“Naquela noite eu só tomei duas taças de vinho e não me lembro de nada, por isso acredito que tenha sido drogada. Mas não foi feito nenhum exame toxicológico para comprovar minha situação. Além disso, também foram encontradas no meu apartamento quatro camisinhas usadas. Mas também não passei por nenhum exame para saber se tinha sido estuprada. Tudo indica que sim, mas nem tenho nenhuma prova para anexar ao meu processo”, relatou.
O advogado que assessora Eliane, Evandio Bianor Filho, também pontuou que a realização desses exames ajudaria na condenação do agressor. “Quando a mulher é agredida ela não tem discernimento ou capacidade de averiguar o tamanho do dano e o que é necessário ser feito, mas o Estado tem essa obrigação. Por isso deveriam ser criados protocolos que determinassem atitudes dos médicos para que a efetividade na condenação lá na frente seja melhor”, afirmou.
A presidente da CPI, deputada Martha Rocha (PDT), explicou que os exames não foram feitos porque a vítima foi hospitalizada, e concordou que não existe um protocolo de exame na rede de saúde para mulheres que sofrem tentativa de feminicídio.
Apoio jurídico e psicológico
Elaine também enfatizou que é preciso ter apoio jurídico e psicológico oferecido pelo estado. “Muitas mulheres não tem condição de voltar pra casa. Mesmo não sendo casada com o Vinícius e sabendo que ele não estaria na minha casa quando eu voltasse, eu não tive condição de retornar ao meu apartamento. Emocionalmente eu não queria ficar lá. Agora, imagina mulheres que dividem a mesma casa com o agressor e não tem para onde ir? O Estado precisa dar suporte para essas mulheres”, disse.
Oftalmologista, dentista e nefrologista foram alguns dos especialistas que Elaine também teve que procurar para tentar se recuperar fisicamente. “Os gastos que ainda tenho com esses médicos é altíssimo. Por sorte eu tenho plano de saúde, mas me questiono se muitas mulheres teriam as condições necessárias para realizar esses tratamentos que demandam recursos e tempo”, complementou.
Informar a população
Elaine acredita que é necessário mais investimento em campanhas publicitárias para alertar à população. “Esses sociopatas são treinados muito bem. Eu tive uma falsa impressão de que eu já o conhecia e por isso fui ingênua. O sociopata sabe como enganar. Mas a população também precisa mudar a mentalidade e parar de acreditar que em briga de marido e mulher não deve meter a colher”, afirmou. Elaine exemplificou que no seu caso uma vizinha do prédio ao lado ouviu os gritos, foi até a portaria, comunicou ao porteiro e ele disse que não iria se envolver em briga de casal.
No final, o sofrimento se transformou em luta e agora, militar no combate aos crimes de feminicídio se tornou a nova bandeira da carioca.“Esse foi um crime de ódio. Ninguém pode ajudar mais do que quem saiu de uma situação como essa. Estar viva para mim é um milagre. É muito difícil passar por isso, mas percebi que tenho muito que contribuir no combate a esses crimes. Muita coisa ainda precisa melhorar. Recebi muitos relatos de mulheres que foram na delegacia, fizeram denúncias e nada aconteceu. Muitas com medida protetiva que não são cumpridas. Isso prova que precisamos de leis mais rígidas”, concluiu Elaine. Estiveram na reunião as deputadas Mônica Francisco (PSol), Zeidan Lula (PT), Rosane Felix (PSD) e o deputado Chicão Bulhões (Novo).