“Ele é trabalhador! Não o mate”. O grito desesperado de Daiane Horrara, de 27 anos, salvou a vida do marido catador de lixo Luciano Almeida, de 28 anos. Ele foi baleado na ação do Exército em que os militares mataram com 80 tiros o músico Evaldo Rosa, em Guadalupe, Zona Norte do Rio, no último domingo.
Grávida de cinco meses, ela ainda não foi procurada pelas autoridades e está sendo assistida pela ONG Rio de Paz, que iniciou uma campanha para ajudá-la.
Luciano e Daiane são moradores de rua. Ele foi atingido ao tentar ajudar Evaldo e a família dele que estavam no carro do músico atingido pelos disparos. O sogro da vítima também foi ferido.
Daiane correu até o Luciano quando viu um soldado do Exército se aproximando dele, já baleado e caído no chão, apontando um fuzil. Ao ver o desespero de Daiane, as pessoas do local se juntaram a ela gritando que Luciano era inocente.
No entanto, o morador de rua continua em estado grave lutando pela vida no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes. Nove militares acusados da morte de Evaldo estão presos e tiveram a liberdade negada nesta sexta-feira pela Justiça Militar.
Sem enxoval para o bebê
Na casa de parentes desde que o marido foi baleado, Daiane não tem enxoval para o bebê e nem fez o pré-natal.
"Fomos até o Carlos Chagas porque sabíamos que o marido dela estava lá em coma, a conhecemos, oferecemos ajudar e ela aceitou prontamente. Daiane está muito abalada, chorou muito conosco, principalmente quando viu uma postagem nossa (do Rio de Paz) onde reconhecemos o ato heróico de seu marido", contou o presidente da ONG, Antonio Carlos Costa.
Segundo ele, um vídeo mostra que Luciano demorou a ser socorrido. "Ela testemunhou a agonia do marido, e o que nos chamou a atenção foi que ele não foi prontamente socorrido e ficou agonizando no local onde foi baleado. Soldados até se aproximaram, mas nenhuma ajuda imediata foi prestada, apesar de estar evidente que ele se encontrava vivo", lamentou Antonio Carlos.
Daiane está na casa da família de Luciano onde todos também estão precisando de ajuda. "Todos precisam de ajuda financeira e amparo psicológico, principalmente ela que agora ela não tem nem o provedor, que oferecia a ela o mínino que um catador de lixo é capaz de proporcionar", contou Antonio Carlos.
Campanha já começou
A Rio de Paz já garantiu ajuda jurídica para Daiane que será assistida pelo advogado João Tancredo. A ONG também acaba de lançar uma campanha para ajudá-la a comprar o enxoval para o bebê e cestas básicas, fazer pré-natal, pagar aluguel para que ela possa morar com o marido em uma casa e conseguir apoio psicológico.
As contribuições devem ser depositadas na conta da ONG Rio de Paz. Banco Itaú, agência 1185, conta 44820-4 e CNPJ 09.551.891/0001-49.
Na quantia, é preciso acrescentar 0,83 centavos para que a ONG identifiquei o depósito para Daiane.
Comentários