Nova reitora Denise Carvalho, em foto de campanha, ao lado do companheiro de candidatura e professor do Instituto de Economia, Carlos Frederico Leão Rocha - Reprodução / Facebook
Nova reitora Denise Carvalho, em foto de campanha, ao lado do companheiro de candidatura e professor do Instituto de Economia, Carlos Frederico Leão RochaReprodução / Facebook
Por Felipe Rebouças*

Rio – Pela primeira vez em cem anos, os técnico-administrativos, professores e estudantes da UFRJ elegeram uma mulher para o cargo de reitora da Universidade. A professora do Instituto de Biofísica Denise Pires de Carvalho, eleita em primeiro turno à frente da 'Chapa 10 – UFRJ Vai Ser Diferente', recebeu a notícia da vitória na madrugada deste sábado, por volta das 3h da madrugada. 

"É muito emocionante esse momento, principalmente porque a comunidade acadêmica se mobilizou muito. Foram muitos votos de estudantes, técnicos, professores que acreditaram e acreditam no nosso projeto. Um projeto inovador de aumentar o diálogo, de democratizar ainda mais a Universidade, que deve permanecer pública, gratuita e de qualidade. Com a ajuda de todos vocês, inclusive dos nossos concorrentes nesse pleito", declarou, em vídeo, a candidata eleita na página oficial da chapa 10, no Facebook.

Ainda não foi divulgado o resultado final do pleito, cuja votação foi realizada entre os dias 2 e 4 deste mês, de forma híbrida, com cédulas de papel e urnas eletrônicas espalhadas pelos câmpus da UFRJ. Eleita para o quadriênio 2019-2023, ela vai substituir o atual reitor Roberto Leher, que estava apoiando o grupo concorrente 'Chapa 40 – Unidade e Diversidade'.

No fim da tarde ontem, a Comissão Coordenadora da Pesquisa (CCP) concluiu a apuração dos votos das 123 urnas eletrônicas utilizadas para a escolha do novo reitorado. Restando, apenas, as cédulas de papel, que tiveram a apuração concluída apenas na madrugada deste domingo. 

A candidatura eleita tinha, até o momento, 23,21% dos votos, com 7,76% oriundos de alunos, 39,23% de professores e 22,66% de técnicos-administrativos. Em seguida, estava o professor Oscar Rosa Mattos, da chapa 40, com 16,20% dos votos, sendo 8,73% feitos por alunos, 21,8% por professores e 18,08% por técnicos-administrativos. Em último estava a 'Chapa 20 – Minerva 2.0', liderada pelo professore Roberto dos Santos Bartholo Junior, com 4,64% dos votos, sendo 2,42% feitos por alunos, 8,24% por professores e 3,26% por técnicos-administrativos.

Brancos e nulos somavam 0,96%.

Nomeação do Executivo

Questionada pelo DIA se há algum temor de que o resultado da votação seja deslegitimado pela gestão do atual governo federal, a reitora eleita afirmou que não há razão para tal intervenção. "Não tem nenhum motivo para eu não ser nomeada, a não ser que haja um projeto contra a democracia em curso no país", afirmou Carvalho.

Hoje, cada universidade federal faz a sua eleição e envia três nomes para o Executivo. O Ministério da Educação analisa e encaminha ao presidente. Desde a gestão Lula, o candidato eleito sempre foi o escolhido, embora qualquer um dos três indicados possa ser nomeado.

A primeira nomeação confirmada pela gestão Bolsonaro manteve a tradição de respeitar a decisão da comunidade acadêmica. José Daniel Diniz Melo, reitor eleito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),  teve o nome publicado em sessão extra do Diário Oficial da União, no dia 8 de fevereiro.

O atual encarregado pela pasta, Ricardo Vélez Rodríguez, que segundo indícios revelados pelo próprio presidente da República, deve deixar o cargo ainda nesta semana, já disse que quer mudar as regras, mas não explicou o que fará.

A nomeação de Diniz Melo, que só assumirá em maio, quando acaba o mandato do atual reitor, surpreendeu positivamente os dirigentes de instituições federais de ensino por ter respeitado a tradição de escolher o primeiro nome, mas causou surpresa por ocorrer na frente de outras três que já enviaram a lista tríplice e têm mais pressa, porque estão com reitores temporários designados pelo governo: Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e Universidade Federal do Cariri (UFCA).

No caso da UFTM, o primeiro nome da lista é Fabio Fonseca, que já foi filiado ao PT e ao PSOL e atualmente age como docente do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais do Instituto de Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas da universidade federal mineira. A nomeação do segundo colocado nas eleições da UFTM, Luiz Fernando dos Santos Anjo, chegou a ser encaminhada internamente no governo, mas ainda não foi publicada, de acordo com O Globo. O caso é acompanhado pela comunidade acadêmica porque representará uma sinalização de como a atual gestão vai lidar com as universidades, vistas dentro do MEC como um setor dominado pela 'esquerda'.

*Estagiário sob supervisão de Luana Benedito.

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