Na foto maior, Antonio Olimpio, proprietário do Bar Sindicato do Vidigal, lamenta a queda constante de movimento. Ao lado, a Praia de São Conrado às moscas ontem, em pleno domingo de sol - Reginaldo Pimenta
Na foto maior, Antonio Olimpio, proprietário do Bar Sindicato do Vidigal, lamenta a queda constante de movimento. Ao lado, a Praia de São Conrado às moscas ontem, em pleno domingo de solReginaldo Pimenta
Por Fabio Perrotta Jr e *Rachel Siston
Rio - As fortes chuvas que provocaram o fechamento da Avenida Niemeyer 19 vezes este ano, deslizamentos de terra e os desabamentos no Túnel Acústico Rafael Mascarenhas e de trechos da Ciclovia Tim Maia castigaram não só um dos cartões postais do Rio, como também a economia da região. Comerciantes e moradores de São Conrado e Vidigal, na Zona Sul, sofrem com o abandono do poder público.
Funcionário do quiosque Sabores da Orla, na Praia de São Conrado, Cristóvão Gomes, 50 anos, conta que houve queda nas vendas desde que a Ciclovia Tim Maia desabou pela primeira vez. Segundo ele, outros quiosques da orla tiverem que fechar as portas.
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"O movimento caiu 90%. A praia está completamente abandonada e o prefeito não se importa. Desde a primeira vez que a ciclovia desabou o movimento caiu. Não estamos nem vivendo, estamos só sobrevivendo. Damos graças a Deus quando conseguimos pagar as contas."
Na foto maior, Antonio Olimpio, proprietário do Bar Sindicato do Vidigal, lamenta a queda constante de movimento. Ao lado, a Praia de São Conrado às moscas ontem, em pleno domingo de sol - Reginaldo Pimenta
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O pescador Jorge Márcio, de 39 anos, nasceu e cresceu no bairro. Segundo ele, a Praia de São Conrado já não recebe mais turista com frequência. "É a pior praia do Rio. Água extremamente poluída por conta do esgoto, lama que vira e mexe cai na Niemeyer. Ninguém quer vir pra cá."
Ele mesmo evita passar pela Avenida Niemeyer com a família por temer novas tragédias.
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"Deveriam fechar a Niemeyer de uma vez até ter uma solução. Não podem ficar abrindo a via e fechando toda vez que chove. O solo fica molhado por dias. E se deslizar sem chuva? Eu não passo com a minha família por lá. Como um lugar cheio de gente rica, magnatas, continua largada do jeito que está?", disse.
O abandono se reflete no lazer. A auxiliar de serviços gerais, Daniele Madureira, 37, frequenta a Praça São Conrado com a filha, Ana Julia, há um ano, e relata o descaso com o espaço.
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"Aqui está tudo quebrado e a Academia da Terceira Tdade está toda enferrujada. Ninguém vem aqui fazer uma manutenção, e não é um problema de agora. A gente espera que essa situação possa se resolver para as crianças poderem brincarem e terem um lazer. Porque a gente merece, paga imposto para isso", desabafou.
Contas a pagar
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No Vidigal, os reflexos econômicos dos sucessivos acidentes e tragédias também são sentidos. O dono do restaurante Sindicato do Vidigal, Antônio Olímpio, 43, conta que já pensou em deixar a comunidade. O problema é que, segundo ele, não é fácil se desfazer do investimento.
"A gente monta um negocinho para sobreviver e acontecem esses desastres. Cada dia complica mais, pois fica esperando vir gente que não vem. As contas chegam no final do mês e a gente não consegue dormir. Investi aqui, é o investimento de uma vida, e sair ou conseguir vender é difícil."
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A Prefeitura do Rio foi procurada para comentar as reclamações dos comerciantes e moradores. Porém, o posicionamento oficial por e-mail foi generalista. "A ciclovia Tim Maia está fechada por determinação judicial. A GeoRio aguarda a conclusão das obras de contenção da Avenida Niemeyer para decidir quais medidas poderão ser tomadas."
Rasgo da vegetação em direção à Niemeyer preocupa ambientalista - Arquivo Pessoal/ Mário Moscatelli
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Sem visitantes e sem remédio
Na rotina de interdições na Avenida Niemeyer afeta indiscriminadamente os negócios no bairro do Vidigal. Estabelecimentos não recebem mercadorias, serviços de transporte perdem usuários e até hospedagens fecham as portas. “A gente sempre tem movimento de turista no domingo e, em um dia bonito de sol como o de hoje (ontem), não tem ninguém”, lamentou Francisco de Assis, de 32 anos, que é mototaxista no Vidigal.
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Ele alegou que a clientela diminuiu porque as pessoas têm medo de novos deslizamentos na via. “Quem vinha no fim de semana, já não está mais vindo. Para nós, mototáxis do Vidigal, está muito devagar. É só chover que a gente acaba perdendo. O prefeito e o governador deveriam dar uma olhada especial para o Vidigal.”
Mariah da Graça Bordignon tomou uma medida mais drástica. Ela decidiu fechar as portas do Vidigal Hostel Bar última sexta-feira para fazer uma reforma e recuperar a clientela. Mariah diz que perdeu muitos hóspedes após as chuvas de fevereiro.
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“Tinha boas expectativas, mas, depois da chuva, elas foram a zero. Tenho lutado pelas minhas próprias mãos, a gente não tem para onde recorrer porque o Estado não tem a menor atenção com nada e com ninguém”, desabafou.
Com problemas na entrega de medicamentos, o balconista Rosenildo Ribas, de 51 anos, afirmou que a queda nas vendas da farmácia onde trabalha se agravou.”O movimento está indo ladeira abaixo e a gente está tendo problema porque chove, a Niemeyer fecha e o fornecedor não tem como chegar”, contou.
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Imagens aéreas revelam deslizamentos em diversas encostas da cidade
Fotografias feitas pelo ambientalista Mário Moscatelli revelam uma série de deslizamentos no Maciço da Tijuca, que atingem diversos bairros da cidade — da favela Chácara do Céu, na Zona Sul, ao Itanhangá, na Zona Oeste.
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Os flagrantes de rasgos nas encostas foram feitos no Alto da Boa Vista; Chácara do Céu, no Leblon; Pavão Pavãozinho, em Ipanema; Muzema, no Itanhangá e no Vidigal. Neste último, houve o deslizamento de uma extensa faixa de terra na encosta entre o Vidigal e a Avenida Niemeyer, como revela a imagem ao lado.
Para Moscatelli, mais uma chuva pode ser o suficiente para causar uma tragédia em diversas regiões. “Temos deslizamentos em todo o entorno do Maciço da Tijuca. Onde a chuva cair mais forte, correrá mais risco de desabar. É rezar para não cair”, diz.
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Segundo ele, o deslizamento que ocorreu na Gávea, culminando no desabamento do teto do Túnel Acústico Rafael Mascarenhas, também tem relação com a falta de contenção de encostas ao longo do Maciço. 
Procurada, a Prefeitura informou que a GeoRio realiza intervenções e vistorias diárias em todas as áreas da cidade. No início deste ano, 70 obras preventivas de médio e grande porte para contenção de encostas eram executadas. “Após as chuvas de fevereiro as ações de vistoria foram intensificadas com a necessidade de execução de 50 novas obras emergenciais, sendo 31 delas no maciço da Avenida Niemeyer”, diz trecho da nota.
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*Estagiária sob supervisão de Fernando Miragaya
 
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