Ronnie Lessa quando foi preso, no dia 12 março de 2019Arquivo O DIA
Por ADRIANA CRUZ E MARIA INEZ MAGALHÃES
Publicado 16/03/2019 03:00 | Atualizado 16/03/2019 10:00

Rio - Acusados dos assassinatos da vereadora Marielle Franco, do Psol, e do seu motorista Anderson Gomes, o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz acompanhavam as investigações do caso na Delegacia de Homicídio. Agentes da especializada flagraram os suspeitos combinando depoimentos com suposta colaboração de PMs da ativa e possivelmente milicianos. O poder de informação dos denunciados era tanto que a Polícia Civil e o Ministério Público (MP) anteciparam em 24 horas a operação para prendê-los e cumprir mandados de busca e apreensão, que ocorreu na terça-feira. Há suspeita ainda de que Lessa fugiria para os EUA. E mais: relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou um depósito de R$ 100 mil, em dinheiro, de Lessa feito por ele mesmo na boca do caixa de um banco, na Barra da Tijuca, no dia 9 de outubro do ano passado.

Antes de prestar novo depoimento e depois, Queiroz se reuniu com um policial e Lessa em 1º de fevereiro por mais de uma hora num bar, na Barra. Na delegacia, Queiroz revelou o encontro com o policial, mas omitiu a presença de Lessa. Já o policial, segundo o juiz do 4º Tribunal do Júri, Gustavo Kalil, "parece também ter esquecido de mencionar que, imediatamente antes de comparecer àquela especializada, encontrou-se com Ronnie Lessa. E logo após prestar declarações à Autoridade Policial, (...) retornou ao estabelecimento comercial permanecendo em companhia de Lessa por mais de uma hora, restando inconteste que o denunciado acompanha, de perto, a investigação policial do Caso Marielle", escreveu o magistrado na decisão que recebeu a denúncia do MP contra Lessa e Queiroz pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio contra a assessora de Marielle, Fernanda Chaves, e receptação.

OUTROS CRIMES E VIDA DE LUXO

De acordo com as investigações, o rastreamento de movimentação financeira suspeita de Lessa pode indicar a possibilidade de outros crimes estarem em andamento. O que foi decisivo para o juiz determinar o bloqueio de bens dos acusados. No inquérito, há ainda áudios que flagraram o PM e Queiroz falando sobre outras empreitadas criminosas.

Lessa mantinha uma vida de luxo incompatível com aposentadoria de sargento reformado da PM, que chegava a pouco mais de R$ 7 mil líquidos. Há informações relatadas à Justiça de que ele seria proprietário de diversas armas, dois imóveis, um avaliado em R$ 150 mil. Os agentes o fotografaram pilotando uma lancha de R$ 600 mil, que estaria em nome de laranja, em Angra dos Reis. Lessa foi preso em sua casa no Condomínio Vivendas da Barra, Barra. O mesmo onde mora o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). No local, os agentes apreenderam o carro de Lessa, um Infiniti FX35 V6 AWD blindado. O modelo custa em média R$ 120 mil. A polícia também descobriu que durante o Carnaval, Lessa teria alugado casa de luxo, além de ter outros bens em nome de 'laranjas'.

Além de patrimônio alto, Lessa também gostava de viajar. Atlanta, nos Estados Unidos, seria o destino da fuga do PM. Lá, ele ficaria na casa de um parente. "... Pois o MP noticiou suposto fluxo migratório do acusado Ronnie (...) a uma residência na cidade norte-americana de Atlanta", escreveu o juiz do 4º Tribunal do Júri, Gustavo Kalil, em um dos trechos da decisão que decretou a prisão dele. A fuga para a cidade norte-americana foi um dos motivos que levaram a Justiça a decretar a prisão do policial e a Delegacia de Homicídios e Ministério Público a anteciparem em 24 horas a Operação Buraco do Lume. Já Queiroz é réu em uma processo com indícios de participação em associação criminosa em tramitação na 32ª Vara Criminal. Ele foi expulso da PM por causa do procedimento.

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