Rio de Janeiro - 11.04.19 - Três dias após o temporal que causou destruição em diversos locais na cidade do Rio, no bairro  Jardim Botânico, na rua Lopes Quintas o asfalto e calçadas cederam, causando rachaduras e buracos enormes. Foto: Daniel Castelo Branco / Agência O Dia - Daniel Castelo Branco
Rio de Janeiro - 11.04.19 - Três dias após o temporal que causou destruição em diversos locais na cidade do Rio, no bairro Jardim Botânico, na rua Lopes Quintas o asfalto e calçadas cederam, causando rachaduras e buracos enormes. Foto: Daniel Castelo Branco / Agência O DiaDaniel Castelo Branco
Por Luiz Portilho e Lucas Cardoso

A casa do confeiteiro Matheus Santana foi uma das mais atingidas pela lama trazida pela chuva à rua Rangel Guimarães, no Itanhangá, Zona Oeste do Rio, na noite de segunda-feira. A enxurrada soterrou o interior da residência até quase o teto. A avó dele, de 74 anos, teve de pular a janela para escapar, até ser resgatada por vizinhos, quando era levada pela correnteza. O rapaz, de 21 anos, acusa o condomínio de luxo Reserva Itanhangá de ser o causador da tragédia, pois a lama desceu de de tal terreno, com quem os fundos da casa dele faz divisa.

"Essa história é antiga. Há 15 anos, o condomínio desviou o curso de uma nascente e fez a água passar pelo meu quintal. Minha família teve de fazer uma obra para desviar essa água para outro local. Agora, para piorar, o condomínio desmatou o terreno e deixou as raízes cortadas no mesmo local. Isso forçou ainda mais o muro da minha casa, o qual acabou caindo e trazendo essa lama", disse o confeiteiro.

Matheus tinha uma fábrica de doces no quintal, mas viu o sonho do próprio negócio virar lama. "Investi 15 mil reais nisso no ano passado. Perdi tudo. Dormi no trabalho, um hotel. Quando cheguei, a minha avó disse: "não tem jeito, não temos mais casa". Eu estava construindo meu espaço para sair do hotel. Agora não tem como mais. Por enquanto, estamos abrigados em familiares, na Barra da Tijuca", afirmou o rapaz.

Os pais dele moram em outra casa, no mesmo terreno. A lama derrubou a parede que dividia as duas residências.

Questionada sobre as intervenções denunciadas pelo morador, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Secomserma) informou que irá enviar uma equipe ao local para vistoriar e tomar as providências cabíveis. O condomínio Reserva do Itanhangá não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.

O vendedor Wasley Moreira Lima, 20 anos, foi outro a ter grande prejuízo com a inundação da rua. "Tive que ficar segurando portão para não entrar às rochas gigantes que vinham. Familiares e amigos fazem vaquinha para alugar um apartamento. Só salvamos geladeira, dois armários e um colchão. O resto perdemos", disse o rapaz, que mora na casa com a esposa e o sogro.

Para piorar o drama dos moradores da Rangel Guimarães, a Prefeitura do Rio não havia realizado a limpeza da via até esta quinta-feira. Eles, então, pagaram R$ 700 para que um prestador de serviços particular tirasse, com uma retroescavadeira, nesta quinta-feira, a areia trazida pela água.

"A Comlurb veio ontem (quarta-feira), tirou duas pás de areia, e disse que não tinha maquinário adequado. Aí, fizemos um rateio para contratar a limpeza. Senão ninguém sai de casa com carro", disse o técnico em áudio e vídeo Flávio Francisco Bezerra, 39 anos.

Em nota, a Comlurb disse que está atuando em toda a região. "A Comlurb está atuando em toda a região do Itanhangá, incluindo Muzema e Rio das Pedras, desde a noite de segunda-feira, com um efetivo de 30 garis, oito caminhões basculantes e três pás carregadeiras, além de quatro caminhões basculantes e um coletor de carga lateral, dois coletores de carga traseira, na raspagem e remoção de lama e terra. Na Largo da Barra são mais 20 garis", diz a nota.

A reportagem do DIA, no entanto, não viu sequer um gari na região entre 12h30 e 14h.

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