Alunos abrigados no corredor   - Reprodução OTT-RJ
Alunos abrigados no corredor Reprodução OTT-RJ
Por ADRIANO ARAÚJO
Rio - "Eu pensava que ia morrer ali. Foi horrível", assim descreveu a estudante Raíssa Silva, de 19 anos, os momentos de pânico de alunos e funcionários do Colégio Estadual Tim Lopes, que fica na Estrada do Itararé, no Complexo do Alemão, durante um intenso tiroteio na comunidade na noite desta terça-feira. Ela fazia uma prova quando começaram os tiros e todos tiveram que procurar abrigo, ficando cerca de um hora no corredor até cessarem os disparos. A imagem foi compartilhada pela página Onde Tem Tiroteio (OTT-RJ).

"Eu estava fazendo prova quando ocorreram os primeiros disparos, por volta das 20h. Eles pararam, mas em seguida foi uma rajada, um atrás do outro. Todo mundo foi para o corredor, pois nas salas as janelas são de vidro. Outras pessoas se trancaram no banheiro. Foi um desespero", contou.

A aluna do terceiro ano do ensino médio e moradora do Alemão disse que o diretor da unidade escolar reuniu os estudantes e funcionários, abrigando todos no chão do corredor do segundo andar do colégio. Havia muita gritaria e algumas pessoas passaram mal. Ela conta que a situação nunca tinha acontecido no Tim Lopes, mas disse que passou muitas coisas na sua cabeça, inclusive que poderia morrer.

"Ficamos uma hora naquele desespero. A subida da rampa dá de frente para a Alvorada (localizada do Alemão), então estava com medo que entrassem ali. Eu só pensava que não iria para casa, que ia dormir ali, não tinha como ir embora com aquele tiroteio. Era uma rajada atras da outra. Eu pensava que ia morrer ali dentro. Foi horrível", lembra. A estudante acredita que os tiros começaram na Estrada do Itararé, onde um ônibus foi atingido por disparos, e em seguida continuaram na Alvorada.

Raíssa conta que cerca de uma hora depois, após finalmente cessarem os disparos, o diretor do colégio descem com os alunos para o auditório, onde ainda ficaram durante um tempo e em seguida foram liberados. Entretanto, o trauma permanece por ter que voltar para o colégio. "Eu estou até com medo de ir pra escola o restante da semana", disse.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que a interrupção de aulas na rede estadual, quando necessária, foi pontual e eventualmente em período parcial, sem prejuízos educacionais. Os conteúdos perdidos foram repostos, de acordo com o planejamento elaborado pela direção, sob a supervisão das Diretorias Regionais da pasta.

"No entanto, cabe informar que há um protocolo estabelecido em reunião com a presença do Ministério Público, Defensoria Pública, Conselho Tutelar, Policia Civil, Polícia Militar, Secretaria de Estado de Saúde e equipe técnica da Seeduc, de atuação imediata em caso de violência nas escolas. Assim que constatado qualquer ato infracional ou ameaça à integridade da comunidade escolar, a direção da unidade deverá acionar imediatamente a Polícia Militar e o Conselho Tutelar", disse no texto. 

Ainda segundo a Seeduc, o governo lançou em abril o Programa Cuidar. No caso do Colégio Estadual Tim Lopes, a Secretaria de Estado de Educação esclareceu que a direção das unidades escolares, dentro de sua autonomia, adota procedimentos específicos, de acordo com a realidade local, visando garantir à integridade física de alunos e funcionários. Ninguém ficou ferido. Nesta quarta-feira, as aulas ocorreram normalmente.
Publicidade
A Polícia Militar informou que PMs da UPP Adeus que faziam patrulhamento pelas Ruas Arapá e Aquiri foram atacados a tiros por criminosos. Ainda segundo a secretaria, bandidos que também estavam do outro lado da Estrada do Itararé atiraram contra os militares. Houve confronto, mas os traficantes fugiram. A corporação diz que não há registro de feridos ou presos na ação. O caso foi registrado na 21ª DP (Bonsucesso).
Durante o tiroteio, um ônibus que passava pela Estrada do Itararé também foi atingido por disparos. Os disparos atingiram o vidro da frente do veículo e uma janela lateral, mas não há informações sobre feridos. A linha seria a 485 (Pilares-Caxias), da Transporte Fábio's. A reportagem entrou em contato com a empresa e com a Fetranspor, mas ainda não obteve retorno.