Familiares levaram faixas e cartazes para o cemitério de Nilópolis. Após enterro, houve protestoReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Lucas Cardoso
Publicado 18/03/2019 15:39

Rio - Com faixas e mensagens, amigos e familiares participaram da despedida ao menino Kauan Pimenta Peixoto, de 12 anos, morto durante uma operação da Polícia Militar na Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, no Cemitério de Olinda, em Nilópolis. A família optou por retirar o corpo para o sepultamento nesta segunda-feira antes de receber o laudo cadavérico, que deve ser divulgado em 15 dias. Segundo a mãe, Kauan queria ser policial militar.

"A médica disse: 'Seu filho está muito mal, não vou negar, mãe'. Ela me contou que ele levou um tiro na barriga, que perfurou o pulmão, outro na perna e um no pescoço. Agora me explica, como eles colocam uma algema num garoto de 12 anos baleado e jogam no camburão? Vamos insistir, porque meu filho não era criminoso. Eles destruíram uma família inteira. A minha menor não dorme desde sábado", lamentou Luciana Pimenta, mãe de Kauan, que acompanhava o sepultamento sob o efeito de calmantes.

A mãe também contou que foi ao local onde o corpo do seu filho foi atingido, mas não encontrou nenhum sinal de confronto no local. "Assim que soube o que aconteceu, fui ao lugar onde foi baleado e não achei nada. Nenhuma cápsula ou sinal de confronto. Para todos nós da família, amigos e moradores da comunidade está claro que três tiros de fuzil não é bala perdida", finalizou a mãe de Kauan. No momento do sepultamento, Luciana passou mal e foi enviada à UPA de Nilópolis.

Kauan morava em Nilópolis com a mãe e o padrasto, mas passava os finais de semana com o pai, Gilson Pimenta, na comunidade da Chatuba de Mesquita. Segundo Rosimere Ferreira, tia do menino, ele saiu para comprar um lanche quando foi baleado. "Meu sobrinho saiu junto com ele para comprar um lanche. Pouco tempo depois, ele chegou nervoso dizendo que tinha acontecido alguma coisa com o Kauan. O pessoal que estava lá disse que não tinha confronto nenhum e que eles fizeram um cerco em volta do corpo, para ninguém ver o que estavam fazendo. Chegaram até a dar tiro para o alto, com intuito de afastar os moradores que se aglomeravam", garantiu. 

Segundo um parente, que esteve no local onde Kauan foi baleado e preferiu não se identificar, os policiais usaram uma luva para eliminar vestígios do corpo do menino. Os PMs teriam, inclusive, coletado todas as cápsulas do local. "Quem estava na rua na hora contou que eles saíram de lá rindo. Chegaram atirando, quem devia fugiu e o Kauan, que era uma criança e não devia nada acabou sendo vítima. Mesmo avisando que era morador e estudante, os policiais atiraram pela segunda vez com ele já no chão", disse.

"Era um aluno complicado, mas ele era muito bonzinho. Respeitava os professores e tinha bastante amigos na escola. Alguns estão chorando tanto que nem aguentam. Dei aula para quase a família toda. Ele era como se fosse um filho. Tinha problema pra acordar, mas fora isso, era um ótimo menino", disse Sheyla Miranda, professora da Escola Municipal Sagrado Coração de Jesus, onde o adolescente estudou. 

Manifestação

Por volta das 17h, pouco após o enterro do Kauan, moradores revoltado da comunidade Chatuba, em Mesquita, realizaram um ato em protesto contra a morte do adolescente. A Rua Almirante Batista, esquina com a Rondon Gonçalves, onde tudo aconteceu, foi bloqueada com entulhos e móveis também foram queimados para bloquear a passagem de veículos. 

Resposta da PM

Na ocasião da morte de Kauan, a assessoria da PM afirmou que os policiais patrulhavam a região conhecida como Boca do Arrastão por volta das 22h30, deste sábado. Eles foram atacados por criminosos quando chegaram na rua Roldão Gonçalves esquina com Magno de Carvalho. Houve confronto. Após a ação, os militares encontraram Kauan ferido. Foram apreendidos 288 trouxinhas de maconha, 235 pedras de crack, 362 capsulas de cocaína, três radiostransmissores e R$ 98 em espécie.

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