O vereador Wendel Coelho era do Avante - Arquivo Pessoal
O vereador Wendel Coelho era do AvanteArquivo Pessoal
Por O Dia

Rio - O assassinato do vereador Wendel Coelho (Avante), baleado na madrugada de domingo quando passava de carro pelo bairro Engenheiro Pedreira, em Japeri, colocou mais uma vez em evidência uma preocupante estatística da Baixada Fluminense: os ataques a políticos da região. Só neste ano, foram quatro atentados — dois deles contra prefeitos. Após as eleições de outubro do ano passado, já foram sete registros. De 2018 para cá, sete políticos morreram.

Eleito com 729 votos para o seu primeiro mandato, o vereador de apenas 26 anos foi atingido por um tiro no peito quando estava no banco do motorista de um Cobalt, às 4h50. Ele dirigia rumo ao bairro Alecrim e estava com o irmão Wellerson de Lima Coelho quando o veículo foi cercado por vários motociclistas. Ao passar pela Praça Olavo Bilac, um deles deu início a uma perseguição e conseguiu atingir o político.

A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga o caso. Familiares de Wendel estiveram ontem na especializada para prestar depoimento. Irmão de criação da vítima, Paulo Júnior, 23 anos, contou que o vereador chegou a falar após ser baleado. "Ele olhou para onde levou o tiro e falou com o irmão que estava junto com ele: 'Guinho (como chamava o irmão), estou morrendo'", contou.

Cezar Melo, prefeito em exercício de Japeri, decretou luto oficial de três dias. "Nos solidarizamos com a família e pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares, amigos e moradores". Colegas de partido de Wendel dizem não saber qual pode ter sido a motivação do crime. "Ele era muito querido. Não estamos entendendo nada", lamentou o vereador Alex Gonçalves (PSL).

Ataques contra políticos na Baixada - LUIZA ERTHAL

Poder público e o tráfico

A motivação do crime ainda é desconhecida. Mas o cenário político de Japeri já foi alvo de investigações por supostas ligações com o crime. Em julho do ano passado, uma força-tarefa envolvendo o Ministério Público e a DHBF resultou na prisão do então prefeito Carlos Moraes, acusado de se aliar a uma das principais facções criminosas do Rio para formar um curral eleitoral. A associação incluiu até fraudes em licitações. A Operação Sênones foi às ruas para cumprir 41 mandados de prisão.

Outros casos

Em novembro de 2018, Miguel Angelo Steffan de Souza, ex-candidato a prefeito de Seropédica, foi morto por criminosos. Alvo de ameaças, ele andava com um carro blindado. Em janeiro, o veículo de Washington Reis (MDB), prefeito de Caxias, foi atingido por tiros. Um mês depois, Wagner dos Santos Carneiro (MDB), prefeito de Belford Roxo, sofreu um atentado.

'Na tribuna, reclamava de violência', diz colega de partido

Em seu primeiro mandato, Wendell Coelho (Avante), de 26 anos, era reservado e usava pouco a tribuna da Câmara Municipal de Japeri para se manifestar. Nas últimas vezes que pediu a palavra, reclamou do crescimento da violência na cidade, segundo contam seus colegas de partido.

"Ele já tinha feito várias denúncias reclamando da violência no município. O que queremos agora é uma boa apuração do crime. Ele já tinha falado também sobre o medo de ser assaltado. Precisamos saber se o assassinato teve natureza política", cobrou Vinícius Cordeiro, presidente estadual do Avante.

Presidente municipal do Avante em Japeri e responsável por levar Wendell para a política, em 2016, o ex-vereador Edson Zanatta relembra o perfil reservado do colega. "Sempre foi de falar pouco, mas, recentemente, quando subiu na tribuna foi justamente para reclamar de violência", comentou Zanatta.

Também vereador em Japeri, Alex Gonçalves (PSL) diz que Wendell nunca comentou sobre ameaças. "Ele estava sempre sorridente, tranquilíssimo e simples. Ia a pé para a Câmara. Estamos consternados porque ele era uma pessoa maravilhosa e muito jovem", disse.

Reportagem de Beatriz Perez, Maria Inez Magalhães, Maria Luisa de Melo e Marina Cardoso

 

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