Os garis Murilo Lemos, artista do grafite, e Alessandra Gomes da Silva, formada em fisioterapia
 - Luciano Belford/Agência O Dia
Os garis Murilo Lemos, artista do grafite, e Alessandra Gomes da Silva, formada em fisioterapia Luciano Belford/Agência O Dia
Por *Luana Dandara e Rachel Siston
Rio - A fisioterapeuta Alessandra Gomes da Silva, de 43 anos, concilia diariamente o mestrado com o curso de inglês e o cuidado em casa com os três filhos. Murilo Lemos, de 31, por sua vez, vive cercado de latas de tinta, pincéis, aerógrafos e desenhos do pequeno caçula João Gabriel. Os dois têm em comum uma segunda paixão: o trabalho de gari. A profissão, ícone do bom humor e cultura carioca, é celebrada hoje, oportunidade para homenagear e reconhecer o serviço dos 14 mil responsáveis por manter a limpeza da cidade.
"Ser gari foi o ponto de largada para um sonho muito maior. E graças a essa profissão estou conseguindo alcançar minhas metas", orgulha-se Alessandra, que começou há nove anos na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb). Nascida com lábio leporino, o que a trouxe dificuldade na fala, já ouviu de colegas que nunca conseguiria fazer uma faculdade. Formada e pós-graduada, ela presta atendimentos particulares e está abrindo seu próprio consultório, mas não pretende parar de estudar e sonha com o doutorado.
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"Falta a população tirar o rótulo de que o gari vive dentro do lixo. Tem muito gari formado, atleta, artista", defende Murilo, que é o primeiro e único gari grafiteiro da Comlurb. Junto a equipe de limpeza e manutenção, ele revitaliza áreas críticas de lixo com seus desenhos e frases para encorajar a população a não jogar lixo no local inadequado. "As pessoas conservam o espaço, é uma satisfação enorme promover uma paisagem bacana", diz.
A rotina de Murilo começa às 7h, na limpeza das ruas, e só termina às 22h30, em um galpão de arte. "O desenho é minha vocação. Comecei pintando na calçada", conta ele.
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Pai e filha
Na casa de Fátima Junas, 55 anos, a comemoração hoje é dupla. Isso porque ela e o pai Antônio Manuel Junas, 86, são garis. "Enxerguei nele essa profissão, me espelhei nas conquistas do meu pai. É um orgulho muito grande essa data, a gente bate no peito pra dizer que é gari", afirma ela, que acrescenta que o estigma nos "laranjinhas" ficou no passado. "Éramos chamados de cenourinhas. Agora as pessoas nos param na rua, elogiam, é uma profissão extremamente valorizada, só posso desejar muita força e empenho de trabalho aos meus colegas hoje".
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E as funções dos garis não se resumem a varrição, coleta de resíduos e poda de árvores. Eles também exercem serviços de capina e roçada, limpeza das caixas de ralo, de túneis durante a madrugada, do espelho d´água da Lagoa Rodrigo de Freitas, de escolas da rede municipal, das areias das praias e nas feiras livres, recolhimento de entulhos de obras e bens inservíveis, manutenção de mobiliário urbano e brinquedos nas praças, remoção de pichações, combate a vetores e limpeza e desinfecção de hospitais municipais.
"Eu abracei a Comlurb por um futuro, porque muitos não vêm o gari como um profissional, então, eu olhei a Comlurb como a ponte para o meu futuro", finalizou Fátima.
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*Estagiárias sob supervisão de Clarissa Monteagudo