Vereador Babá (Psol) - Divulgação
Vereador Babá (Psol)Divulgação
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Desde que assumiu a vaga de Marielle Franco (Psol) na Câmara Municipal do Rio, após a morte dela, João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PSOL), tem um desafio: honrar o legado da quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016, com 46.502 votos em sua primeira disputa nas urnas. Suplente de Marielle, o paraense de 65 anos recebeu 6.661 votos. Nesta entrevista, por e-mail, Babá lamenta que projetos da parlamentar, assassinada há um ano, enfrentem resistência dentro da Casa pelos setores ultraconservadores. É a situação das pautas voltadas para as causas dos LGBTs e para os direitos reprodutivos das mulheres. Ele garante, no entanto, que as proposições que não forem debatidas na atual legislatura serão reapresentadas pela próxima bancada eleita em 2020.

Babá faz coro para que as investigações sobre os assassinatos de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, sigam até que os mandantes e a real motivação sejam desvendados. Além disso, cobra a formação de uma comissão independente do Estado para acompanhar a apuração, com representantes da sociedade civil. Sobre um ano sem a colega, declara: "Por um lado representa uma tristeza muito grande pela perda de uma companheira, uma jovem, uma mulher, uma negra, favelada, que alçou um importante espaço na vida pública. Por outro, nos traz alento que sua morte tenha feito ecoar de forma estrondosa sua voz, que é a voz da luta do povo pobre e das pessoas oprimidas". Leia a entrevista completa a seguir.

Quais são seus maiores desafios representando a vaga de Marielle Franco na Câmara dos Vereadores do Rio?

O desafio maior é honrar o legado da Marielle em defesa da população pobre, das favelas, das pautas em favor das minorias e dos setores mais oprimidos da sociedade, que tanto nosso mandato quanto a bancada do PSOL estão empenhados em manter.

De que forma o senhor se preocupa em manter os ideais do trabalho legislativo que ela exercia? 

Desde o início do mandato nós tivemos a preocupação em manter a maioria da equipe da Marielle para garantir que os projetos e o legado políticos da Marielle fossem preservados. Agora, com a eleição de três companheiras que foram da equipe da Marielle, parte da assessoria que foi mantida conosco agora está compondo estes importantíssimos e representativos novos mandatos legislativos. Foi uma forma de contribuir para preservar o trabalho político da Marielle e também de acolher as pessoas que com ela atuaram.

Como está o andamento dos projetos de Marielle e quais deles são suas prioridades?

Debatemos que os projetos da companheira seriam encaminhados de maneira comum pela bancada do PSOL. Parte dos projetos já foram encaminhados e aprovados. Outros que não forem debatidos nessa legislatura serão devidamente reapresentados pela próxima bancada eleita em 2020. Todos os projetos da Marielle serão colocados em pauta.

Qual é a receptividade dos vereadores para discutir os projetos que Marielle apresentou?

No geral, a Marielle apresentou projetos muito interessantes e de grande relevância. Contudo, os projetos que versam sobre a pauta de LGBTs e sobre os direitos reprodutivos das mulheres enfrentam resistência dentro da Casa, especialmente dos setores ultraconservadores.

Quais são suas metas até o fim do mandato?

Nossa principal meta é sermos uma voz das lutas da classe trabalhadora. Nesse sentido, por exemplo, nosso mandato impulsionou uma Frente Parlamentar contra o regime de capitalização da Previdência. Nós achamos que esse modelo defendido pelo governo Bolsonaro é o que há de pior para o sistema previdenciário e para a classe trabalhadora. Nosso mandato sempre se colocou a serviço das diversas reivindicações das diversas categorias e dos setores em mobilização. Assim estivemos na luta da saúde e apresentamos projetos de lei por melhores condições de trabalho para os garis. Na contramão da reforma da previdência que aumenta a idade mínima da aposentadoria, temos um projeto de lei pra reduzir a idade mínima do passe-livre aos idosos para 60 anos e fomos co-autores, junto ao mandato do vereador Renato Cinco, de um projeto que garante passe-livre aos estudantes de cursinhos de pré-vestibular popular.

Como o senhor avalia as prisões de dois acusados de participação no assassinato, quase um ano após o crime?

Achamos que é um avanço que os muito prováveis executores da Marielle tenham sido identificados e presos, ainda que tardiamente. Contudo, isso não é suficiente. Nós queremos respostas para as duas mais fundamentais perguntas. Quem mandou matar Marielle e por que motivo?

O senhor confia nas investigações?

As investigações têm que seguir até que seja elucidado quem mandou matar Marielle e por quê. Diante dos vazamentos nas investigações, do envolvimento de agentes e ex-agentes do Estado no crime e da recente tentativa de esvaziar o conteúdo político dos assassinatos, aventando a inverossímil hipótese de crime de ódio de cunho meramente passional, entendemos que deveria ser formada uma comissão independente do Estado para acompanhar as investigações, com representantes da sociedade civil tais como a Anistia Internacional, a OAB e especialistas em segurança pública, de forma a fiscalizar os rumos da apuração deste crime.

Como as prisões repercutiram entre os vereadores?

Foi muito recente. Há no momento muito cuidado e discrição na abordagem desse tema.

O que representa um ano sem Marielle Franco?

Por um lado representa uma tristeza muito grande pela perda de uma companheira, uma jovem, uma mulher, uma negra, favelada, que alçou um importante espaço na vida pública. Por outro, nos traz alento que sua morte tenha feito ecoar de forma estrondosa sua voz, que é a voz da luta do povo pobre e das pessoas oprimidas. Das lágrimas de desolação durante o comovente cortejo de despedida, que lotou a Cinelândia no dia seguinte à sua morte, fomos às lágrimas de profunda emoção pela homenagem durante o cortejo de carnaval da Estação Primeira de Mangueira, que retratou a relevância de personagens da história do país que juntos sintetizam as mesmas causas que Marielle representava. Marielle se tornou ícone de "um país que não está no retrato", como bem cantava o samba da Verde e Rosa.

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