O vazamento ocorreu próximo à Estrada Rio D'Ouro e foi percebido pouco antes de 1h30, quando forte cheiro tomou conta dos bairros de Parque Capivari e Amapá - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
O vazamento ocorreu próximo à Estrada Rio D'Ouro e foi percebido pouco antes de 1h30, quando forte cheiro tomou conta dos bairros de Parque Capivari e AmapáReginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Tábata Uchoa; Fernanda Soares*

Rio - O vazamento de gasolina que atingiu os bairros Parque Capivari e Amapá, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, pode trazer sérias consequências para o local, uma vez que houve contaminação dos lençóis freáticos na região. A quantidade de produto vazado foi de 236.9 m³. 

Segundo o engenheiro ambiental David Zee, a contaminação dos lençóis freáticos causa prejuízos para a fauna, a flora e até mesmo para a saúde das pessoas. Zee explica que esse tipo de material pesado tem alta toxicidade e permanece no subsolo por muito tempo. 

"Quando essa gasolina é livre na natureza, a gente tem que prestar atenção a dois fatores. O primeiro fator é a toxicidade. O segundo fator é a capacidade de movimento, de mobilização. Como não foi feita a contenção — até porque não foi previsto, foi um acidente causado pela ação humana — o material que se expôs à natureza começou a se infiltrar no subsolo. O lençol freático é uma espécie de um rio, que fica debaixo da terra e vai se movimentando para um determinado local. Então a medida que essa gasolina infiltra o subsolo, ela encontra essa camada de água e se espalha. Ela permanece ativa, não se biodegrada tão facilmente. É isso que causa os danos". 

Os moradores que usam água de poço vão receber água potável da Transpetro. "O importante é não ter ninguém tirando água de poço nas redondezas. A Baixada Fluminense tem esse problema de pontos de fim de linha da água. Existem bairros que ora tem água e ora não tem. Com essa flutuação da presença ou não da água na tubulação da Cedae, se eventualmente tiver alguma rachadura, a gasolina pode se infiltrar e contaminar a água também", alerta o ambientalista. 

"É sempre bom as pessoas fazerem uma observação visual da água que estão bebendo, deixarem a água em um copo, em um vasilhame. Se por acaso começar a subir para a superfície uma espécie de película colorida, é exatamente a gasolina menos densa que contaminou a água", avisa. 

Perigos para a fauna e flora

Apesar de a contaminação ter acontecido nos lençóis freáticos, ainda há riscos para a fauna e a flora. "O subsolo é um local onde existe vida. Existem muitos organismos debaixo do solo que fazem todo um trabalho de gestão de matéria orgânica. Na hora em que entra a gasolina, ela mata toda essa fauna. Então, até se recuperar isso, demora muito tempo devido exatamente a perenidade da toxicidade desse material. O material fica tóxico por muito tempo antes de ser biodegradável. A absorção dele na natureza é lenta. Permanece cinco, 10 anos no local", diz David Zee. 

"Agora tem que fazer um trabalho de limpeza do local, retirada ao máximo possível desse solo. A área afetada tem que ser isolada e ser feito um tratamento. Ou seja, a retirada do matéria e substituição por um material inerte que esteja em melhores condições. Esse material que for retirado tem que ser levado para uma estação de tratamento. É preciso tratar todo o resíduo de gasolina que está nele", explica. 

Prefeitura confirma contaminação de lençóis freáticos

A Prefeitura de Duque de Caxias informou que foi constatada a contaminação do lençol freático no local onde houve vazamento de gasolina no município. A Light já foi autorizada a religar a energia elétrica naquela região. O subsecretário municipal de Defesa Civil André Xavier afirmou que, durante a despoluição da área, os moradores que usam água de poço vão receber água potável da Transpetro. Mas ainda não podem retornar para as suas casas.

A Transpetro informa, ainda, que está prestando toda a assistência necessária às famílias vizinhas ao local do vazamento de gasolina, que foram deslocadas para um hotel de Duque de Caxias. A companhia destacou equipes para o recolhimento do produto vazado e remoção do solo contaminado. Os profissionais também ficarão com a responsabilidade de fazer o monitoramento permanente de toda a região. Uma unidade especializada de atendimento à fauna está instalada na área.

A empresa trabalha em conjunto com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea/RJ) e com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O objetivo desse trabalho em grupo é unir esforços para diminuir os impactos ao meio ambiente e à população. Entre os recursos mobilizados, estão caminhões-vácuo, escavadeira hidráulica, ambulância, barreiras absorventes e de contenção, drone e uma unidade móvel de operações.

Defesa Civil continua monitorando a área

A Defesa Civil de Duque de Caxias continua monitorando a área afetada pelo vazamento de gasolina no bairro Capivari, na madrugada da última sexta-feira, que afetou 17 pessoas de quatro famílias que construíram suas casas próximas aos dutos da Transpetro e deixou a menor Ana Cristina Pacheco, de 9 anos, com queimaduras graves. A empresa, subsidiária da Petrobras, é responsável pela instalação e fiscalização dos dutos de petróleo que passam pelo município além de monitorar as áreas para evitar construções de moradias e furtos de combustíveis.

O subsecretário municipal de Defesa Civil, André Xavier, disse que as famílias afetadas pelo vazamento de gasolina só poderão voltar para suas casas depois que a Transpetro realizar a descontaminação do lençol freático por empresa cadastrada no Inea – Instituto Estadual do Ambiente. A empresa será responsável também pelo fornecimento de água potável por tempo indeterminado para os moradores. Neste sábado, a Defesa Civil autorizou a Light a religar a rede de energia elétrica na região.

“Por determinação da Defesa Civil, a Transpetro transferiu para um hotel do município os moradores afetados pelo vazamento de gasolina. No dia do acidente eles foram encaminhados para casas de parentes e depois levados pela Transpetro para um hotel da cidade”, disse o subsecretário de Defesa Civil de Duque de Caxias André Xavier.

MULTA PODE CHEGAR A R$ 17 MILHÕES

Foi feita também pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente uma avaliação às causas, impactos ambientais e consequências por vazamento de combustível identificando quais os danos causados. A Secretaria emitirá um auto de infração destacando todos os prejuízos e vai aplicar uma multa que pode chegar a R$ 17 milhões.

*Estagiária sob supervisão de Bruno Ferreira

 

 

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