Rapaz recebeu alta ontem e pode perder movimentos da perna - Arquivo Pessoal
Rapaz recebeu alta ontem e pode perder movimentos da pernaArquivo Pessoal
Por RAI AQUINO
Rio - Familiares do jogador de futebol Wagner Alves da Silva Júnior, de 23 anos, estão preocupados do jovem perder os movimentos da perna após ter sido atingido por três tiros. Wagner foi baleado por PMs na madrugada de sábado, na localidade conhecida como Itararé, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Desde então, ele está preso custodiado no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, onde já passou por duas cirurgias.
"Ele está com uma das pernas paralisadas por causa de um dos tiros que atingiu o quadril. Ele ainda tá sendo avaliado pelo ortopedista, para ver se faz mais uma cirurgia. Como o ortopedista sabe que ele é jogador, está vendo o que faz para que ele consiga andar direito", conta a cabeleireira Kelly Manso de Souza, 34, tia de Wagner.
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Além da preocupação com a saúde do jogador, que também trabalha como supervisor em uma empresa de alimentos, a família tenta provar a inocência dele. A PM alega que Wagner e uma outra pessoa atiraram contra policiais militares da UPP Fazendinha, que estariam patrulhando a Estrada Itararé. Ele teria sido atingido quando os agentes revidaram.
A versão da família é outra. De acordo com Kelly, Wagner estava realmente no local com outra pessoa, um amigo com quem estaria conversando. Ele, que mora na Penha, tinha acabado de deixar a namorada no conjunto de favelas, na localidade da Grota.
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"Ele parou pra conversar com o amigo, que estava de moto. Ele sentou na moto e ali eles ficaram. Uma viatura da polícia que estava do outro lado da rua jogou o carro em cima deles. Nisso, o Júnior pulou e correu e o outro rapaz pegou a moto e foi para o outro lado", Kelly afirma.
O jovem também trabalha em uma empresa de alimentos - Arquivo Pessoal
A tia diz que nesse momento os policias viraram para a direção de Wagner e atiraram contra ele, acertando três tiros. Depois, eles teriam corrido em direção ao outro rapaz de moto. O jogador andou até a Grota, onde moradores o levaram para o Getúlio Vargas.
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"Os policiais estão alegando que meu sobrinho trocou tiros com eles. Como, se foram eles que chegaram atirando? Eles viram duas pessoas conversando naquela rua, naquela hora e desconfiaram de alguma coisa, mas o meu sobrinho não estava fazendo nada demais. Ele estava apenas conversando. Os policiais é que chegaram bruscamente atirando", alega Kelly.
Além do quadril, os tiros atingiram Wagner de raspão no pescoço e em um dos braços. Testemunhas teriam dito que os disparos foram feitos de um fuzil calibre 556. De acordo com a cabeleireira, algumas pessoas presenciaram a ação e também contestam a versão da polícia.
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"O meu sobrinho não é bandido, não é traficante. Graças a Deus tem testemunha que viu tudo o que aconteceu, desde a hora que ele tava conversando, até a hora que ele tomou tiro e correu para a Grota", avisa.
A cabeleireira questiona a falta de existência de cápsulas de bala no local. De acordo com ela, os policiais teriam atirado de dentro da viatura, fazendo com que elas caíssem no próprio veículo. Uma pessoa da comunidade teria procurado o material no local, não achando nada.
O jogador foi atingido por três tiros - Arquivo Pessoal
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Pouco tempo depois de chegar ao Getúlio Vargas, Wagner recebeu voz de prisão. Ele segue internado custodiado pela Polícia Militar. Lá, a família diz que também está enfrentando outros problemas.
"Os policiais estão tentando tirar ele de lá pra levá-lo diretamente pra (cadeia de) Bangu. Minha irmã está indo todo dia ao Fórum e à delegacia para manter ele lá e provar a inocência dele pra que ele saia de lá pra casa", Kelly enfatiza.
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A família também reclama do atendimento que recebe no Getúlio Vargas. De acordo com a cabeleireira, eles não têm contato com o jogador e recebem pouca informação da unidade de saúde.
"A gente não tem acesso a ele. Até os médicos que falam com a minha irmã ficam se prendendo. Acho que os policiais não estão deixando nem os médicos falarem com a minha irmã. A gente chega no hospital e ninguém dá notícia. A minha irmã não vê ele desde sexta-feira", reclama.
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Procurada pelo DIA, a PM apenas mantém a versão de que os policiais teriam sido atacados, não respondendo aos demais questionamentos.
Sobre o atendimento aos familiares no Hospital Getúlio Vargas, a Secretaria estadual de Saúde nega a versão da família, dizendo que a unidade tem tentando se reportar aos parentes sempre que possível e reforça que, em casos de presos custodiados, a visita de familiares tem que ser autorizada pela PM. A secretaria diz também que a unidade de saúde está à disposição e que ainda não recebeu nenhuma reclamação sobre nos canais oficiais do hospital.
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Familiares e amigos fizeram uma protesto, nesta quarta, na porta do Getúlio Vargas - Reprodução / Vila Cruzeiro - RJ