Vídeo feito por moradores do Borel flagram a ação de um helicóptero blindado da PM sobre a comunidade, na manhã desta quarta-feiraReprodução/Internet
Por Felipe Rebouças*
Publicado 21/03/2019 05:00 | Atualizado 21/03/2019 08:56

Rio – A polêmica promessa de campanha do governador Witzel de introduzir drones atiradores nas ações policiais nas favelas do Rio ainda não foi executada. No entanto, moradores do morro do Borel flagraram, no fim da manhã desta quarta-feira, agentes policiais realizando disparos de arma de fogo em direção à comunidade enquanto sobrevoavam a região dentro de um helicóptero blindado da Polícia Militar. "Estou morando aqui há quase um ano e ainda não tinha visto nada parecido", disse um morador do Borel que não quis se identificar. Somente neste mês, as ações com aeronaves da PM já foram gravadas e publicadas nas redes sociais em, ao menos, três oportunidades diferentes.

Na manhã de terça-feira, anteontem, foi a vez dos moradores da Cidade de Deus relatarem rajadas de disparos vindas de um helicóptero blindado da Polícia Civil. Em ambos os casos, no Borel e na CDD, a Polícia Militar informou que as operações tinham como objetivo cumprir mandados de prisão com o intuito de combater o tráfico de drogas. Tanto na terça quanto ontem, a corporação informou que as ações resultaram na apreensão de entorpecentes.

No dia 8, moradores do Complexo do Alemão acordaram ao som de rasantes de helicópteros e intenso tiroteio durante operação policial. Segundo relatos de moradores, agentes deram rajadas de disparos de cima da aeronave. Os tiros começaram por volta das 9h e até as 13h.

"É nítido que nesse novo governo, os discursos que criminalizam a favela, sem construção de perspectivas futuras que não sejam a violência, seguem semeando terror em nossas vidas. Agora se tornou comum vermos helicópteros disparando rajadas de fuzis que fazem enormes crateras no chão. Sabe o resultado quando um projétil desse atravessa uma ou mais casas na favela? Faz nascer a chamada "vítima de bala perdida". Mas como pode ser perdida, munições vindas de tiros disparados de helicópteros que estão em operação na favela?", critica Raull Santiago, ativista do Alemão e um dos responsáveis pelo Coletivo Papo Reto.

Para o ex-capitão da PM, Rodrigo Pimentel, é preciso avaliar a realidade vivida na cidade do Rio de Janeiro antes de fazer qualquer afirmação acerca do emprego de aeronaves em operações policiais. "A verdade é que vivemos uma guerra de baixa intensidade no Rio. O ideal seria que as aeronaves servissem apenas para guiar as operações e mapear estrategicamente as ações. Mas, infelizmente, em muitas das vezes o helicóptero salva a vida de muitos policias. Eu mesmo já me vi encurralado e consegui escapar graças à intervenção dos atiradores", diz Pimentel.

Em outubro do ano passado, a Secretaria de Segurança decretou novas regras para a atuação da polícia durante operações no Rio. Uma delas foi o fim do uso de helicópteros para disparar rajadas. Foi uma ordem da Justiça que obrigou o estado a apresentar um plano para reduzir os riscos e danos aos direitos humanos durante investidas.

"Essa prática é feita no mundo todo, o problema é como ele é feito. É legítimo que o helicóptero dê um apoio aéreo, mas é importante saber como usar o recurso. Tratando-se de armas de alto grau de letalidade, o risco de um projétil ricochetear e atingir um inocente é enorme", afirma o delegado federal aposentado, Antônio Royal.

"A prioridade da polícia é proteger a população. Se tiver que escolher entre matar o bandido e salvar a vida de algum morador, o policial tem que optar pela segunda opção", conclui Royal.

Questionada pelo DIA se o emprego de aeronaves entrará na rotina das ações policias, a PM não respondeu. O Ministério Público do Rio de Janeiro também foi procurado, mas não obtivemos resposta.

*Estagiário sob supervisão de Marlos Mendes

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