Rio - O Linha Verde, programa do Disque Denúncia sobre crimes ambientais, recebeu 24 informações neste ano sobre desmatamento e construções irregulares nas regiões do Itanhangá, Muzema, Rio das Pedras, Barrinha, Tijuquinha e Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Em meio a esses relatos, há sete casos relacionados diretamente à ação de milicianos. Na Muzema, região onde o desabamento de dois prédios desta sexta-feira deixou pelo menos 11 mortos e mais de 10 desaparecidos até a manhã desta segunda-feira, o programa contabiliza três denúncias sobre construções irregulares. Dessas, duas envolvem a atuação da milícia.
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O levantamento, feito a pedido de O DIA, confirma a ousadia do grupo de criminosos que lucra há anos com a venda de terrenos e imóveis em situação irregular. Os casos não chegam a ser novidade para o Linha Verde. No ano passado, esses mesmos bairros foram citados em 28 denúncias de crimes ambientais envolvendo desmatamento e obras não autorizadas. Seis delas envolviam milicianos.
Neste ano, a Barra da Tijuca aparece no topo da lista, com 14 casos. Três deles são ligados à atuação de grupos paramilitares. O Itanhangá aparece seis vezes no levantamento (em quatro delas, com informações sobre desmatamento e duas sobre construções irregulares). Um dos casos envolve a milícia.
No ano passado, o Linha Verde recebeu 8,7 mil denúncias sobre ilícitos cometidos contra o Meio Ambiente em todo o Estado do Rio, um aumento de 28% se comparado aos números de 2017. O programa recebe denúncias sobre queimadas, maus tratos, caça e guarda de animais silvestres, fabricação e comercialização de cerol, linha chilena e balões, poluição das águas e solo, extração irregular de árvores, extração mineral, pesca irregular, entre outros assuntos.
Denúncias feitas do interior do estado devem ser direcionadas ao telefone 0300-253-1177 (custo de ligação local). Se estiver na capital, o telefone é 2253 1177. Também é possível o contato pelo aplicativo 'Disque Denúncia RJ', onde usuários com sistema operacional Android ou IOS podem denunciar anexando fotos e vídeos, também com a garantia do anonimato.
DENÚNCIA NA CPI DAS MILÍCIAS
A atuação de milicianos na região da Muzema, com grilagem de terras, construção e venda de imóveis irregulares, foi denunciada há 10 anos no relatório da CPI das Milícias, da Alerj. Hoje deputado federal, Marcelo Freixo, que produziu o relatório na época, disse que nada foi feito desde então porque o poder público se beneficia de alguma forma dessa atuação dos milicianos. "Não é um problema novo. Em 2008, o relatório da CPI das Milícias já denunciava esse crime, que sempre contou com a conivência das autoridades e sempre vitimou os moradores dos bairros pobres do Rio.
Em um dos trechos, o relatório denunciava a construção de um prédio sem licença e com fornecimento ilegal de energia elétrica na Estrada de Jacarepaguá. "Assim agia a milícia de Rio das Pedras, formada por políticos, civis, policiais militares e ex-policiais militares. Eles expulsavam moradores e se apropriavam de suas casas e terrenos, para alugar ou construir ilegalmente", revela.
Freixo fala, ainda, sobre as denúncias envolvendo grilagem e construção ilegal, ações que também servem de fonte de renda para a milícia. "Denunciamos isso há 10 anos, mas as autoridades responsáveis nada fizeram. Certamente porque as milícias transformam domínio territorial e econômico em domínio político e eleitoral. Ou seja, ela interessa a muita gente, porque ajuda a eleger vereadores, deputados, senadores. Quem paga essa conta, quase sempre com a vida, são os moradores das favelas e periferias".