Buraco na Rua dos Artistas, entre as rua Pereira Nunes e Ribeiro Guimarães foi aberto há mais de um mês. Limita a passagem dos carros e, com água, há focos de mosquitos - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Buraco na Rua dos Artistas, entre as rua Pereira Nunes e Ribeiro Guimarães foi aberto há mais de um mês. Limita a passagem dos carros e, com água, há focos de mosquitosDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por Antonio Augusto Puga

Rio - O segurança Hilson Guimarães teve ferimentos na cabeça e no queixo quando o carro dele entrou em um buraco na Rua Capitão Teixeira, em Realengo, na Zona Oeste. Na Zona Sul, há crateras nas principais vias de acesso ao bairro de Botafogo. Na Zona Norte, José Ricardo Custódio tropeçou em uma destas 'armadilhas' ao atravessar a Avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido, e quase foi atropelado. Na Rua Mem de Sá, esquina com a Rua do Rezende, no Centro, os motoristas precisam desviar para que seus carros não sejam danificados. E até na Avenida Presidente Vargas, próximo à prefeitura, há buracos que atrapalham o tráfego de veículos no local.

O DIA percorreu vias de todas as regiões da cidade e flagrou o descaso do poder público com a conservação do asfalto. Recentemente, o prefeito Marcelo Crivella, que nesta quinta-feira sofreu seu terceiro pedido de impeachment na Câmara Municipal, disse que o Rio é uma esculhambação. Mas as ruas mostram que é um problema de gestão administrativa. É a primeira de uma série de reportagens que revelam problemas no cotidiano dos cariocas que deveriam ser resolvidos pela Prefeitura.

Roberto da Silva: 'É difícil para cadeirante. A cidade está toda assim' - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Quando choveu, na tarde desta quinta, as ruas São Clemente e Voluntários da Pátria buracos viraram poças. No Centro, também há inúmeros problemas. Na Avenida Teixeira Freitas, há falhas por toda a via, de diferentes tamanhos e profundidades. Um taxista viu a equipe do DIA e gritou: 'Manda as fotos para o prefeito'. A situação dos pedestres não é muito diferente. Na Avenida Henrique Valadares, eles precisam se espremer entre uma árvore, tapumes e até em um outdoor eletrônico para não pisar em buracos, missão impossível para pessoas com deficiência.

Na Zona Norte, quem passa embaixo do elevado Paulo de Frontin enfrenta um desafio. Calçada desnivelada, quebradas e até mesmo um pedaço de ferro colado ao asfalto já fizeram vítimas. É o caso do ambulante José Ricardo Custódio, 51 anos, citado anteriormente. "Eu vendo bala aqui e diariamente vejo as pessoas tropeçarem e caírem. Já tive que ajudar muita a gente a levantar".

Do outro lado da avenida, as calçadas também precisam de manutenção. É dever da prefeitura fiscalizar e cobrar que a obra seja feita pelo responsável pelo imóvel. Esposa de um cadeirante, Gleci Coelho, 34 anos, convive com a dificuldade. "Ando por aqui todos os dias e é um caos. É muito difícil. Às vezes, a gente tem que ir pelo meio da rua, porque na calçada não dá. Eu nunca vi ninguém consertando". O marido, Roberto da Silva desabafa: "É muito difícil para cadeirante. A cidade toda é assim", lamenta. 

Taxista levou carro para consertar, após passar em rombo no asfalto - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Ainda na Zona Norte, na Avenida Marechal Rondon, em frente à Faculdade Celso Lisboa, no Sampaio, o mau estado de conservação fez com que o asfalto invadisse a calçada. "Isso atrapalha na hora de pegar o ônibus porque os motoristas precisam parar fora do ponto. Na correria para embarcar, é comum a queda de idosos e estudantes", desabafa o morador Márcio Machado.

Na Zona Oeste, os problemas são os mesmos. Na esquina da Avenida Santa Cruz com a Rua Marechal Soares de Andréa, em Realengo, um rombo enorme com vazamento de tubulação atormenta motoristas, pedestres e comerciantes. "Está aí há quase seis meses. Já ligamos para a prefeitura e abrimos um protocolo. Mas nada foi resolvido", reclamou Fabrícia Silva, 27 anos. Moradores lembram, inclusive, de um acidente de trânsito causado por uma tentativa de desvio a um buraco. "O motorista entra na curva e se assusta", comentou Fabrícia.

Na Penha, buracos atrapalham acessos de ambulâncias

Na Rua Doutor Weischenk, na Penha, endereço do Hospital Estadual Getúlio Vargas, a pista de asfalto deveria ser lisa para facilitar o acesso das ambulâncias. Mas não é. Em frente à entrada da emergência, a cratera atrapalha a vida dos pacientes e funcionários.

"Onde anda a prefeitura que nada faz para melhorar isso aqui?", questiona a costureira Sueli Vidal. Os problemas não param por ai. Na esquina da Rua Doutor Weischenk com a Avenida Brás de Pina, há um enorme buraco. Azar dos motoristas, que precisam fazer malabarismos para acessar a via. A dona de casa Marize Lima conta que viu muitos automóveis caírem ou colidirem.

"Moro aqui há 15 anos e nunca vi a Avenida Brás de Pina tão abandonada. Sempre tem um carro desviando ou batendo em outro por causa dos buracos". Poucos metros à frente, na esquina com a Rua Gurupá, outra cratera cobra perícia dos motoristas. "Cansei de ajudar motoristas vítimas. O problema começou quando construíram a estação do BRT e até hoje ninguém fez nada", diz Eduardo Nogueira.

A Rua Uranos, em Bonsucesso, também convive com buracos com esgoto dos dois lados da via. Em um deles, fica a calçada de acesso à estação da SuperVia. Isso tem contribuído com a queda das vendas do comércio local. "Quem vai querer comprar algo com este mau cheiro e buraco? O prefeito parece estar mais preocupado com outras atividades do que conservar as ruas da cidade que ele administra", critica o comerciante Adriano Costa, dono de uma loja de roupas.

Manobras para evitar acidentes

Pneus não resistem aos buracos existentes na Rua São Francisco Xavier, no Maracanã. Manobras radicais são exigidas dos motoristas. Inclusive de quem conduz ônibus que passam no local. Na Rua dos Artistas, em Vila Isabel, um buraco causa preocupação diária aos moradores.

"Coloca em risco a vida das pessoas e dos motoristas. Já pedimos para a prefeitura fazer o conserto. Mas ninguém apareceu. Além do perigo, o buraco acumula água da chuva e atrai mosquito e pode ser um criadouro do transmissor da dengue", alerta o aposentado Giovani Tavares, que mora próximo ao local.

Prefeitura nega descaso

Procurada, a prefeitura informou que realiza constantemente vistorias e ações para restabelecer o pavimento das ruas da cidade. E que, nos últimos dois anos, já atuou "eliminando mais de 174 mil buracos". Logo no primeiro ano de governo de Crivella, foram investidos quase R$ 12 milhões em ações de tapa buraco. No ano passado, a cifra subiu para R$ 14,5 milhões.

Segundo a nota, a produção de asfalto também cresceu. Em 2017, foram produzidas 29 mil toneladas, enquanto no ano passado o número subiu para 48 mil. "O cidadão pode solicitar o reparo pelo canal 1746", diz trecho.

*estagiária sob supervisão de Herculano Barreto Filho

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