Ex-governador Sérgio Cabral - Tasso Marcelo / Estadão Conteúdo
Ex-governador Sérgio CabralTasso Marcelo / Estadão Conteúdo
Por ADRIANA CRUZ

Rio - O ex-governador Sérgio Cabral, do MDB, remontou ontem para o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, o seu período de ascensão e queda em uma trajetória de corrupção de 32 anos, iniciada em 1987, quando Moreira Franco estava à frente do governo do Estado do Rio. Bancados pela propina, principalmente da Fetranspor, Cabral elencou políticos, ex-governadores, membros do Ministério Público, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), deputados federais, senadores e ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele revelou também que a campanha de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio foi irrigada com R$ 6 milhões, em 2008. E mais: que comprou o apoio do prefeito Marcelo Crivella, do PRB, à época senador, que ficou fora do segundo turno, por seis milhões de dólares, financiado por Eike Batista.

“A corrupção é uma praga. Antes, todos queriam me conhecer. Agora dão graças a Deus”, afirmou Cabral. Segundo ele, a Fetranspor foi criada para combater a política do ex-governador Leonel Brizola, do PDT, que encampou as empresas de ônibus. Mas, em seguida, ‘irrigou’ os governos Moreira Franco, novamente Leonel Brizola, Marcello Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, pelo do próprio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Moreira Franco teria contado com o então procurador-geral de Justiça Carlos Antônio Navega no esquema de corrupção para favorecer as empresas de ônibus. Navega faleceu em 2017.

Em nota, o advogado de Moreira Franco, Antônio Pitombo, rebateu. “Em situação processual e jurídica difícil, com diversas condenações que ultrapassam a existência, condenados — candidatos a delatores — sentem-se imunes aos riscos da calúnia e da difamação”, alegou Pitombo. Cabral disse também que bancou a campanha do tucano Aécio Neves à Presidência da República com R$ 1,5 milhão, em 2014. “Ele estava cabisbaixo porque estava sendo ultrapassado pela Marina”, argumentou.

‘FUI ACHACADO’

Sem dar nomes, Cabral falou ainda que foi achacado por deputados federais e senadores, e fez ‘tratos’ com ministros do TCU e STJ. “Recebi até ameaça do Régis Fichtner (ex-chefe da Casa Civil). Então, pedi a presidente Dilma para nomear o ministro Marco Aurélio Belizze. O STJ é um tribunal geograficamente político”, afirmou.

Cabral confessou que quando foi presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), de 1995 a 2002, administrou pessoalmente a caixinha da Fetranspor. E mesmo quando foi eleito senador, de 2003 a 2006, recebeu mesada de até R$ 300 mil de Jorge Picciani, cacique do MDB. Para garantir a propina, Executivo e Legislativos faziam favores à Fetranspor, como permitir a extensão das permissões de ônibus por 15 anos, em 1997. “Com a propina de R$ 15 milhões, divididos para mim e ele, o Picciani comprou a fazenda no Mato Grosso”, disse Cabral.

Procurada, a defesa de Picciani não foi localizada. Conforme Cabral, Garotinho adquiriu rádios e jornal também com dinheiro de corrupção da Fetranspor. No Facebook, Garotinho negou as acusações. “A defesa do ex-governador Anthony Garotinho e sua esposa Rosinha Garotinho afirmam, com veemência, não haver uma única verdade no depoimento de Cabral”, diz um dos trechos, alegando também que as investigações contra Cabral começaram com denúncias de Garotinho na Procuradoria-Geral da República.

Foi Cabral quem pediu a Bretas para ser ouvido ontem no âmbito da operação Ponto Final, que apurou esquema de corrupção com os empresários de ônibus, entre eles Jacob Barata Filho e José Carlos Lavouras. “Mesmo quando a passagem aumentava abaixo do valor, ganhávamos propina”, lembrou. 

*Colaborou Lucas Cardoso

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