Antônio José de Barros Savino fingia ser empresário de 400 famosos 
 - reprodução da internet
Antônio José de Barros Savino fingia ser empresário de 400 famosos reprodução da internet
Por ADRIANA CRUZ

Rio - "Mudou a minha vida. Perdi tudo. Meus amigos e família se afastaram porque reprovaram eu ter caído no golpe, e meu filho é usuário de drogas até hoje", desabafou a mãe de um rapaz que investiu R$ 500 mil num falso projeto para se transformar em um ator famoso. Atualmente, essa senhora vive com renda de dois salários mínimos (R$ 1.996). Como a coluna Justiça e Cidadania publicou nesta terça-feira com exclusividade, a fraude lesou jovens do interior de São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina que sonhavam ser famosos no Rio de Janeiro e eram escolhidos a dedo em redes sociais por Antônio José de Barros Savino. O farsante foi condenado a mais de 32 anos de prisão e está preso.

Savino controlava cada passo das vítimas por WhatsApp, Facebook e Orkut e obrigou o grupo, de pelo menos 15 jovens, a entregar senhas e cartões de banco. Os rapazes eram drogados e obrigadas a fazer sexo com Savino. "Vendi casa, dei dois carros. Ele dava drogas para o meu menino como se fossem remédios. Meu filho, que sonhava ser ator internacional, conseguiu vencer o vício do crack, mas ainda usa outras drogas", contou a senhora. Segundo ela, a farsa era muito bem montada. "Ele mandava e-mails com nomes de pessoas famosas, apresentava contrato com emissora de TV, até fui figurante em uma novela", revelou. Comparsa de Savino, Maycon Rodrigo da Cunha foi punido com mais de três anos de detenção. Ele está foragido.

Na internet, Savino apresentava falso currículo como empresário de 400 famosos. Publicava matérias fakes sobre um suposto sucesso dos jovens em propagandas de empresas e projetos fictícios em folhetins de emissora de TV. Mas confinava os 15 rapazes em uma casa e um apartamento na Zona Oeste do Rio.

Quem ousava descumprir as ordens de Savino era ameaçado de morte. Ele dizia que recorreria a um policial especialista em dar surras. O terror psicológico era tão grande que os jovens eram proibidos até de ter namoradas, e todos os contatos que faziam eram monitorados.

Farsante profissional

"Não culpo as vítimas. Sou juiz há mais de 20 anos, nunca vi nada parecido. O réu tinha um talento para enganar as pessoas. Nunca havia julgado alguém com tanta sagacidade", afirmou o juiz Marco Couto, da 1ª Vara Criminal de Jacarepaguá, responsável pela sentença. Segundo Couto, Savino ainda tem outros processos em tramitação na Vara. Para impressionar os aficionados pela fama, Savino hospedou jovens em um hotel onde estavam os participantes de um reality show. Assim, passava a impressão de ser grande empresário, dono das empresas Stage e A.J. Holding. Vítimas contaram que Savino montava falsos projetos sigilosos com salários fictícios de até R$ 100 mil.

Os advogados dos condenados foram procurados pelo DIA, mas não foram encontrados.

Troca por 'favores sexuais'

As artimanhas de Antônio Savino começaram a ser desmanteladas no gabinete da promotora Christiane Monnerat, que denunciou os acusados em março de 2017. "Ouvi um a um. Ele (Savino) ia minando a resistência dos rapazes, que buscavam o estrelato mediante fraude para favores sexuais. Ainda há muitos (deles) viciados em crack", afirmou.

Monnerat revelou ainda que, durante as investigações, para boicotar as denúncias das vítimas, outros ‘soldados’ aliados de Savino iam prestar queixas contra os insubordinados na 32ª DP (Taquara). O farsante fazia também ameaças de morte contra os jovens. Para coibir essa prática, Monnerat denunciou à Justiça Savino, Maycon Rodrigo da Cunha e Patrick Teixeira Righi.

Na denúncia, a promotora relata que Promotora diz que farsante minava resistência das vítimas Righi foi à delegacia, em 1º de março de 2015, informar que vários objetos — entre os quais um par de óculos da marca Rayban, um terno e a quantia de R$ 800 — teriam sido furtados por uma das vítimas. Mas, na verdade, tratava-se de falsa comunicação de crime para impedir que um dos jovens denunciasse Sabino e Maycon.

"Eles queriam que as verdadeiras vítimas, que passavam por rígida doutrina, ficassem longe da delegacia. Ouvi os jovens sempre acompanhados de suas mães", relembra a promotora. De acordo com Monnerat, Savino incutia nas cabeças dos aficionados pela fama até promessa de emprego de modelo fora do país. Ele chegou também a arrumar namorado fictício em Portugal para a mãe de um dos rapazes.

"Com muita lábia, ele pegava a confiança das mães", explicou a promotora, acrescentando que as vítimas e suas famílias contaram, ao longo do processo, com a ajuda de assistentes sociais.

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