Imagens aéreas feitas por Mário Moscatelli mostram deslizamentos críticos na área do Maciço da Tijuca. Na foto, comunidade de Ipanema - Divulgação / Mário Moscatelli
Imagens aéreas feitas por Mário Moscatelli mostram deslizamentos críticos na área do Maciço da Tijuca. Na foto, comunidade de IpanemaDivulgação / Mário Moscatelli
Por Luana Dandara*

Rio - A situação das encostas se tornou uma preocupação constante do carioca após os recentes desastres. De cima, a vista é ainda mais assustadora. Imagens aéreas feitas no mês passado pelo ambientalista Mário Moscatelli mostram deslizamentos críticos na área do Maciço da Tijuca, que engloba bairros como Jardim Botânico, Itanhangá e as comunidades do Rio das Pedras e Vidigal. O panorama acende o sinal de alerta para a necessidade de ações de contenção, fiscalização e controle das habitações por parte da prefeitura. Ontem, o município anunciou investimento de R$ 112 milhões em reformas de viadutos, passarelas e túneis.

"Toda a parte costeira do Maciço da Tijuca foi muito castigada durante as últimas chuvas. O trecho entre o Rio das Pedras até o Jardim Botânico é o mais impactado. Há tragédias programadas", adverte Moscatelli. "O que falta são ações emergenciais nas encostas, não apenas remoção de sedimentos. Os deslizamentos na cidade sempre aconteceram. Só foram agravados pela urbanização desordenada. Cabe à prefeitura não permitir maior crescimento vertical e horizontal das favelas e realocar moradores de áreas de risco", acrescenta.

Leonardo Becker, engenheiro civil e professor da Escola Politécnica da UFRJ, concorda. "Como no Rio a população vive espremida entre as rochas e o mar, as encostas são cada vez mais ocupadas. Nossa sociedade está habitando lugares que constantemente sofrem com desabamentos, desde antes de Cabral chegar ao Brasil", argumenta.

INVESTIMENTO EM PESQUISA

Estudioso há anos da instalação de contenções em deslizamentos de terra, Becker acredita que a primeira medida necessária para a prevenção dos desastres é o investimento em pesquisas. "É preciso começar por estudos que mostrem os pontos mais instáveis da cidade, para saber onde agir. Até porque o dinheiro é curto e os problemas são muitos. Não dá para se iludir, achando que os deslizamentos podem ser resolvidos rapidamente".

VISITAS EM PONTOS SENSÍVEIS

Nesta terça-feira, O DIA visitou três pontos considerados críticos em relação às encostas com o engenheiro civil Leonardo Becker. Na Avenida Niemeyer, foram identificados pontos de obras e contenções visíveis. "As obras estão sendo feitas. Mas é muita encosta que pode sofrer deslizamento. É um local íngreme e as rochas molhadas mostram que há água da chuva acumulada no solo. Isso deve ser priorizado", alerta. Moscatelli é ainda mais incisivo: "A ordem aqui em casa é evitar a Niemeyer com sol ou chuva, pois aquele barranco vai continuar descendo".

NO TÚNEL REBOUÇAS

No Túnel Rebouças, a situação também não foi positiva. Entre as duas galerias, as contenções que seguram as rochas estão cobertas por vegetação, evidente falta de manutenção da prefeitura. "Estruturas de contenção não podem ter vegetação em cima, pois fissuras ou corrosões não poderão ser visíveis. A estrutura tem vida útil e precisa ser inspecionada frequentemente", explica Becker.

Já no Túnel Acústico Rafael Mascarenhas, o especialista indica o problema: a estrutura construída ao lado da encosta não tem capacidade de suportar peso de deslizamentos de solo na estrutura, como aconteceu no acidente na sexta.

ESPECIALISTA APONTA SOLUÇÕES

Segundo Becker, a instalação de redes metálicas para conter deslizamentos é uma boa alternativa para encostas, apesar de caras. No Túnel Acústico, o engenheiro indica a construção de uma parede de concreto superior para segurar massa de solo que eventualmente escorregue.

Nesta terça-feira, a prefeitura informou que técnicos da Geo-Rio realizam uma vistoria no Acústico para investigar as possíveis causas do acidente. Um muro de impacto foi instalado.

Também foi anunciado, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação, a reforma de 11 passarelas, cinco viadutos (incluindo a Ponte da Barra) e três túneis: Rebouças, Rafael Mascarenhas e Zuzu Angel. As obras têm o valor de R$ 112 milhões — R$ 97 milhões deles são destinados apenas para as reformas dos túneis. O órgão acrescentou que já deu início ao processo de licitação. A previsão é de até 90 dias para o início das intervenções.

*sob supervisão de Clarissa Monteagudo

Você pode gostar
Comentários