha se arrumando para ir à escola. A sua memória a levou de volta para a entrada da Tasso da Silveira. Foi a última vez que viu a filha com vida. Luiza Paula tinha 14 anos. Hoje, é lembrada por uma das estátuas do memorial, que fica ao lado do lugar da tragédia.

“Quando vi a notícia, fiquei em choque. Não podia acreditar no que estava vendo. Mais uma vez, nossas crianças perdem a vida debruçadas em cadernos e livros”, lamenta Adriana, que se tornou presidente da Associação Anjos de Realengo, instituição que reúne familiares e sobreviventes do episódio que chocou o país. A entidade trabalha, ainda, a questão do bullying nas escolas. Adriana revela que a pouca atenção dada pelo estado aos familiares trouxe danos irreparáveis. “Em nosso grupo, temos mães que perderam a sanidade mental. Parece exagero, mas esse é o resultado do descaso”.

Segundo ela, a luta pela inclusão de atendimento psicológico nas escolas tem sido contínua. “Este é um pedido que fazemos há oito anos. Muitas crianças chegam à sala de aula com problemas que não estão sendo percebidos. O bullying, por exemplo, é um problema que está inserido no universo escolar. Precisamos de programas que atendam essas necessidades. A prevenção sempre será o melhor remédio”, propõe a porta-voz do grupo.

Atingida por dois tiros na barriga e um na cintura, Thayane Tavares sobreviveu ao massacre de Realengo. Mas perdeu o movimento das pernas. Aos 21 anos, a estudante de Direito também reviveu o drama da tragédia ao ficar sabendo da chacina de Suzano. “É muito triste ver que esse fato se repete mais uma vez. É inacreditável”. Mãe de Thayane, Andréia Tavares reclama da falta de apoio. “Não houve acompanhamento psicológico para nossas famílias. Quando precisamos de uma consulta, o processo é o mesmo enfrentado por qualquer cidadão, em uma Clínica da Família. Nosso sofrimento e circunstâncias nunca foram levados em conta”.

Mesmo baleado, o ex-aluno Allan Mendes conseguiu chamar a PM - Armando Paiva

Allan Mendes levou quatro tiros, mas conseguiu correr, em busca de socorro. Foi ele quem acionou a Polícia Militar na rua, impedindo que a tragédia fosse ainda maior. A PM entrou na unidade e conseguiu conter o atirador, que em seguida cometeu suicídio. “Foi um dia de muita tristeza. Não tenho palavras para descrever o que sinto. É difícil chegar aqui e não reviver tudo aquilo”, desabafou. 

Um ato ecumênico está marcado para ocorrer no dia 7 de abril. Pais de vítimas farão limpeza do local - Armando Paiva

Sensação da vizinhança é de abandono

No portão da Escola Municipal Tasso da Silveira havia dois guardas municipais fazendo a segurança do local. Uma placa avisa sobre o monitoramento feito por câmeras de segurança, voltadas para o pátio e para a entrada da unidade de ensino.

Apesar disso, a sensação de medo ainda atinge vizinhos e moradores da região, na Zona Oeste do Rio. Após a notícia da tragédia de Suzano (SP), alguns pais chegaram a ir na escola fora do horário de entrada ou saída apenas para checar se estava tudo bem com os filhos, ontem à tarde. É como se o fantasma da tragédia ainda rondasse o local.

Mãe de uma das vítimas, Adriana Silveira é umas das fundadoras da Associação Anjos de Realengo, que trabalha questões ligadas ao bullying em escolas e ONGs cariocas - FOTOS DE Armando Paiva

“A gente liga a TV e não tem como não vir aqui ver as crianças. É o instinto materno”, diz a dona de casa Renata Rodrigues.

Na praça ao lado da escola, batizada como Anjos de Realengo, o monumento em homenagem às vítimas parece não receber a atenção que deveria. Mato alto e folhas secas se juntam às marcas de fogo no muro, uma extensão da homenagem, que traz palavras de impacto, como ‘sonhar, expressar e crescer’.

Guardas municipais são responsáveis pela segurança da escola - Armando Paiva

Segundo moradores, as marcas do incêndio foram causadas após um ato de vandalismo, ocorrido em janeiro deste ano. “Quem cuida são os pais das crianças. Eles é que vêm aqui, limpam e cortam o mato. Segurança, aqui, é quase nenhuma”, desabafa a moradora de Realengo, Sheila Dias.

 

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