Por Antonio Augusto Puga

Rio - O medo faz parte da rotina de violência de quem vive nas proximidades da comunidade Cidade Alta, em Cordovil, Zona Norte do Rio. Os relatos ouvidos pelo O DIA mostram moradores, pequenos comerciantes, empresas de ônibus e até funcionários da concessionária de gás encanado Naturgy sendo obrigados a obedecer às regras impostas pelos traficantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) — a mesma que controla também a comunidade do Pica-Pau, ali perto.

Quem mora nas redondezas já teve que se acostumar com os tiroteios dia sim, dia não, devido aos confrontos entre os bandidos da Cidade Alta e a organização criminosa que comanda a venda de drogas na favela Cinco Bocas, em Brás de Pina. "Moro aqui há mais de 50 anos e, nos últimos tempos, só tenho visto a situação piorar. Vivo com medo", relatou uma moradora.

O comércio local também é afetado pelo poder paralelo dos bandidos. Alguns comerciantes contam, inclusive, que tiveram de fechar as portas por causa da violência, caso de uma academia de ginástica. O mesmo temor pode ser encontrado no setor imobiliário. Segundo o diretor do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-RJ), Laudimiro Cavalcanti, a violência contribui para a desvalorização das residências:

"Um imóvel naquela região tem valor estimado entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Como o Estado do Rio passa por um momento de crise aliada à violência, existe uma certa desvalorização, mas o principal motivo é que faltam compradores (...) em algumas localidades, (a violência) é maior, e em outras, menor", diz.

Os tentáculos da facção já teriam chegado ao transporte público. Segundo denúncias de moradores, os bandidos passaram a cobrar pedágio das empresas de ônibus para que os coletivos possam transportar quem habita a parte alta da favela. E mais: estariam utilizando a estrutura de TV pirata, o chamado 'gato net', para instalar um sistema de câmeras de monitoramento nos acessos à comunidade.

Recentemente, outra prova de força dos bandidos. Técnicos da concessionária de gás encanado Naturgy dizem que foram impedidos de fazer a religação do sistema. A empresa informou que apresentou ao 16º BPM (Olaria) o planejamento de operação para o restabelecimento. Porém, diante das dificuldades, está avaliando a continuidade da prestação do serviço. Entre os fatores, estão "os registros de agressões e ameaças aos técnicos, a dificuldade de acesso à infraestrutura do gás na comunidade". A concessionária explica ainda que, dos 1.194 clientes de gás canalizado na Cidade Alta, apenas 204 estavam regulares.

Segundo a PM, o comandante do 16°BPM (Olaria) fez contato com a empresa e se dispôs a garantir a prestação do serviço. O porta-voz da corporação, coronel Mauro Fliess, disse que as operações são constantes na região: "Não existe região nas comunidades de Parada de Lucas e Cordovil que não esteja sob a área de atuação de nossas unidades. Em muitos casos, as ações necessitam de um planejamento estratégico específico, que demanda um período até sua execução. Mas seguimos presentes na região", comentou.

Em nota, a Polícia Civil informou que os casos foram registrados na 38ª DP (Brás de Pina) e que as investigações estão em andamento. Até o fechamento da edição, o consórcio Rio Ônibus não retornou para esclarecimentos.

 

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